Notícias de duas pesquisas: idéias lingüísticas e governo JK

Resumo

Nos anos 50 do século XX, mais especificamente durante o governo de Juscelino Kubitschek, é possível observar o funcionamento político do simbólico em termos de conflitos sobre a língua nacional e, ao mesmo tempo, podem ser depreendidas formas de inscrição de políticas lingüísticas nas práticas discursivas de intelectuais, gramáticos e escritores. Mais uma vez, na história da língua portuguesa no Brasil, estavam em jogo processos discursivos de significação da identidade da língua falada no Brasil como língua nacional. Ao mesmo tempo, estava em jogo também a construção de imagens da sociedade nacional. Observações iniciais sobre essa temática nos remetem para um vasto campo discursivo, que inclui a construção de discursividades diferenciadas sobre a língua nacional, discursividades muitas vezes excludentes entre si, inclusive em função de suas práticas específicas. Para este trabalho, circunscrevemos a questão em torno da Academia Brasileira de Letras e dos Congressos de 56 - Primeiro Congresso Brasi-leiro de Língua Falada no Teatro - e de 58 - Primeiro Congresso Brasileiro de Dialectologia e Etnografia -, e tomamos como referencial teórico reflexões que remetem tanto para o conhecimento da(s) língua(s) como sobre a(s) língua(s), além, é claro, da relação entre a heterogeneidade lingüística e a formação de uma sociedade. São reflexões que supõem perguntas e respostas situadas no entremeio de diferentes campos do conhecimento, destacando-se, sobretudo, a análise do discurso de linha francesa (Pêcheux, 1994 e Orlandi, 2002), os estudos literários e históricos (cf. Mota, 1980) e a epistemologia dos estudos da linguagem (Auroux, 1992 e 1998).