
Iduméa de Souza Fernandes Ramos, Ilsa do Carmo Vieira Goulart
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v. 29, n. 3, Passo Fundo, p. 944-959, set./dez. 2022 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
Entretanto, Freire (1987, p. 30) esclarece que ações diversas atuam de maneira
opressora neste processo, como a injustiça, a exploração, a opressão, a violência, a in-
diferença, a impaciência, o desprezo, a raiva, a falta de diálogo, entre outras, que,
segundo o autor, negam a vocação a que fomos chamados: a vocação a ser homem.
Percebida como a ação de latrocínio da humanidade, a desumanização refere-se às “[...]
próprias atitudes dos sujeitos que retiram dele a condição de ser humano”, conforme
salienta Goulart (2016, p. 714).
Nesse sentido, Freire (1987, p. 69) destaca que “[...] ninguém liberta ninguém,
ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão”. É na relação dialó-
gica, no diálogo crítico e libertador, ou seja, na dialogicidade da educação, que Freire
descreve e sustenta seu método educativo. Para o autor, é na comunhão, por meio do
diálogo como fenômeno particularmente humano, que os homens se pronunciam uns
aos outros, pois “[...] não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no
trabalho, na ação-reflexão” (FREIRE, 1987, p. 69).
A perspectiva de Freire (1987) abre duas vertentes argumentativas que, embora
distintas, estão intimamente inter-relacionadas, uma refere-se ao diálogo como uma
exigência existencial, como caminho pelo qual os homens ganham significação en-
quanto homens. Trata-se da palavra enquanto linguagem, modos de expressividade que
remete ao encontro “[...] em que se solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos ende-
reçados ao mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato e
depositar ideias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples troca de ideias
a serem consumidas pelos permutantes” (FREIRE, 1987, p. 109).
Entretanto, deve ser uma troca dialética do conhecimento, de saberes, de experi-
ências. Nessa perspectiva, o trabalho docente precisa primar o diálogo, não como
simples troca de ideias, mas como uma necessidade humana fundada no amor, na hu-
mildade, na fé nos homens, ancorados na confiança e na esperança. A compreensão de
esperança não se refere a uma ação de indiferença, de impassibilidade, de cruzar os
braços e esperar, visto que, para Freire (1987, p. 82), representa vivacidade, em que
“[...] movo-me na esperança enquanto luto e, se luto com esperança, espero”.
Assim, depreende-se pelo discurso de Freire (1987) que a verdadeira educação é
firmada no diálogo, na superação da contradição entre educandos-educador, partindo
sempre das experiências, conhecimentos dos educandos, para a construção de novos
conhecimentos vinculados a sua cultura, mediatizados pelo mundo.
A verdadeira educação autêntica, conforme propõe Freire (1987, p. 84) “[...] não
se faz de A para B ou de A sobre B, mas de A com B, mediatizados pelo mundo”. As
considerações de Freire (1981; 1987) assinalam que nenhuma prática educativa ocorre