
Hedi Maria Luft, Kátia Aparecida Dias Peroty
253
v. 29, n. 1, Passo Fundo, p. 248-264, jan./abr. 2022 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
Diante do que foi percebido por meio dos sentidos, relatamos situações observa-
das dentro da escola de tempo integral, aproximando, assim, teoria e prática,
desvelando os fatos pela aproximação com as crianças e com a realidade de seu cotidi-
ano. Nem tudo foi possível ver, ouvir, sentir ou descrever. Trazemos na pesquisa,
porém, um recorte do olhar pesquisador que está também se constituindo durante o
caminho percorrido. Pretendemos, aqui, desvelar, modestamente, o que observamos
ao longo desta trajetória, com o intuito de revelarmos parte do universo infantil diante
do complexo processo de efetivação do tempo integral na escola.
A fim de mantermos o anonimato das crianças na pesquisa, elas são representadas
por personagens das histórias de Monteiro Lobato: Narizinho, Pedrinho, Quindim,
Emília e Cuca. A pesquisa participante, portanto, é de cunho qualitativo, posto que
analisou os relatos das crianças bem como fotos e falas transcritas.
Inicialmente, o ponto de partida foi formalizarmos o acesso junto a direção da
escola e respectiva Secretaria Municipal de Educação, pois, na concepção de Viégas
(2007, p. 111), “sem dúvida, a entrada em campo requer do pesquisador delicadeza no
trato com a escola”. Em seguida, foi a vez do contato mais formal com os alunos e suas
famílias. Viégas (2007, p. 110-111) aponta essa necessidade:
[...] se a pesquisa envolve a participação de alunos, é fundamental apresentá-la a eles e às suas
famílias, partindo do princípio ético de que é imprescindível fazer-se claro para todos os envol-
vidos no estudo. No caso de crianças, a apresentação formal da pesquisa (muitas vezes em frente
à sala de aula) deve ser temperada com ludicidade. Para suas famílias, a apresentação da pesquisa
pode ser tanto presencial quanto por escrito.
A pesquisa referiu-se à inserção da criança dentro da escola de tempo integral,
sua perspectiva quanto à organização do tempo escolar, e, em especial, ao contraturno
e ao que é feito com ela neste período. Por isso, a partir da observação dos alunos
iniciamos um estudo etnográfico.
3
Como forma de registro, utilizamos um diário de
campo, com registros de cenas cotidianas e gravações de falas das crianças. Quanto ao
objeto e o olhar do pesquisador, Sarti (2010, p. 19) destaca:
Talvez a primeira experiência do pesquisador de campo – ou no campo – esteja na domesticação
teórica de seu olhar. Isso porque, a partir do momento em que nos sentimos preparados para a
investigação empírica, o objeto, sobre o qual dirigimos nosso olhar, já foi previamente alterado
pelo próprio modo de visualizá-lo.
É condição fundamental na etnografia estar presente e observar, em tempo real,
o que acontece na sala de aula sem intervir sobre a realidade, apenas tentando captá-la
tal qual ela é, conforme concebe Sirota (1994, p. 39): “observar já é estruturar nossa