
Política de identidade e de reconhecimento em Taylor e Honneth
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v. 29, n. 1, Passo Fundo, p. 149-176, jan./abr. 2022 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
no entanto, o fato é que Fichte o precedeu, e, antes dele, o filósofo Rousseau. Come-
çou-se a falar sobre reconhecimento no momento em que se colocaram as bases
expressivas da concepção de identidade moderna. Este fato dá testemunho da radical
falta de autossuficiência do ser humano nesse terreno. Não podemos nos definir a nós
mesmos, temos a necessidade de construir nosso espaço moral com vista a ser reconhe-
cido pelos outros (TAYLOR, 1996). A partir do momento em que se aspira a definir-
se, reconhecer-se, sobretudo de forma original se abre uma falha (ou, talvez uma bre-
cha) possível entre o que pretendemos e o que os demais estão dispostos a nos outorgar
(entregar, dar, oferecer). É o espaço do reconhecimento exigido, porém, suscetível de
ser rejeitado.
Segundo Taylor (1998), para compreender a relação entre identidade e reconhe-
cimento, é preciso observar o aspecto distintivo da condição humana: o papel da
linguagem na constituição da intersubjetividade. Nessa visão, só nos tornamos agentes
verdadeiramente humanos, configuramos nosso espaço moral, compreendemos bem
nossa identidade e reconhecemos os outros à proporção que adquirimos linguagens
ricas em significado e somos introduzidos no mundo das representações. A subjetivi-
dade repousa sob caráter essencialmente dialógico. Por essa dimensão Taylor entende:
[...] defino linguagem no sentido lato, abarcando não só as palavras que proferimos, mas também
outros modos de expressão, através dos quais nos definimos, incluindo ‘linguagens’ da arte, do
gesto, do amor, e outras do género. As pessoas não aprendem sozinhas as linguagens necessárias
à autodefinição. Pelo contrário, elas são-nos dadas a conhecer através da interacção com aqueles
que são importantes para nós – os ‘outros-importantes’, como George Herbert Mead lhes cha-
mou. A formação da mente humana é, neste sentido, não monológica, não algo que se consiga
sozinho, mas dialógica (TAYLOR, 1998, p. 53).
Apoiando-se na contribuição de autores como Mead, Gadamer e Bakhtin, Taylor
(1998) aposta em uma noção dialógica da identidade, argumentando que a formação
humana não pode ser entendida como uma entidade homogênea e monológica. A con-
tribuição dos outros-importantes que começa quando nascemos no mundo prolonga-
se durante toda nossa vida. Nossos pais ou tutores com os quais aprendemos a negociar
nossa identidade nos acompanham mesmo depois de nos terem deixado. Por isso, a
identidade não é algo que nos dedicamos sozinhos, mas um ideal, por vezes, comparti-
lhado, dialogado e negociado.
A identidade constitui horizonte moral, sendo, simultaneamente, uma forma as-
sumida voluntariamente pelo indivíduo e um objeto de busca por reconhecimento.
Para Taylor (1996), o ideal de reconhecimento como objeto da identidade pertence,
ao mesmo tempo, ao indivíduo e à coletividade, pois ambos são inseparáveis, só temos