
Maria Elizabete Souza Couto, Priscila Alves Pereira
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v. 29, n. 1, Passo Fundo, p. 353-374, jan./abr. 2022 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
aos 8 anos de idade), uma vez que essa limitação tende a desconsiderar o desenvolvi-
mento cognitivo e linguístico da criança que varia a depender de vários fatores (acesso
à cultura escrita, incentivo familiar, ingresso precoce à escola, não acesso à educação
infantil, problemas neurológicos, entre outros). Soares (2016, p. 345, grifo da autora)
chama a atenção para “o uso do advérbio até, que ressalta que se determina um tempo
máximo, não se impõe um tempo necessário”. Compreende-se que essa meta pretende
garantir que a aquisição de um direito básico à cidadania, o domínio da leitura e da
escrita, seja efetivado por aqueles pertencentes, principalmente, às camadas populares
da sociedade, vítimas de desigualdades.
Nesse sentido, é preciso considerar a desigualdade de oportunidades inerente aos
aspectos histórico, social, político, econômico, cultural e educacional no Brasil e, mais
uma vez, Soares (2016) faz um alerta quanto às
[...] razões de natureza social e política para determinar não propriamente o ‘término’ desse
processo, mas o nível mínimo de domínio da escrita que os sistemas devem assegurar às crianças
a fim de que tenham condições de prosseguir em sua escolarização e, sobretudo, em sua formação
para a cidadania, para a vida social e profissional – assegurar a sua entrada no mundo da cultura
escrita (SOARES, 2016, p. 345, grifo da autora).
Dessa forma, definir um período de três anos para que as crianças se apropriem
do Sistema de Escrita Alfabética (SEA) é uma maneira de minimizar a desigualdade em
relação à autonomia do cidadão em uma sociedade letrada, ou seja, garantir que,
minimamente, as crianças das camadas populares tenham domínio da escrita e da
leitura para inserção nas práticas sociais que exigem o uso dessas habilidades.
Atualmente, com a aprovação da Base Nacional Curricular Comum (BNCC), a
proposta contida no documento seria a redução do tempo previsto para a alfabetização
de três para dois anos:
Nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental, a ação pedagógica deve ter como foco a
alfabetização, a fim de garantir amplas oportunidades para que os alunos se apropriem do sistema
de escrita alfabética de modo articulado ao seu envolvimento em práticas diversificadas de
letramento (BRASIL, 2017, p. 55).
Essa ainda é uma orientação que demandará um tempo de adaptação das redes
de ensino quanto à organização do ciclo de alfabetização, em relação ao currículo. Per-
cebe-se que de 2012 até o momento, os sistemas de ensino estão sendo submetidos a
várias mudanças na tentativa de melhorar o processo de alfabetização. Entretanto, a
não consolidação de práticas pedagógicas inerentes a essas mudanças apresenta-se como
fator preocupante quanto à aprendizagem das crianças.