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ESPAÇO PEDAGÓGICO
v. 27, n. 1, Passo Fundo, p. 131-146, jan./abr. 2020 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
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O lugar das práticas curriculares diante do avanço da lógica privada sobre o setor público: o Emiti em Santa Catarina
Nessa fala, também há um aspecto contraditório, pois, ao mesmo tempo em
que o professor B afirma que é possível “reelaborar as aulas”, ele também relata
que isso deve ser feito “dentro do assunto, não fugindo muito”. Por meio dessa
contradição nota-se que pode estar faltando clareza no tocante ao que representa
a presença do IAS na escola, uma vez que o Instituto elabora todos os cadernos e
define o papel do professor, implicando limitação da prática e da autonomia curri-
cular docente. Dessa forma, o professor não é o protagonista da decisão curricular
e acaba tornando-se um executor de tarefas.
Morgado (2003) define autonomia curricular como sendo a possibilidade de os
professores tomarem decisões no âmbito do desenvolvimento curricular, tanto no
que diz respeito à adaptação ao currículo prescrito quanto às necessidades de seus
alunos e às especificidades do contexto no qual a escola está inserida. Isso ocorre
numa perspectiva de territorialização das políticas educativas na escola. A auto-
nomia curricular, tanto da escola como do professor, efetiva-se quando o currículo
é considerado um projeto, com a possibilidade de construir intenções pensadas de
forma colegiada. Esse processo é sempre permeado pelas tensões e contradições,
necessárias e pertinentes (MORGADO, 2011).
Para o mesmo autor, decisões coletivas de o que, para quem, quando e como
ensinar e avaliar são imprescindíveis. Com isso, é possível mobilizar os docentes
em torno dos objetivos de cada área do saber, entendidos também como “capa-
cidades, atitudes e competências a desenvolver pelos estudantes, bem como dos
modelos metodológicos que devem presidir ao desenvolvimento dos processos de
ensino-aprendizagem” (MORGADO, 2011, p. 397). Além desses aspectos, a parti-
cipação dos professores na elaboração do projeto faz com que a escola se torne um
local de reconstrução do currículo, e não apenas o de implementação de algo pres-
crito. Portanto, a implementação de um projeto como o do Instituto Ayrton Senna
pode limitar a autonomia curricular, comprometendo a construção de um projeto
educacional coletivo e democrático.
Para reforçar essa visão, há que se considerar também o relato do professor C:
A gente tem esse... essas OPAs [Orientações para Planos de Aula], que são as apostilas que
vêm do Instituto que, como eu falei para ti, é o esqueleto, e aí a gente tem suporte dos livros
didáticos que vêm, e aí a gente senta, conversa, internet. A gente procura amarrar de todos
os lados para fazer esse planejamento, mas vem um suporte já, um esqueleto mais ou menos
pronto do Instituto Ayrton Senna, e aí a gente vai inserindo outras atividades, vai enriquecendo
com vídeos, com links, então você vai conseguindo fazer esse processo todo. É bem legal.