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ESPAÇO PEDAGÓGICO
v. 27, n. 1, Passo Fundo, p. 5-8, jan./abr. 2020 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
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progressivamente, por demandas imediatas do mercado de trabalho que deseja um
sujeito apassivado e serviçal.
A educação brasileira vive, portanto, uma tensão entre duas perspectivas dis-
tintas: uma republicana e outra privatista e mercadológica. Princípios republicanos
de uma educação pública, gratuita e laica amplamente discutidos desde a década
de 1920 pelos Pioneiros da Escola Nova são, progressivamente, desconstituídos.
Em contraposição a esses princípios republicanos, propostas fundamentalistas
ganham notoriedade. Fortalecem-se grupos empresariais interessados no investi-
mento em educação que defendem um Estado mínimo quando se trata de políticas
públicas. Institutos privados proliferam, passando a atuar em assessorias a redes
públicas de educação e assumem protagonismo no âmbito de políticas educacio-
nais, mesmo não tendo trajetórias e experiências históricas em educação formal.
Com base em discursos gerencialistas, defendem projetos e propostas educacionais
sem os pressupostos políticos e pedagógicos imprescindíveis para uma educação
emancipadora, humana e cidadã.
Nesse contexto, ocorrem inversões preocupantes: empresas privadas ganham
a simpatia de gestores públicos e conquistam espaços cada vez mais significativos
e, em contrapartida, instituições educacionais com trajetórias consolidadas cuja
natureza é a própria educação, são desqualificadas. Esse quadro produz, entre edu-
cadores, uma sensação de impotência para fazer frente aos complexos processos
socioculturais, políticos e educacionais da sociedade, vivenciados cotidianamente
nas escolas.
Colocar em pauta o tema da privatização da educação constitui-se, portan-
to, num compromisso fundamental de educadores comprometidos com o caráter
republicano da educação. A Revista Espaço Pedagógico insere-se nesse processo
de discussão. Para tanto, conta com a contribuição de pesquisadores de diferentes
instituições, do Brasil e do exterior para qualificar esse debate.
Os três primeiros artigos do dossiê trazem o olhar estrangeiro de autores
que, desde a Argentina, México e Portugal, investigam os avanços da privatização
da educação. No primeiro artigo, Estela Maria Miranda aborda La política edu-
cativa como negocio. Ajuste presupuestario, discurso meritocrático y el “davos” de
la educación en Argentina (2015-2019). Em seguida, os autores mexicanos Jaime
Moreles Vázquez e Sara Aliria Jiménez García, tratam da Transversalidad y priva-
tización de la educación en México a partir de dos casos. A pesquisadora portuguesa
Dora Maria Ramos Fonseca apresenta o artigo intitulado A avaliação das organi-
zações educativas e a regulação pelo discurso gestionário.