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ESPAÇO PEDAGÓGICO
v. 27, n. 2, Passo Fundo, p. 389-405, maio/ago. 2020 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
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Elena Colonna
amigos, “aprendem brincando”, os mais velhos gostam de partilhar os seus conhe-
cimentos para ficarem mais “famosos”:
Esse jogo é txemurama, em português, “comermos arroz”. Assim aí puseram um pau, estão aí
a comer pouco pouco se deixar cair o pau, vai correr até bambu a pessoa vão lhe bater. Esse
jogo nos ensina a sorrir. A brincar, a comer devagar, não comer depressa. Meninas, 12 – 14
anos, Pebane
Uma vez que ela vai ensinar uma pessoa e vai dizer eu é que lhe ensinei, acho que vai ser
bonito e engraçado. Acho que a pessoa gosta, porque vai dizer: hi! eu é que lhe ensinei, eu é
que ensinei Fátima eu é que ensinei, então os adolescentes gostam muito, ficam populares por
causa disso, a maioria gosta de ser populares, ou aumenta teu próprios conhecimentos porque,
quando você ensina outra pessoa acabas aprendendo coisas novas. Egineta, 15 anos, Maputo
Apesar de os amigos serem tão importantes, os participantes referem que não
é fácil conseguir amigos verdadeiros, capazes de escutar, aconselhar e partilhar to-
dos os momentos. Estes amigos se diferenciam dos conhecidos, com os quais podem
andar juntos, “bater papo” e partilhar vícios (beber, fumar), mas não existe uma
comunhão e uma expressão aberta da sua identidade e dos seus sentimentos. Ain-
da, os adolescentes de Maputo sugerem que é necessário ser proactivos na procura
de amigos, não sendo recomendável ficar em casa e lamentar que os amigos não
visitam, mas sim fazer o primeiro passo e ir ao encontro deles.
Entretanto, mesmo considerando a amizade uma experiência geralmente
positiva, é juntos dos amigos que os participantes vivenciam diferentes situações
de exclusão. Em particular, os adolescentes sentem-se mal quando: os pares ex-
cluem-nos das conversas e das brincadeiras; os pares “roubam-lhes” os amigos; os
pares gozam com eles; os pares querem mostrar-se superiores. As participantes de
Pebane, de 12 - 14 anos de idade assim descrevem o conceito de “destruidoras de
amizade”:
Quando encontra as outras a brincar, quando essa aproxima, outras proíbem essa de brincar.
Porque ela foi a última a chegar. Ou quando querem dançar, alguém prepara o passo dele para
dançar, então vem uma menina lhe proíbem, falam para procurar alguém para dançar com ele.
No dia seguinte, ela basta ver algo, ou comprar bolacha, ela proíbe, fala ‘vocês me proibiram
de brincar com vocês, também não vou-te dar minha bolacha’. Aqui em Pebane, amizade
também não dura porque tem destruidoras de amizade. Estão na escola essas pessoas. Vem
vê Fatu e Bia a brincar ali, ela chega, vai leva ela e vai com ela onde ela vai. Fala no ouvido e
nós que ficamos ali, ficamos tristes.
Em muitos casos, a pressão de pares e a ridicularização no grupo acabam im-
pedindo aos adolescentes de fazerem o que eles gostam, por vergonha. Finalmente,
outra barreira vivenciada na amizade, é a dificuldade de crianças e adolescentes de
abrir-se, contar as suas preocupações e pedir ajuda aos amigos: