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ESPAÇO PEDAGÓGICO
v. 27, n. 1, Passo Fundo, p. 65-88, jan./abr. 2020 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
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Estado, mercado e formas de privatização: a inuência dos think tanks na política educacional brasileira
O predomínio das despesas está na faixa “operacional”, no entanto, não é onde
se evidencia a maior concentração de gastos, já que nos relatórios de exercício os
eventos são as atividades que prevalecem no Instituto Millenium. Os referidos re-
latórios de exercício, disponíveis para consulta, limitam-se à exposição dos eventos
promovidos e/ou apoiados pela organização, com dados como: nome do evento, data,
público presencial, palestrante e tema. Não há um detalhamento de onde vêm os
recursos, quem são os doadores ou apoiadores.
Interessa particularmente a este estudo destacar o “IMIL na sala de aula” que
são atividades realizadas no interior de instituições de ensino superior no país,
com o objetivo de “discutir com os jovens valores como liberdade, Estado de direi-
to, economia de mercado e democracia” (INSTITUTO MILLENIUM, 2018). São
atividades promovidas gratuitamente pelo Instituto Millenium para possibilitar
o encontro entre “especialistas de sua rede e alunos dos cursos de graduação”. A
especificidade de um think tank de difundir valores e formar a opinião pública
– contrariando a pretensa neutralidade – se explicita nesta declaração: “O Insti-
tuto Millenium acredita que é de fundamental importância difundir seus valores
entre o público jovem, pelo seu importante papel na construção de um Brasil mais
próspero e jovem” (INSTITUTO MILLENIUM, 2018). A CEO da organização, faz
algumas considerações ao avaliar essa ação do Instituto.
O Imil na sala de aula é o meu “bebê”. É um projeto que eu criei em 2011 para o Instituto
Millenium. Antes de virar CEO do Instituto, dava palestras para universidades, lidava
diretamente com jovens, e percebia que faltava conteúdo em sala de aula, até nas apresen-
tações dos professores, para que pudessem debater qualquer assunto. Por exemplo, direitos
humanos, microeconomia. Havia um déficit de conteúdo tanto material quanto oral. Os
professores só tinham uma visão estabelecida. Entravam em sala de aula, só pas-
savam essa visão e os alunos compravam a ideia, mas no fundo ficavam em dúvida se só
tinha isso mesmo funcionando no Brasil. Como tínhamos uma rede de 120 especialistas
no Instituto Millenium, nos perguntamos sobre e por que não convidar essas pessoas para
palestrar nas salas de aula. Muitos não são professores, sequer palestrantes, mas
são especialistas, técnicos na área em que atuam. Essas pessoas podiam entrar em
sala de aula e conversar, por exemplo, sobre o que é o tripé econômico, o que é a liberdade
de expressão, o que são as fake news. O alvo inicial eram as universidades públicas, tanto
federais quanto estaduais. Mas o projeto ficou de tal tamanho que até os particulares co-
meçaram a convidar o Instituto Millenium a entrar. O nosso relacionamento é direta-
mente com os alunos: a gente não passa pela burocracia da reitoria, de conversas
com mil departamentos entre universidades. Não é essa a proposta (PINTO, 2018,
grifo nosso).
Esse é um dado que merece reflexão, pois nas instituições públicas de ensino
superior os eventos são, normalmente, discutidos, analisados e avaliados em várias
instâncias, justamente para assegurar tanto o conhecimento e o registro, quanto