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ESPAÇO PEDAGÓGICO
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Socialização feminina, protagonismo humano e educação: uma análise a partir de Christine de Pizan
v. 28, n. 1, Passo Fundo, p. 258-275, jan./abr. 2021 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
atitudes que tiveram não são adequadas para uma menina: feche as pernas; sente
direito. Aos meninos, afirma-se que homens não choram, transmitindo a noção de
que devem reprimir seus sentimentos. E, se porventura, apresentarem algum com-
portamento tido como de mulher pela sociedade, são estereotipados e vítimas de
deboches e outras agressões.
Tendemos a pensar que essas são coisas naturais. Justificamos que há poucas
mulheres nas engenharias porque as mulheres são mais propensas à inteligência
linguística, e que mais mulheres ocupam cargos ligados ao cuidado, como a enfer-
magem, a pedagogia, a psicologia, etc., em função de diferenças genéticas. Mas,
como afirma Singer (2002, p. 43-45):
Os indícios de uma base biológica das diferenças de aptidão visual-espacial são um pouco
mais complicados, mas consistem, em grande parte, em estudos genéticos que sugerem
ser essa aptidão influenciada por um gene recessivo ligado ao sexo. Como resultado disso,
estima-se que aproximadamente cinquenta por cento dos homens tenham uma vantagem
genética em situações que exigem aptidão visual-espacial, mas essa mesma vantagem só é
compartilhada por vinte e cinco por cento das mulheres. Os argumentos favoráveis e con-
trários a um fator biológico subjacente a maior capacidade verbal das mulheres e ao melhor
raciocínio matemático dos homens são ainda frágeis demais para que se possa sugerir uma
conclusão que os corrobore ou invalide. [...]. As diferenças de forças e fraquezas intelectuais
dos sexos não podem explicar mais do que uma ínfima proporção da diferença de posições
que homens e mulheres ocupam na nossa sociedade. Poderia explicar, por exemplo, por
que existem mais homens que mulheres em profissões como a arquitetura e a engenharia,
profissões que podem exigir aptidão visual-espacial; mas, mesmo nestas profissões, a mag-
nitude das diferenças em termos numéricos não pode ser explicada pela teoria genética de
aptidão visual-espacial. Esta teoria sugere que metade das mulheres são tão favorecidas
geneticamente nesta área quanto os homens, o que explicaria a menor contagem média
das mulheres nos testes de aptidão visual-espacial, mas não seria capaz de explicar o fato
de que não há simplesmente duas vezes mais homens do que mulheres na arquitetura e
engenharia – na verdade, há dez vezes mais, e em muitos países, esse número é ainda
maior. Além do mais, se a aptidão visual-espacial superior explica o predomínio masculino
na arquitetura e na engenharia, por que não se verifica uma vantagem feminina correspon-
dente em profissões que exigem elevada capacidade de verbalização? [...]. Assim, mesmo se
aceitarmos as explicações biológicas para a determinação dessas aptidões, podemos argu-
mentar que as mulheres não têm as mesmas oportunidades que os homens para exercer em
mais alto grau as aptidões que possuem.
As diferenças entre homens e mulheres são melhor explicadas por diferenças
socioculturais, já que ao nascermos, imediatamente, se atribuem papéis a serem
desempenhados para cada sexo.
Nascemos com um sexo biológico, e isso sim depende da biologia, mas assim
que os pais descobrem que estão esperando um bebê, eles já começam a estabelecer
papéis para essas crianças desempenharem em sociedade. Esses papéis são aquilo