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Perspectivas no futuro educacional da Bahia: breves relatos de educadores em tempos de Covid-19
v. 28, n. 2, Passo Fundo, p. 551-572, maio/ago. 2021 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
* Doutora em Educação (FAE/UFMG). Professora Adjunta do Departamento de Ciências da Educação (DCIE), na Univer-
sidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Professora no Programa de Pós-Graduação – Mestrado em Formação de Profes-
sores para a Educação Básica (DCIE/UESC). Coordenadora do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação e Ciências
Humanas (CEPECH). Coordenadora do Grupo de Estudos Movimentos Sociais, Diversidade e Educação do Campo
(GEPEMDEC/CEPECH) (DCIE/UESC). Orcid: https://orcid.org/0000-0003-0217-3805. E-mail: arlerp@hotmail.com
** Mestre em Educação no PPGEd-UESB. Graduado em Pedagogia e em Tecnologia Gestão Ambiental. Especialista em
Inovação Social com Ênfase em Economia Solidária e Agroecologia/IF Baiano. Especialista em Supervisão Escolar e
Coordenação Pedagógica com Ênfase em Educação Especial e Inclusiva, Faculdade Montenegro. Professor do Colé-
gio Estadual Sinésio Costa (CESC), Riacho de Santana, BA. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-2856-1219. E-mail: tony.
dom1987@gmail.com
Recebido em: 14/06/2020 – Aprovado em: 12/08/2021
http://dx.doi.org/10.5335/rep.v28i2.11181
Perspectivas no futuro educacional da Bahia: breves relatos de educadores em
tempos de Covid-19
Perspectives in Bahia’s educational future: brief reports from educators in Covid-19 times
Perspectivas en el futuro educativo de Bahia: cortos informes de los educadores em tiempos
de Covid-19
Arlete Ramos dos Santos*
Antônio Domingos Moreira**
Resumo
O presente trabalho teve como objetivo discutir as perspectivas para o futuro educacional do ensino médio no
estado da Bahia, no momento de pandemia do coronavírus vivenciado em 2020. A pesquisa traz uma discussão
a partir da tentativa de aproximar e identicar algumas características da educação tecnológica, remota e a
distância no atual contexto de crise com a propagação da Covid-19. Adotamos a pesquisa qualitativa, cujo ins-
trumento de coleta de dados foi questionário com educadores que são servidores das escolas de ensino médio
da Bahia, os quais relatam experiências vivenciadas no atual contexto educacional em que trabalham. Os dados
demonstram que as políticas públicas certamente começarão a avançar no que se referem ao ensino online, em-
bora exista a necessidade de que elas se tornem acessíveis para todos. Isso envolve múltiplos aspectos: viabilizar
o acesso a computadores e internet, capacitar gestores, professores e pais de famílias, desenvolver materiais
adequados, dentre outros.
Palavras-chave: Covid-19; ensino remoto; políticas públicas.
Abstract
The present work aimed to discuss the perspectives for the educational future of high school in the state of
Bahia, at the time of the coronavirus pandemic experienced in 2020. The research brings a discussion from the
attempt to approximate and identify some characteristics of technological education, remote and from distance
in the current context of crisis with the spread of Covid-19. We adopted qualitative research, whose data collec-
tion instrument was a questionnaire with educators who are employees of high schools in Bahia, who report
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experiences in the current educational context in which they work. The data demonstrate that public policies
will certainly begin to advance with regard to online education, although there is a need for them to become ac-
cessible to all. This involves multiple aspects: enabling access to computers and the internet, training managers,
teachers and parents of families, developing appropriate materials, among others.
Keywords: Covid-19; remote teaching; public policy.
Resumen
El presente trabajo tuvo como objetivo discutir las perspectivas para el futuro educativo de la escuela secundaria
en el estado de Bahía, en el momento de la pandemia de coronavirus experimentada en 2020. La investigación
trae una discusión que empieza del intento de aproximar e identicar algunas características de la educación
tecnológica, remota y a distancia en el contexto actual de crisis con la difusión de Covid-19. Adoptamos una
investigación cualitativa, cuyo instrumento de recolección de datos fue un cuestionario con educadores que son
empleados de escuelas secundarias en Bahía, quienes informan experiencias vividas en el contexto educativo
actual en el que trabajan. Los datos muestran que las políticas públicas ciertamente comenzarán a avanzar con
respecto a la educación en línea, aunque es necesario que sean accesibles para todos. Esto implica múltiples
aspectos: permitir el acceso a computadoras e internet, capacitar a gerentes, maestros y padres de familia, de-
sarrollar materiales apropiados, entre otros.
Palabras clave: Covid-19; enseñanza a distancia; políticas públicas.
Introdução
A presente pesquisa traz discussões sobre os desafios e as transformações que
o estado da Bahia vem sofrendo com a crise da pandemia da Covid-19, que vem
assolando todo o contexto mundial. A crise sanitária em escala mundial causada
pelo vírus da Covid-19 tem provocado desdobramentos incalculáveis em todas as
esferas da vida humana. A educação escolar, enquanto parte constituinte desse
processo, tem sofrido diretamente os impactos desse cenário. Com o fechamento
das escolas, cerca de 1,5 bilhão de estudantes estão sem aulas presenciais em 188
países, segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo o
Ministério da Saúde (BRASIL, 2020, não paginado):
A COVID-19 é uma doença causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, que apresenta um qua-
dro clínico que varia de infecções assintomáticas a quadros respiratórios graves. De acordo
com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a maioria dos pacientes com COVID-19 9cer-
ca de 80 %) podem ser assintomáticos e cerca de 20 % dos casos podem requerer atendimen-
to hospitalar por apresentarem dificuldade respiratória e desses casos aproximadamente
5% podem necessitar de suporte para o tratamento de insuficiência respiratória (suporte
ventilatório).
No Brasil, como alternativa ao quadro de interrupção das atividades escola-
res, os governos têm editado medidas emergenciais, seja por decreto ou por regula-
mentação de órgãos colegiados, que sinalizam para a utilização das tecnologias no
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ensino remoto como possibilidade de se manter o vínculo de crianças, jovens e adul-
tos com a escola, bem como a realização de atividades pedagógicas que impeçam
uma bruta interrupção com as culturas escolares. Os sistemas de ensino têm sido
orientados pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) para o redimensionamento
do tempo, a organização dos calendários e a readequação das atividades escolares,
permitindo que o ensino remoto possa ser considerado no cômputo das cargas ho-
rárias previstas na legislação.
Como se já não bastasse a histórica e reconhecida falta de prioridade do poder
público para com a educação no país, as alterativas que se impõem à escola durante
a pandemia de Covid-19, como a utilização do ensino remoto mediado por tecnolo-
gias, evidenciam mais uma vez as enormes desigualdades que afetam a educação
pública, como a realidade de 30,4% das escolas que não têm conexão com a internet
(INEP, 2018). Além disso, é importante considerar que 11% da população formada
por crianças e jovens da faixa etária entre 9 e 17 anos não possuem acesso à rede
mundial de computadores (UNESCO, 2020), situações que se impõem como gera-
doras de exclusão digital e que geralmente são precedidas e acompanhadas por
problemas socioeconômicos e culturais que também afetam a escola.
A educação, no seu aspecto fundamental, sofreu paralisação das aulas pre-
senciais e, consequentemente, na Bahia, especialistas se preocupam com o futuro
da educação, mas, no nosso caso, destacaremos o ensino médio dos jovens para os
quais não tem sido ofertado um ensino de qualidade. Com o advento da pandemia
do coronavírus, com o uso de educação a distância, isso piorou consideravelmente,
uma vez que nem todos os alunos têm acesso às tecnologias mediadas, principal-
mente a internet. E isso tem escancarado o fato de que a educação não é ofertada
para todos de forma democrática.
O fechamento das escolas, uma das medidas tomadas em relação à pandemia,
impactou diretamente na manutenção dos dias letivos e da carga horária anual
estabelecida na Lei n. 9.394/1996, art. 24, I, que determina a carga horária mínima
anual de 800 (oitocentas) horas, distribuídas por no mínimo 200 (duzentos) dias
de efetivo trabalho escolar. Para que isso fosse garantido, os sistemas de ensino
públicos e privados começaram a atuar em várias frentes por meio do uso das
tecnologias educacionais, enviando atividades via internet, ou mesmo garantin-
do aulas remotamente por meio de plataformas específicas. Nesse sentido, o CNE
aprovou o Parecer CNE/CP n. 5, de 20 de abril de 2020, que trata da reorganização
do calendário escolar e da possibilidade de cômputo de atividades não presenciais
para fins de cumprimento da carga horária mínima anual, em razão da pandemia
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da Covid-19. Esse cenário fez com que os Conselhos Estaduais de Educação de di-
versos estados e vários Conselhos Municipais de Educação emitissem resoluções e/
ou pareceres com orientações para as instituições de ensino pertencentes aos seus
respectivos sistemas sobre a reorganização do calendário escolar e o uso de ativida-
des não presenciais (BRASIL, 2020).
Nesse período de transição no sistema educacional, observa-se que a educação
remota é para quem tem acesso à internet. É importante afirmar que ter internet
para acessar WhatsApp é diferente de ter uma rede com capacidade para baixar
um arquivo, um livro, etc. Aliás, são três aspectos que precisam ser levados em
conta quando se fala do uso dessa ferramenta: o serviço, ou seja, a internet; os
equipamentos, uma vez que os alunos podem ter um bom acesso à internet, mas
não ter um bom computador ou celular; e a formação para o uso das tecnologias.
Também é importante salientar que, no contexto educacional na Bahia, parte dos
professores que têm internet e equipamentos não tem a formação adequada para
trabalhar com educação a distância, o que é imprescindível para ofertar um ensino
de qualidade para os alunos.
Analisando o contexto baiano e o Brasil, o professor da Faculdade Getúlio
Vargas (FGV), Vieira (2020 apud FGV, 2020, não paginado), afirma que chamam a
atenção, primeiramente, durante essa crise sanitária, a resiliência e a capacidade
de adaptação. “O mais importante foi que a sociedade vem se conformando aos
direcionamentos propostos pelas ciências, que atualmente passavam por uma fase
de descrédito”. Ainda segundo o professor, as autoridades que refutaram a ciência
foram obrigadas a voltar atrás. Aquelas que usaram de seu poder institucional
para reforçar a prudência e a racionalidade foram fortalecidas. Vieira (2020 apud
FGV, 2020) alerta que os esforços têm que ser redobrados em um país como o Bra-
sil, uma vez que a desigualdade social tornará a crise de saúde pública muito mais
aguda e dramática para os mais pobres, pois, nos momentos de crise, os problemas
de uma sociedade, escamoteados durante a normalidade, afloram de maneira mais
contundente.
Já a psicanalista Heloisa Ditolvo (2020 apud FGV, 2020) afirma que a crise
advinda do novo coronavírus irá abrir possibilidades de diálogos e momentos de
conversa. Na análise da psicanalista, uma forma de enfrentar esses sentimentos
surgidos com a quarentena é fazer um corte para que tudo convirja para dentro de
casa. Por isso, as redes sociais entram agora como instrumento essencial, mas sua
forma de uso vai mudar: ao invés de registrar grandes feitos, grandes conquistas,
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grandes viagens, as redes sociais serão usadas para se importar com o outro, para
criar outros tipos de ajuda, para pedir apoio do outro.
Tecnologias no sistema educacional em crise epidêmica: possibilidades de
articular o trabalho pedagógico aos recursos tecnológicos
O mundo contemporâneo, neste momento histórico da pandemia da Covid-19,
está marcado pelas diversas transformações sociais, econômicas, culturais, edu-
cacionais e outras. Santos, Silva e Alves (2018, p. 19) salientam que: “As mudan-
ças ocorridas no Brasil, desde a década de 1970, provocaram transformações que
mudaram a forma de gerir as políticas públicas e o relacionamento entre Estado
e sociedade civil”. No que se refere à propagação do coronavírus em toda parte do
planeta, as autoridades competentes e os especialistas na área de saúde percebem
um avanço significativo no Brasil, o que ocasionou a suspensão de aulas das redes
pública e privada em todo o país. A medida serve para evitar aglomerações e des-
locamentos. Segundo autoridades de saúde, uma das melhores formas de parar a
transmissão é ficar em isolamento social. Mas, esse distanciamento social, que,
praticamente, anula a capacidade de mobilização e de reação da sociedade, não
pode vendar os nossos olhos para ataques oportunistas que, pegando carona na
excepcionalidade da situação, não têm outra intenção senão a de favorecer a deter-
minados setores, em detrimento da vida humana.
Vimos isso com a Medida Provisória n. 927/2020, a qual previa a suspensão
dos contratos de trabalho por 4 meses, sem salário, como ajuda aos grandes empre-
sários; a injeção de R$ 1,2 trilhão para “salvar” os bancos; a proposta de redução
dos salários dos servidores públicos; a redução de repasses de recursos para políti-
cas de transferência de renda, etc. Essas medidas não são de todo novas, pois vêm
sendo gestadas há algum tempo, como germes do projeto de governo ultraliberal e
que, de tão impopulares, não são trazidas à luz. O momento de excepcionalidade e
a comoção social se tornaram, então, a penumbra necessária para a proposição de
ações que, certamente, resultarão em prejuízos sociais incalculáveis, que, ademais,
favorecerão o grande capital financeiro e o mercado. Sinal de alerta, então, para o
Parecer n. 33/2020, do Conselho de Educação do Distrito Federal, publicado no dia
26 de março de 2020, que orienta a implantação do ensino a distância na educação
básica, como medida de ajuste da organização do trabalho pedagógico e adminis-
trativo e do calendário escolar, enquanto durar a pandemia (SINPRO-DF, 2020).
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Sem aulas, estabelecimentos de ensino têm adotado o ensino remoto com uso
de computadores e atividades complementares, para dar continuidade à aprendi-
zagem das crianças. É importante salientar que nem todos os estudantes do país
têm acesso a computadores e à internet de qualidade. Outro problema é manter
a concentração de crianças mais novas, enquanto os pais também trabalham em
casa. Segundo a Unicef (2020), 154 milhões de estudantes estão sem aulas na Amé-
rica Latina e Caribe. A entidade alerta que a situação poderá se estender e há
risco de abandono escolar definitivo. Uma pesquisa divulgada em 2019 aponta que
58% dos domicílios no Brasil não têm acesso a computadores e 33% não dispõem
de internet (CGI.BR, 2020). Os dados apontam que, nas áreas rurais, nem mesmo
as escolas têm acesso à rede mundial de computadores: 43% delas afirmam que o
problema é a falta de infraestrutura para o sinal chegar aos locais mais remotos.
Diante desse cenário de possibilidades, Santos (2020) pondera sobre a atua-
lização das práticas pedagógicas. Para ela, a grande questão da cibercultura é a
transição de uma educação e uma formação estritamente institucionalizadas para
uma situação de troca generalizada de saberes. Os sujeitos deste espaço “do sa-
ber”, ciberespaço, formam também uma inteligência coletiva, e a busca em torno
da obtenção de novos saberes e identidades é necessária para o indivíduo poder
delimitar seu lugar no mundo e se fazer reconhecer como diferente entre tantos
outros, compartilhando seus conhecimentos e construindo ideais coletivos de forma
democrática.
Durante a propagação da pandemia da Covid-19 em 2020, em todos os luga-
res, a oferta do ensino tem sido repensada. Nesse sentido, no estado da Bahia, a
secretaria de educação, juntamente com educadores, pais e responsáveis dos alu-
nos, terá que driblar uma das funções da escola física, que é a de ser espaço de
convivência e saberes presenciais. Em tempos de isolamento social, a convivência
está sendo adaptada virtualmente, por tecnologias que tentam aproximação com a
realidade presencial. Segundo o Ministério da Educação (BRASIL, 2020, não pagi-
nado), no mês de maio de 2020: “A ação tem caráter excepcional e valerá enquanto
durar a situação de emergência de saúde pública por conta do coronavírus. A ade-
são por parte das instituições é voluntária”.
É importante compreender o papel da educação baiana no atual contexto so-
cial, político, e econômico, conforme sugerido pela temática, bem como a relação
entre as políticas públicas aplicadas ao sistema tecnológico atual em consonância
com a pandemia do coronavírus. A Secretaria de Educação do estado da Bahia (SE-
C-BA) publicou os Decretos n. 19.529/2020 e n. 19.635/2020, que versam sobre a
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paralisação das aulas, com a condição de reposição presencial. A SEC-BA diz ainda
que estuda cenários sobre como ocorreria essa reposição, porém, em qualquer caso,
ela será implementada apenas após o retorno das atividades escolares. Dentre as
alternativas sugeridas pela SEC-BA, encontram-se a que sugere que as aulas se-
jam recuperadas no formato 100% presencial, com prolongamento do período letivo
adentrando o ano de 2021. Outra possibilidade versa sobre o retorno das aulas de
maneira 100% não presencial, com ou sem o uso de tecnologia. Além disso, a SEC-
-BA considera alternativas híbridas e complementares entre aulas regulares e não
presenciais, destacando que as últimas não se confundem com educação a distância
(BAHIA, 2020).
Segundo o secretário de educação da Bahia, Jerônimo Rodrigues, desde a che-
gada da Covid-19 ao Brasil, diversas medidas em vários setores vêm sendo toma-
das para evitar a contaminação das pessoas (CARVALHO, 2020). O secretário sa-
lienta que o governo do estado decretou isolamento social desde o dia 16 de março
de 2020, de modo que apenas as atividades essenciais seguiram acontecendo. Na
rede pública estadual de ensino, de acordo com o decreto do governador, Rui Costa
(PT), as aulas estão suspensas por tempo indeterminado no referido ano.
Diante dessas transformações que a educação na Bahia vem sofrendo por
causa da pandemia da Covid-19, gestores, professores, estudantes e famílias vêm
buscando alternativas para diminuir os prejuízos no sistema educacional. Uma das
políticas implantadas pelo governo do Partido dos Trabalhadores (PT), na Bahia,
foi o programa de Vale Alimentação Estudantil, aprovado pela Assembleia Legisla-
tiva da Bahia no dia 14 de maio de 2020. Foi concedido um auxílio-alimentação no
valor de R$55 para todos os estudantes da rede estadual de ensino, enquanto durar
o isolamento social, para amenizar os prejuízos e ajudar na situação financeira
desses estudantes e da própria família. É perceptível a preocupação da secretaria
de educação do estado em promover diversas parcerias com instituições, na pers-
pectiva de promover algumas atividades online para estudantes e professores no
período da pandemia.
Nas discussões de especialistas da área educacional, Vieira e Ditolvo (2020
apud FGV, 2020) afirmam que não se trata de problematizar a pertinência da edu-
cação remota, educação a distância ou via redes sociais, como é caso de WhatsApp
e outros aplicativos. Até mesmo porque esse é um fenômeno nada novo, previsto
no art. 80 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n. 9.394/1996, e
devidamente regulamentado pelo Decreto n. 5.622, de 19 de dezembro de 2005, o
qual estabelece, no seu art. 3º: “A criação, organização, oferta e desenvolvimento de
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cursos e programas a distância deverão observar ao estabelecido na legislação e em
regulamentações em vigor, para os respectivos níveis e modalidades da educação
nacional”. Limitado pelas condições materiais de sobrevivência de grande parte
das famílias brasileiras, pelo baixo investimento no setor educacional e pela falta
de políticas efetivas de formação continuada de professores e sem o devido preparo,
ainda mais com a pandemia da Covid-19.
Segundo Arroyo (2010), é urgente retomar a relação, não superada, entre edu-
cação e desigualdade, visto que ocorreram, no decorrer da história, mudanças de
qualidade das desigualdades e opressão que perduram na atualidade, não apenas
por seu aumento, mas pelo refinamento dos tradicionais processos que as determi-
nam. Essas desigualdades podem ser redefinidas, no contexto atual, pelos proces-
sos de concentração e de apropriação-expropriação da renda, da terra, do espaço
urbano, do conhecimento, das ciências e tecnologias, da privatização do Estado, de
suas agências e políticas.
Procedimentos metodológicos da pesquisa
Para elaboração desta pesquisa, adotamos a metodologia qualitativa explorató-
ria. Realizamos uma discussão para aprofundarmos a pesquisa do campo educacio-
nal sobre os impasses e as perspectivas para o futuro educacional no ensino médio na
Bahia e trazer relatos de alguns educadores (professores, coordenadores e diretores)
que lecionam ou coordenam escolas estaduais no âmbito baiano em tempos da Co-
vid-19, que ficam nos seguintes municípios: Bom Jesus da Lapa, Candiba, Riacho de
Santana, Salvador, Santa Maria das Vitórias, Matina e Vitória da Conquista.
Nessa perspectiva, optamos por realizar a coleta de dados através da aplicação
de questionários, cujos sujeitos da pesquisa responderam por e-mail as questões
enviadas, pois, devido ao isolamento social do presente momento, os pesquisado-
res não puderam aplicar o questionário de modo presencial. Utilizamos o correio
eletrônico também para enviar um documento explicando sobre os aspectos éticos
da pesquisa. Para a apresentação dos resultados, os sujeitos foram identificados
apenas pela sua função (professor, coordenador e diretor) nas instituições onde
trabalham. Para a coleta de dados a partir do questionário, recorremos a Gil (1999,
p. 128), que afirma o seguinte: o questionário pode ser definido “como a técnica de
investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apre-
sentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões,
crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas etc.”.
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Diante dos impactos causados pela Covid-19 no mundo todo e das mudanças
ocasionadas no sistema educacional, a partir do isolamento social, optamos por
aplicar um questionário com educadores de algumas escolas do estado da Bahia,
para compreender as angústias e os principais impactos causados por esse vírus
que determinou o fechamento das escolas e optou pelo ensino remoto. Assim sendo,
os sujeitos escolhidos para participar foram servidores concursados pela Secretaria
de Educação do estado da Bahia, conforme demonstra o Quadro 1, que contém as
informações sobre os participantes da pesquisa, a profissão, a formação acadêmica,
a instituição em que trabalha e a cidade em que atua.
Quadro 1 – Informações dos participantes da pesquisa
Função Formação Instituição que atua Município
Professora Educação Física Colégio Estadual Antônio Batista Candiba
Professora Química Colégio Estadual Professora Marilene Silva Salvador
Professor Matemática Centro Territorial de Educação Profissional da
Bacia do Rio Corrente – Cetep Santa Maria da Vitória
Professora História Educandário Padre Gilberto Vaz Sampaio Vitória da Conquista
Coordenadora
pedagógica Pedagogia Colégio Estadual Sinésio Costa Riacho de Santana
Professor Letras e
Administração Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães Bom Jesus da Lapa
Gestão escolar
(diretora) Letras Centro Territorial de Educação Profissional da
Bacia do Rio Corrente – CETEP Santa Maria da Vitória
Fonte: elaboração dos autores.
É importante salientar que o questionário de perguntas abertas é um instru-
mento composto de um conjunto de perguntas ordenadas de acordo com um critério
predeterminado, que deve ser respondido sem a presença do respondente (MAR-
CONI; LAKATOS, 1999, p. 100), e que tem por objetivo coletar dados de um grupo
de respondentes. Este, por sua vez, objetiva levantar opiniões, crenças, sentimen-
tos, interesses, expectativas e situações vivenciadas; a linguagem utilizada nesse
instrumento deve ser simples e direta, para que o questionado possa compreender
e responder com clareza o que está sendo perguntado.
Na busca pela coleta de dados com os educadores do estado da Bahia, a pers-
pectiva é de que a mudança do ensino presencial para o ensino remoto não está
sendo fácil na realidade atual com a crise da pandemia da Covid-19. Todavia, as-
sumir o papel de educador e ser humano nesse contexto, tão essencial para o es-
tudante aprender com as ferramentas usadas, será complexo e haverá inúmeras
dificuldades a serem vencidas.
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A pesquisa será o caminho para construir o conhecimento necessário dos
estudantes e analisar as suas angústias e como os educadores se sentem nessa
conjuntura no sistema educacional e social. Adotamos o questionário por este ins-
trumento ser considerado como uma técnica bastante viável e pertinente para ser
empregada quando se trata de problemas cujos objetos de pesquisa correspondem
a questões de cunho empírico, envolvendo opinião, percepção, posicionamento e
preferências dos pesquisados.
Incertezas no sistema educacional
O artigo 1º da Lei n. 9.394/1996 define que a educação abrange os processos
formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no tra-
balho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e nas organi-
zações da sociedade civil e nas manifestações culturais. Nesse sentido, a educação
não pode ser negada como direito do ser humano.
É importante lembrar que, na Constituição federal de 1988, no artigo 205 (BRA-
SIL, 1988), a educação é tarefa do Estado em colaboração com a família, através
da promoção e do incentivo, no processo educativo. O termo colaboração indica o
reconhecimento por parte do Estado da enorme tarefa que cabe à sociedade, especial-
mente a civil organizada, na formação dos educandos. Conforme salientam Steca-
nela e Lomons (2020, p. 2), pensar no direito à educação nos remete a três aspectos:
(a) refletir acerca da natureza do direito, sua validez e expressão legal, incluindo-se aí a
diferença entre conquistá-lo e tê-lo reconhecido; (b) considerar os processos educacionais que
envolvem a organização curricular, a formação de professores e a infraestrutura oferecida
pelas escolas; e (c) problematizar as práticas ou modos de apropriação das políticas educacio-
nais e dos recursos materiais e humanos disponíveis, especialmente por parte dos docentes.
Nada impede, portanto, que a sociedade civil planejada, representada por as-
sociações comunitárias, entidades religiosas e organizações não governamentais,
possa, em conjunto com o Estado, realizar o trabalho de educar as pessoas. Partin-
do desse pressuposto, a questão se mostra mais na perspectiva humana e solidária
nessa crise epidêmica. A relação com o papel social da educação, principalmente
em tempos traumáticos, deve estimular reflexões sobre o que será feito com milha-
res de crianças e jovens após o fim do isolamento social imposto pelo risco iminente
do contágio pelo coronavírus.
Sobre tais incertezas e desafios da educação no estado da Bahia, da realidade
atual e problematizada, pensemos nas conexões do pensamento freiriano sobre a
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Perspectivas no futuro educacional da Bahia: breves relatos de educadores em tempos de Covid-19
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ação dos sujeitos dialógicos sobre ela, para transformá-la. “Educação problemati-
zadora se faz assim, um esforço permanente através do qual os homens vão perce-
bendo criticamente, como estão sendo no mundo” (FREIRE, 1988, p. 72). Todavia,
a problemática, como aborda Freire, é do próprio conhecimento em sua indiscutível
relação com a realidade concreta na qual se gera e sobre a qual incide, para melhor
compreendê-la, explicá-la e transformá-la.
Análise dos resultados
A partir dos dados coletados através de questionários respondidos por alguns
educadores das escolas estaduais pesquisadas na Bahia, evidenciamos nos relatos
que o número de crianças e jovens com dificuldade de aprendizagem aumentou sig-
nificativamente com a chegada do coronavírus. Assim, entendemos que a solução do
problema não está na “caça às bruxas”, como em uma visão maniqueísta de busca a
culpados. É necessária uma atitude frente aos problemas relatados, bem como dia-
logar com a sociedade a saída para a melhoria educacional em toda sua totalidade.
Na execução das atividades pedagógicas no sistema educacional baiano, se-
guindo as orientações do Conselho Nacional de Educação (CNE) e do Conselho
Estadual de Educação (CEE), para os estabelecimentos de ensino, em face da
pandemia da Covid-19, deve-se reportar à aplicação do previsto no art. 32 da Lei
n. 9.394/1996, que, de modo explícito, determina que no ensino fundamental as
atividades regidas pelos princípios da educação a distância sejam utilizadas como
complementação da aprendizagem ou aplicadas em situações emergenciais, subli-
nhada a regularidade da oferta no modelo de ensino presencial.
Em 18 de março de 2020, o CNE veio a público elucidar aos sistemas e às redes
de ensino, de todos os níveis, etapas e modalidades, considerando a necessidade de
reorganizar as atividades acadêmicas por conta de ações preventivas à propagação da
Covid-19. Em decorrência desse cenário, os CEEs de diversos estados e vários Conse-
lhos Municipais de Educação (CMEs) emitiram resoluções e/ou pareceres orientati-
vos para as instituições de ensino pertencentes aos seus respectivos sistemas sobre a
reorganização do calendário escolar e o uso de atividades não presenciais.
Em 3 de abril de 2020, o Ministério da Educação publicou a Portaria n. 376,
que dispõe sobre as aulas nos cursos de educação profissional técnica de nível mé-
dio enquanto durar a situação de pandemia da Covid-19. Em caráter excepcio-
nal, a portaria autoriza as instituições integrantes do sistema federal de ensino,
quanto aos cursos de educação profissional técnica de nível médio em andamento,
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a suspender as aulas presenciais ou substituí-las por atividades não presenciais
por até 60 dias, prorrogáveis a depender de orientação do Ministério da Saúde e
dos órgãos de saúde estaduais, municipais e distrital. Nas análises e discussões
sobre o sistema educacional brasileiro, é importante destacar alguns dados sobre
a educação na Bahia em decorrência da Covid-19, que afetou toda a população, e,
consequentemente, a paralisação das aulas presenciais.
Nessas análises, para compreender o que os sujeitos pensam sobre as aulas
remotas de modo online, fizemos o seguinte questionamento: quais medidas a sua
escola tem tomado até agora para minimizar os impactos da Covid-19 no que se refe-
re à oferta das aulas? Os participantes argumentaram conforme os relatos a seguir:
Desde o dia 19/03 as aulas presenciais foram suspensas. Foi implantado o acompanhamento
dos alunos através das mídias sociais. Foram feitos grupos de WhatsApp por turmas, por gru-
pos de líderes e as atividades e orientações foram enviadas desta forma. No segundo momen-
to, que começou no final de abriu, os professores passaram a utilizar a ferramenta do Google
sala de aula (Classroom). Os alunos que não tem acesso a internet ou outras dificuldades de
acessar, vão até a escola, com horário programado, buscar as atividades impressas (Professor
da cidade de Bom Jesus da Lapa, 2020).
Com relação às medidas preventivas a escola está sob afastamento social atendendo aos
decretos do governo do estado, como medida de prevenção e combate ao novo coronavírus
– Covid-19. Quando há a necessidade de adentrarmos nos recintos da escola utilizamos os
EPIs (máscaras e luvas) indicados pela Organização Mundial de Saúde – OMS e demais
orientações das autoridades municipais (Coordenadora pedagógica da cidade de Riacho de
Santana, 2020).
Assim como as demais escolas da rede estadual, seguindo orientações da Secretaria de Edu-
cação da Bahia, o CETEP trabalha com Rotinas de Estudo com objetivo de manter o vínculo
entre escola-professores-estudantes. É uma ação realizada parcialmente, de forma colaborati-
va e voluntária, através dos professores que se interessaram em seguir esse caminho durante
o período de suspensão das aulas. Infelizmente o alcance não é satisfatório, pois não pode-
mos contar com nossos estudantes sem acesso digital, principalmente os que vivem no meio
rural. Portanto, não adotamos como regra e nem como substituição das aulas ou reposição
de carga horária, trata-se apenas de uma possibilidade de troca de informações. (Diretora da
cidade de Santa Maria da Vitória, 2020).
Nós professores, somos orientados a encaminhar exercícios para os alunos para que nesse
período de quarentena, eles continuam em uma rotina de estudos com uma ênfase maior so-
bretudo para os alunos do 3º ano que irão fazer o Exame Nacional do Ensino Médio e precisa
acelerar os estudos para os vestibulares no final de ano. Abordando questões referentes a mi-
nha disciplina, encaminho para os líderes das turmas, e essa comunicação ela se dá por meio
de WhatsApp, os líderes das turmas por sua vez repassa essas atividades, esses exercícios
e vídeo aulas para as turmas que os representam (Professora da cidade de Candiba, 2020).
As considerações gerais sobre a legislação indicam a necessidade de construir
novas alternativas de organização curricular, comprometidas, de um lado, com o
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novo significado do trabalho no contexto da globalização e, do outro, com o sujeito
ativo, a pessoa humana que se apropriará desses conhecimentos para aprimorar-
-se no mundo do trabalho e na prática social. Não podemos deixar de apontar a
precariedade em infraestrutura tecnológica, conectividade, conteúdo digital e ex-
periência de ensino existente para poder concretizar o modelo de educação virtual
em casa. Isso nem mesmo para a lógica do mercado poderá ser resolvido em meses
ou em alguns anos.
Os educadores foram questionados na seguinte perspectiva: a escola está
preocupada em garantir o aprendizado do ano letivo, e no cumprimento de carga
horária e na distribuição de conteúdo no período do isolamento? Os participantes
relataram o que segue:
Penso que a melhor saída seja contabilizar horas de tarefas de casa, quando as aulas forem
retomadas. Certamente, será necessário repensar a distribuição de conteúdo e carga horária
(Professor da cidade de Santa Maria da Vitória, 2020).
Nossa escola não está preocupada com o cumprimento dos dias letivos, no momento, esta-
mos focados em favorecer a aprendizagem dos estudantes através de tecnologias de comuni-
cação e atividades remotas. Além dessas ações, a escola presta atendimento diariamente aos
estudantes de maneira virtual sobre as atividades da escola, como o Programa Mais Estudo
(Coordenador pedagógico da cidade de Matina, 2020).
Os professores deverão reduzir a quantidade de conteúdo trabalhando de forma significativa.
Com relação à carga horária, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (9.9394/96) informa
que o calendário deve ter no mínimo 200 dias letivo. No entanto, diante da pandemia o projeto
de Lei 680/20 permite flexibilizar o calendário em caso de situações graves (Professora da
cidade de Salvador, 2020).
Importante destacar que todos nós professores, gestores, coordenação pedagógica, alunos
e família, estamos pisando em terrenos ainda muito incerto. Nós não sabemos esse efetiva-
mente como educação ficará na Bahia, se esse ano letivo se dará sob orientação à distância.
A orientação que nós educadores temos, que é necessária essa conexão com o alunado para
que os mesmos continuem uma rotina de estudos com ênfase em relação aos alunos do
terceiro ano, estudando com roteiro das disciplinas, para todas as avaliações externas, que
eles certamente farão, mas nós ainda estamos em um futuro incerto nessas mudanças todas
ocorridas pelo Covid-19 (Professora da cidade de Candiba, 2020).
A deputada Maria do Rosário (PT-RS) tem uma proposta com o foco de alterar
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394/1996). A referi-
da proposta está descrita no Projeto de Lei (PL) n. 680/2020, em tramitação para
permitir a flexibilização do calendário letivo em caso de pandemias, doenças infec-
tocontagiosas ou outras situações graves e emergenciais. Com base nesse PL, asse-
guradas as cargas horárias mínimas anuais e os conteúdos previstos, será possível
descumprir a exigência de no mínimo 200 dias de efetivo trabalho escolar. Nesse
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sentido, o Parecer CNE/CP n. 5/2020, aprovado em 28 de abril de 2020, trata da
reorganização do calendário escolar e da possibilidade de cômputo de atividades
não presenciais para fins de cumprimento da carga horária mínima anual, em
razão da pandemia da Covid-19 (BRASIL, 2020), o qual emite orientações para a
oferta de ensino no que se refere às modalidades educacionais.
Em consonância com o CNE, o CEE da Bahia dispõe, na Resolução n. 37,
de 18 de maio de 2020, normas complementares, considerando a “suspensão das
atividades escolares por conta da pandemia da Covid-19”, com a possibilidade de
“ocasionar descontinuações indesejáveis do processo educacional, com efeito na
aprendizagem dos estudantes”. Segundo o CEE (BAHIA, 2020, p. 2):
Art. 3º - §1º A dimensão exarada no caput estabelece a possibilidade de aferir a soma do tem-
po destinado à consecução das tarefas pedagógicas por processos remotos, no conjunto das
oitocentas horas letivas anuais, desde que esta decisão seja consentânea com os propósitos
e os argumentos dos gestores das redes, em articulação com as unidades escolares, para
o Ensino Fundamental e para o Ensino Médio, bem como para a Educação Profissional e
Tecnológica.
Sobre o processo de ensino e aprendizagem desses educandos, fizemos o se-
guinte questionamento: qual é a importância do espaço escolar para o aprendizado,
a presença física, o convívio social? Os sujeitos se posicionaram da seguinte ma-
neira:
A educação não é feita unicamente pela transmissão de conteúdo, a aprendizagem está
ligada às relações interpessoais e as competências socioemocionais. O convívio social é de
suma importância para o desenvolvimento das crianças e adolescentes (Professora da cidade
de Vitória da Conquista, 2020).
O ser humano não é uma ilha! Daí a necessidade do convívio social e da presença física para
o compartilhamento e troca de experiências e o seu desenvolvimento psicossocial saudável.
A riqueza do convívio heterogêneo é indiscutível no processo ensino aprendizado. Porém, a
experiência que o afastamento social que o Covid-19 nos impôs com as atividades online, nos
mostra a importância da forma “hibrida” de ensinar (Coordenadora pedagógica da cidade de
Riacho de Santana, 2020).
A presença física de alunos e professores na escola é fundamental para a formação dos es-
tudantes, como seres sociais, psicológicos e cognitivos. O compartilhamento de informações
e saberes nas relações na escola enriquece a formação integral dos alunos (Coordenador
pedagógico da cidade de Matina, 2020).
A interação presente no espaço da escola é um importante instrumento no processo ensino-
-aprendizagem. Sem ela, em toda sua dinâmica na conjuntura escolar, as possibilidades de
ensinar e de aprender tornam-se difíceis e excludentes (Diretora da cidade de Santa Maria da
Vitória, 2020).
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Sobre interação e aprendizagem, segundo Libâneo (1994, p. 90), “a relação
entre ensino e aprendizagem não é mecânica, não é uma simples transmissão do
professor que ensina para um aluno que aprende”. Ele mesmo concluiu que é algo
bem diferente disso, pois “é uma relação recíproca na qual se destacam o papel diri-
gente do professor e a atividade dos alunos”. Dessa forma, podemos perceber que “o
ensino visa estimular, dirigir, incentivar, impulsionar o processo de aprendizagem
dos alunos”. Entretanto, há que se pensar a partir da perspectiva do isolamento
social ocasionado pelas eventuais pandemias, a exemplo do momento histórico que
estamos vivendo. Por isso, fizemos o seguinte questionamento: e sobre a questão da
pandemia na Bahia resultante da Covid-19 que afetou o mundo todo, na sua opi-
nião, qual o impacto desse vírus, se o sistema educacional continuar com atividades
de ensino remoto no estado? Para essa questão, os sujeitos relataram o que segue:
Urge a necessidade de aprimoramento, extensão e utilização de tecnologias de informação e
comunicação dos recursos tecnológicos (TICs) na educação brasileira. Chamo a atenção, no
entanto, para a qualidade dos recursos tecnológicos que chegam até a escola, principalmente
para o estudante, sem a qualidade que a demanda requer. O caso dos tabletes por exemplo
(Coordenadora pedagógica da cidade de Riacho de Santana, 2020).
Acredito que haverá mais atenção e investimento na área das tecnologias na escola, por parte
da administração pública. Só assim vão perceber que a desigualdade, a dificuldade de acesso
é muito grande, e neste momento as atividades remotas não estão atingindo a todos devido
essa falta de atenção e investimento nas escolas e na sociedade de forma geral. Neste ano,
durante a jornada pedagógica, foi muito discutido sobre as metodologias ativas da aprendi-
zagem, mas nenhum suporte técnico foi oferecido pela secretaria de educação (Professor da
cidade de Bom Jesus da Lapa, 2020).
A educação a distância no Brasil, passará por uma mudança na visão e na aplicação. A legis-
lação brasileira deve regulamentar essa modalidade de ensino (aplicada para a educação bá-
sica), além de debater junto com a sociedade a importância do ensino a distância (Professora
da cidade de Vitória da Conquista, 2020).
Uma alternativa para diminuir o impacto da paralisação das aulas. Porém, como veio de re-
pente, a grande maioria dos professores e alunos não reúne condições mínimas para que se
obtenha o resultado desejado (Professor da cidade de Santa Maria da Vitória, 2020).
Sobre o ensino remoto cada vez mais presente e a organização das atividades
curriculares, a Resolução n. 37 do CEE explicita, no art. 11 (BAHIA, 2020, p. 05):
No planejamento do retorno às atividades presenciais ou mesmo enquanto perdure a pande-
mia, as redes e unidades escolares da educação básica nas etapas da Ensino Fundamental e
do Ensino Médio, podem reconstituir a delimitação dos conteúdos na reprogramação das ativi-
dades de ensino, com suporte no Art. 32, Arts. 35 e 35-A, da LDB, respectivamente, reiterada
a BNCC como base desse procedimento.
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Todas essas questões geram mudanças e, de certo modo, transformam o siste-
ma educacional para um novo modelo ainda pouco conhecido. Sendo assim, ques-
tionamos o seguinte: nessas mudanças ocorridas nos últimos meses desse ano de
2020, na concepção de educador, o que é necessário fazer para compreender as
transformações ocorridas pelo advento da Covid-19 nesse cenário atual do sistema
educacional na Bahia? Os sujeitos responderam conforme segue:
Em primeiro lugar o professor precisar desmitificar que será substituído pela tecnologia e
aceitá-la como um forte aliado. Os recursos tecnológicos – TICs – oferecem diversas ferra-
mentas à disposição dos professores entre todas as áreas do saber. Os estudantes sinalizam
a necessidade dos professores se aperfeiçoarem para seguir a mudança. O uso da tecnologia
possibilita o estudo interativo de conteúdos, tornando-os mais atraentes e fazendo com que
o estudante adote uma postura mais participativa. As ferramentas tecnológicas permitem di-
versificar as metodologias de ensino a abrir caminho para infinitas possibilidades didáticas.
O trabalho com os recursos tecnológicos de aprendizagem são exemplos do potencial da
tecnologia para o desenvolvimento da educação. Infelizmente, ainda existe muita resistência
por parte significativa dos professores em encarara o desafio que hoje se torna necessário e
imperativo. Quiçá, por comodismo, por não querer sair da sua zona de conforto, ou seja, de
continuar fazendo o que já tem segurança para fazer, ou até mesmo, por falta de competência
técnica para o uso das ferramentas digitais, por fim, desmotivação, vontade e falta de incentivo
para inovar e aderir às mudanças que a nova era requer (Coordenadora pedagógica da cidade
de Riacho de Santana, 2020).
A atual conjuntura da educação mundial, é um desfio para os educadores. Pois, é necessá-
rio revisitar o fazer pedagógico. Os educadores precisam se adaptar a educação remota. A
tecnologia é uma importante aliada nesse momento da educação, como um entrave, já que
grande parte dos educadores não possuem equipamentos qualificados, ou não dominam as
tecnologias (Professora da cidade de Vitória da Conquista, 2020).
O professor deve estar sempre se reciclando para se adaptar as tecnologias surgidas e utiliza-
das pelos estudantes (Professora da cidade de Salvador, 2020).
Contudo, para além da importância de refletirmos sobre o desafio de preparar
os professores para o uso das tecnologias em seu fazer pedagógico, é necessário
avaliarmos se a formação contempla as tecnologias por uma ótica crítica, levando
os professores a compreenderem que aquilo que o discurso hegemônico proclama,
ou seja, as tecnologias como panaceia educativa, bem como a sua utilização sem
princípios críticos e éticos, corresponde exatamente ao que o sistema capitalista
almeja (VENTURINI; MEDEIROS, 2016).
Outra questão que apresentamos, ainda com o intuito de percebermos a con-
cepção dos sujeitos sobre a modalidade de ensino trabalhada no contexto atual, foi
a seguinte: na vertente da educação remota, híbrida ou a distância, como vocês,
educadores, analisam o uso de tecnologias para o ensino? É necessária uma forma-
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ção continuada do estado? Dê sua opinião. Para tais questões, os sujeitos fizeram
as seguintes reflexões:
O ensino a distância deve ser proposto como ferramenta não como algo que possa substituir o
ensino presencial tendo em vista que a condição social e econômica pode variar entre alunos,
cidades e Estados. Muitos alunos não possuem computador, celular, internet. Tem localidades
que não tem rede de internet. Então, essas dificuldades deverão ser avaliadas. Quanto à
formação continuada do Estado é importante para capacitar dando suporte na discussão de
determinados temas (Professora da cidade de Salvador, 2020).
Sim. É necessário mais investimento no profissional e também na estrutura da escola. E dar
acesso aos alunos no ambiente escolar (Professor da cidade de Bom Jesus da Lapa, 2020).
O uso de tecnologias como recursos educativos será fortalecido e isso ocorrerá de maneira
gradativa, com a formação de professores e necessidade de uso desses mecanismos, para
aprimoramento da comunicação com alunos (Coordenador pedagógico da cidade Matina,
2020).
Sim, é importante, como complemento aos saberes docentes, jamais como novo método de
ensino. Pelo menos a meu ver deveria ser assim. Por outro lado, temo que os que estão no
poder insistam nessa tese de que a educação possa ser totalmente mediada pelas tecnologias
(Diretora da cidade de Santa Maria Vitória, 2020).
A partir dos relatos dos sujeitos, percebe-se um indicativo para aulas online,
ainda assim, as pesquisas mais recentes evidenciam que não se trata de alterna-
tiva equivalente: atividades remotas e até mesmo atividades mais estruturadas
na modalidade educação a distância (EaD) têm suas limitações e, com efeito, não
conseguirão substituir a experiência escolar presencial, em particular, quando
aplicadas em escala na educação básica (SANTOS; NUNES, 2020).
Outro aspecto analisado nesta pesquisa foi sobre o papel da família na apren-
dizagem dos alunos e como a função do Estado tem sido transferida para os pais
nesse contexto. Para sabermos o que os sujeitos pensam sobre isso, destacamos a
questão seguinte: nessas mudanças ocorridas na educação do estado da Bahia para
ficar em casa por causa da Covid-19, na sua opinião, esse período de isolamento
social e de quarentena das pessoas pode transformar o papel dos pais na educação
dos seus filhos? As respostas foram as seguintes:
Durante esse período de atividades remotas, é notório a participação das famílias nas ativi-
dades diárias dos educandos. Acredito, que após o fim desse período de isolamento social,
os pais participarão mais ativamente da vida dos filhos (Professora da cidade de Vitória da
Conquista, 2020).
Certamente. Os pais são fundamentais no processo de aprendizagem, a pandemia acaba
aproximando pais e filhos, de maneira que a maioria deles possa ser mais presente (Professor
da cidade de Santa Maria Vitória, 2020).
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Pode ajudar em maior responsabilização pela educação dos filhos em função da quarentena e
assumir o verdadeiro papel dos pais na educação dos filhos conforme assegura a CF, no artigo
205, que a educação é dever da família e do Estado (Coordenador pedagógico da cidade
Matina, 2020).
Sim. Muitos atinaram para a importância do profissional da educação ao lidar com a diversida-
de e com tantos, intempéries ao longo do ano letivo. Acredito que a relação família/escola será
mais valorizada (Coordenadora pedagógica da cidade de Riacho de Santana, 2020).
Sim. Os pais, nesse cenário que configura o Brasil, são de extrema importância para o desen-
volvimento de estudante, pois com a ausência direta dos professores eles têm agora como
função de incentivar os filhos frente aos exercícios propostos (Professora da cidade de Salva-
dor, 2020).
Os estudantes vêm resistindo à rotina, pois acreditam que estão de férias,
já que estão em casa. Essa situação tem gerado estresse para eles e seus pais. Os
pais se sentem impotentes frente a esse quadro, especialmente no que se refere à
ausência, muitas vezes, de um espaço específico para os estudantes realizarem as
tarefas e participarem das interações virtuais de forma privada, visto que a famí-
lia está em casa todo o tempo e se adaptar a esse novo formato não tem sido fácil
(ALVES, 2020).
Por fim, a última questão apresentada foi: nas reflexões e análises de vocês,
educadores, quais mudanças mais profundas podem surgir na educação depois da
pandemia, no seu ponto de vista? Os sujeitos responderam conforme os seguintes
relatos:
Ocorrerão mudanças na estrutura social, com mais exclusão de alunos pobres e impossi-
bilidade de recuperar a aprendizagem em curto período de tempo. Com o retorno das aulas
presenciais em condições normais, acredito que as escolas passarão a trabalhar conforme a
proposta pedagógica estabelecida antes da pandemia (Coordenador pedagógico da cidade
Matina, 2020).
Afirmo que é necessário refletir sobre mudanças ocorridas e que as atividades remotas faz
repensar o conceito de como o professore deve atuar e sobretudo muitos não têm facilidade
para lidar com o uso da tecnologias, como os professores mais jovens usam, questões que são
reflexões necessárias e também são provocativas. A questão da desigualdade pode aumentar
gradativamente com a educação remota e à distância e é inconcebível pensar em educação
homogênea em um país extremamente heterogêneo como o nosso (Professora da cidade de
Candiba, 2020).
Espero que a juventude desperte para a importância dos estudos, da ciência e do conhecimen-
to. Neste momento de pandemia, está sendo revelado os verdadeiros heróis e vilões. E vimos
que o conhecimento, a formação, os estudos é um grande aliado na crise, e as pessoas que
estão à margem de tudo isso, serão como pedras a beira do caminho, infelizmente (Professor,
cidade de Bom Jesus da Lapa, 2020).
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Talvez se direcionem o olhar para a educação como fonte de vida para a dinâmica social e com
isso haja preocupação, investimentos e compromisso político e social (Diretora da cidade de
Santa Maria Vitória, 2020).
Uma das mudanças está relacionada ao uso da tecnologia até então não explorada de forma
efetiva pelos colégios, a exemplo da Classroom; adaptação dos professores as tecnologias;
calendário acadêmico e os assuntos que deverão ser trabalhados (Professora da cidade de
Salvador, 2020).
A educação após a pandemia passará por diversas mudanças, uma delas é a valorização da
escola, como instituição de fundamental importância para o desenvolvimento da sociedade.
Além disso, a valorização dos profissionais da educação, as relações entre família e escola e
até mesmo as relações interpessoais (Professora da cidade de Vitória da Conquista, 2020).
Percebe-se, nos relatos dos sujeitos da pesquisa, que, com o ensino remoto e
a EaD, está concentrando no Brasil um índice altíssimo de desigualdade educa-
cional; mesmo diante da crise sanitária criada pela Covid-19, o governo federal se
junta aos setores privatistas e fundamentalistas que visam somente manter lucros
e privilégios para adotar uma postura negacionista frente às medidas tomadas em
favor da saúde, da vida e da solidariedade humana. Apropriam-se de incertezas,
falta de conhecimento científico, ansiedade e insegurança da população diante da
pandemia, para, cinicamente, induzir os trabalhadores, de maneira errônea, à fal-
sa dicotomia no que se refere ao direito à vida em contraposição economia. O Fó-
rum Nacional de Educação do Campo (2020, p. 1) chama atenção que esses mesmos
setores se organizem para:
Buscam estabelecer acordos com o Ministério da Educação (MEC), secretarias e conselhos
de educação (nacional, estaduais e municipais) para criar soluções burocráticas e padroniza-
das com o pretexto de não deixar a “educação parar”. Eles tentam induzir os professores e
professoras a acreditarem que a Educação a Distância (EaD), por meio do uso das tecnolo-
gias digitais de informação e comunicação, é a panaceia necessária para dar continuidade às
atividades escolares que, acertadamente, foram interrompidas em função da necessidade de
medidas de distanciamento social.
Considerações nais
Na presente pesquisa, apresentamos breves relatos de educadores que traba-
lham em algumas escolas da Secretaria de Educação do estado da Bahia. Nas aná-
lises apresentadas, ficou evidenciado que, após a propagação da Covid-19 em todo o
mundo, há incorporação de um novo sistema educacional a partir das constatações
de um ensino remoto e a distância, como flexibilização do calendário escolar para
atender as demandas dos alunos e das instituições de ensino. Fica claro que, sem o
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aporte do Estado e sem o devido planejamento, isso funcionará apenas para quem
já dispõe dos recursos necessários, como dispositivos tecnológicos que suportam
diferentes módulos, recursos e programas, conexão de alta velocidade e qualidade,
aparelho de TV com boa qualidade de imagem e som, espaço adequado para reali-
zação das tarefas e atividades.
Assim, analisando a realidade do contexto atual do estado da Bahia, é percep-
tível que grandes mudanças ocorreram no final de março de 2020 e se perpetuaram
nos meses seguintes, sem previsão de retorno das aulas e com um sistema de saú-
de próximo de um colapso. Nesse aspecto, sob o caos que acontece na saúde e na
educação, percebe-se que a educação perpetuou para um sistema a distância, que
tem um papel de destaque no momento em que há o isolamento social que estamos
vivendo com o desenvolvimento do coronavírus. Os estudantes do ensino médio
baiano sentiram bruscamente as transformações ocorridas pelo sistema adotado
pela secretaria de educação e pelos educadores.
É importante compreender que, com as novas tecnologias no cotidiano atual,
através de uma educação remota, a escola desencadeia um maior conhecimento
factual e demonstra necessidades e expectativas mais objetivas quanto à forma-
ção dos educadores no ambiente escolar. Como resposta a essa realidade, é funda-
mental o questionamento da postura tradicional do professor enquanto detentor
do poder e do conhecimento, em total descompasso com as tendências atuais de
incorporação das novas tecnologias da informação e da comunicação na educação,
segundo a perspectiva construtivista.
Concluímos que muitos educadores, pais e alunos sentem o impacto das mu-
danças drásticas ocorridas, principalmente em 2020, em que o momento do dis-
tanciamento social continua a ser recomendado por conta da Covid-19, mas não o
distanciamento da sociedade, o que, sem dúvidas, exige a valorização das ciências
humanas e daqueles que a elas se dedicam, pois as tecnologias sociais serão fun-
damentais para recuperação de um país assolado pela pandemia, mas também
por negacionismos, reducionismos e necropolíticas estatais. É necessário pensar/
repensar em um ensino de qualidade em toda a educação básica, que é o nível que
mais afeta a cidadania, por isso deve ser visto como um compromisso de todos e de
uma educação justa.
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ESPAÇO PEDAGÓGICO
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