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Este artigo está licenciado com a licença: Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
“Participar não é só fazer activismo”: olhares de crianças e adolescentes moçambicanos
*
Professora italiana, doutora em Estudos da Criança e especialidade em Sociologia da Infância, pela Universidade do
Minho. Docente da Universidade Eduardo Mondlane, Moçambique. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-8639-9686.
E-mail: elenamaputo@yahoo.it
Recebido em 25/10/2019 – Aprovado em 09/04/2020
http://dx.doi.org/10.5335/rep.v27i2.11429
“Participar não é só fazer activismo”: olhares de crianças e
adolescentes moçambicanos
“Participation is not just about activism”: views of Mozambican children and adolescents
“Participar no es solo hacer activismo”: opiniones de niños y adolescentes de Mozambique
Elena Colonna
*
Resumo
A participação de crianças e adolescentes tem sido geralmente entendida como um envolvimento em processos
de tomada de decisão e de acção em contextos públicos. A partir de uma pesquisa visual e participativa em três
contextos de Moçambique, o presente artigo apresenta as oportunidades e as barreiras para a participação que
crianças e adolescentes encontram nos seus contextos de vida quotidiana, a nível individual, nas relações de pa-
res e na família. Os resultados indicam que, apesar dos desaos enfrentados, a expressão individual, as amizades
e o contexto familiar representam espaços signicativos para exercer a sua agência e participar no sentido de
“tomar parte em” e sentir-se incluídos.
Palavras-chave: crianças, adolescentes, participação, Moçambique.
Abstract
Children and adolescents participation has generally been understood as involvement in decision-making pro-
cesses and action in public contexts. Drawing on visual and participatory research in three Mozambican con-
texts, this paper presents the opportunities and barriers to participation that children and adolescents face in
their everyday life, at individual level, in peer relationships and in their families. Results show that, despite the
challenges faced, individual expression, friendships, and family represent signicant spaces for exercising their
agency and participating as “taking part in” and feeling included.
Keywords: children, adolescents, participation, Mozambique.
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Elena Colonna
Resumen
La participación de niños, niñas y adolescentes en general se ha entendido como participación en procesos de
toma de decisiones y de acción en contextos públicos. Basándose en una investigación visual y participativa en
tres contextos mozambiqueños, este articulo presenta las oportunidades y las barreras para la participación que
los niños y adolescentes enfrentan en sus contextos de vida cotidiana, individualmente, en las relaciones con sus
pares y en sus familias. Los resultados indican que, a pesar de los desafíos enfrentados, la expresión individual,
las amistades y el contexto familiar representan un espacio signicativo para ejercer su agencia y participar
como “tomar parte en y sentirse incluido.
Palabras clave: niños, adolescentes, participación, Mozambique.
Introdução
Primeiro, participar não é só estar a fazer activismo, fazer
programas da Radio, não é estar a participar no Parlamento
Infantil, a participação começa dentro da nossa casa: se estão para
tomar uma certa decisão e não nos consultam ou quando nós
opinamos nos mandam calar, então esse é o primeiro obstáculo.
Mardel, 17 anos, Maputo.
A teorização da participação no âmbito da Sociologia da Infância tem sido for-
temente influenciada pela afirmação do direito à participação, no âmbito da Con-
venção dos Direitos da Criança. A partir da elaboração deste documento, tanto na
prática quanto na investigação, foi-se difundindo, a nível global, um entendimento
da participação que a identifica com o “falar e ser ouvido”, isto é, com o envolvimen-
to formal nos processos de tomada de decisão (MASON; BOLZAN, 2010). Neste
contexto, uma das formas dominantes de pôr em prática a participação infantil
é aquela em que as crianças são eleitas para representar os interesses de outras
crianças dentro de estruturas institucionais formais. Entretanto, Wyness (2009)
enfatiza que estas formas de participação tendem a reinforçar as desigualdades
existentes entre grupos de crianças e têm menos probabilidade de incorporar as
vozes dos grupos mais desfavorecidos e socialmente excluídos.
Mason e Bolzan (2010) defendem a necessidade de uma compreensão inter-
cultural do conceito de participação e apresentam as diferentes interpretações do
conceito que emergiram de um projecto de investigação em cinco países da região
pacífico-asiática: a participação como um direito, a participação como “tomar parte
em” e a participação como envolvimento na tomada de decisão. Nos países estuda-
dos, o entendimento da participação das crianças que resultou dominante foi o de
“tomar parte em” actividades, tanto como indivíduos quanto sobretudo como par-
ticipar com outros, como um grupo. De acordo com os autores, esta interpretação
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“Participar não é só fazer activismo”: olhares de crianças e adolescentes moçambicanos
faz todo o sentido em culturas onde a ênfase é colocada na colectividade e as res-
ponsabilidades em relação à família e à comunidade prevalecem sobre os direitos
individuais (MASON & BOLZAN, 2010).
À luz de uma análise intercultural, Liebel e Saadi (2010) propõem uma visão
mais ampla deste conceito, como uma inclusão activa e habitual nos processos so-
ciais essenciais. Segundo estes autores, a participação não seria um tipo particular
de comunicação com as crianças que deve ser organizado em modo pontual para
finalidades específicas, mas uma efectivação seminal e quotidiana de uma agência
significativa. Em trabalho anterior (COLONNA, 2012), já discuti a necessidade de
olhar a participação de crianças e adolescentes em Moçambique mais como um en-
volvimento relevante nos difentes contextos de vida do que apenas como ter “voz”
e participar nos processos de tomada de decisão. No presente artigo, a partir dos
resultados de uma pesquisa visual e participativa, pretendo discutir o que significa
a participação a nível individual, nas relações de pares e na família (LANSDOWN,
2018) para as crianças e os adolescentes (10-19 anos) de três contextos de Moçam-
bique.
Metodologia
Fazer uma pesquisa participativa com crianças e adolescentes sobre a sua
situação significa criar espaço para que eles possam contar a sua própria história,
com as suas palavras e a partir dos seus pontos de vista (FRISINA, 2013). Neste
empreendimento, é fundamental evitar perguntas de pesquisa que encorajam as
respostas “desejadas” e constrangem as possibilidades dos participantes de expres-
sar livremente as suas perspectivas (TISDALL; DAVIS; GALLAGHER, 2009).
Foi utilizado um método de pesquisa-acção participativa, inspirado no Photo-
voice, em que os adolescentes foram convidados a produzir fotos e desenhos para
representar os seus pontos de vista e opiniões e responder as seguintes questões:
O que te faz sentir bem? O que te faz sentir mal? Qual é o teu sonho? Os adoles-
centes explicaram individualmente as suas imagens aos investigadores e depois,
em pequeno grupo, criaram categorias de imagens e debateram sobre elas, identifi-
cando barreiras e oportunidades. Finalmente, os participantes e os pesquisadores
organizaram uma exposição das imagens para divulgar as “vozes” das crianças e
adolescentes nas comunidades em que eles estão inseridos (HUSSEY, 2016; PALI-
BRODA, 2009; HUGHES, 2012).
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Num país como Moçambique, marcado por disparidades regionais, étnicas,
culturais e socioeconômicas, existem muitas “infâncias” e “adolescências” e uma
pluralidade de possibilidades, expectativas, experiências, significados e desafios
para a implementação dos direitos de crianças e adolescentes. Foram assim selec-
cionados três diferentes contextos, isto é, três casos (STAKE, 2007) com caracterís-
ticas sociais, económicas, culturais, territoriais e infraestruturais específicas, onde
as vidas de crianças e adolescentes moçambicanos podem ter lugar: uma grande
cidade (Maputo), um município (Ribaué, em Nampula) e uma vila sede distrital
(Pebane, em Zambézia).
Os participantes da pesquisa foram 31 meninas e 32 rapazes, com idade com-
preendida entre os 10 e os 19 anos de idade. A selecção dos participantes procurou
garantir a diversificação do grupo, em termos de origens culturais, bairros ou ex-
periências de vida para fornecer uma perspectiva mais ampla sobre as diferentes
“infâncias” e “adolescências”. Em particular, houve diversidade em termos de re-
ligião (muçulmana e diferentes igrejas cristãs), escolaridade (de 1ª a 12ª e fora do
sistema escolar, incluindo quem nunca entrou na escola, quem abandonou e quem
terminou o ensino secundário), deficiência, filhos, casamento, orfandade e situação
familiar, trabalho e locar de residência, entre outros.
Em termos éticos, foi pedido o consentimento informado a todos os participan-
tes e também aos encarregados de educação, para os menores de 18 anos. Todos
autorizaram oralmente a usar os nomes reais. Entretanto, foi feita uma selecção
da investigadora das imagens e falas sensíveis, pelas quais não são mencionados os
nomes. A devolução dos resultados da pesquisa à comunidade através das “vozes”
de crianças e adolescentes fez parte da metodologia proposta e do compromisso
ético dos pesquisadores e considera-se que os benefícios em termos de empodera-
mento dos participantes foram maiores do que os riscos de exposição e represálias
(GRAHAM, POWELL, TAYLOR, ANDERSON, & FITZGERALD, 2013).
Para a elaboração deste artigo, foram seleccionados apenas os dados relacio-
nados com a participação de crianças e adolescentes, a nível individual, com os pa-
res e na família. Tratando-se de uma pesquisa visual e participativa, que procura
mostrar a realidade com os olhos de crianças e adolescentes e fazer ouvir as suas
vozes, o texto tem um caracter principalmente descritivo e as interpretações da
investigadora sobre elas são limitadas.
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“É uma maneira de ser autêntica”: identidade e expressão dos adolescentes
Gosto de ser diferente e especial. Eu estou a me a ver, eu na verdade
gosto muito de tirar foto e gosto de ser autêntica, achei diferente olhar
para o céu tentar ler o que está escrito apesar de não estar escrito nado
no céu, foi uma maneira de me identificar. É uma maneira de eu mostrar a
minha autenticidade, é um modo de ser autêntica, se formos autênticas as
pessoas vão gostar do jeito que nos somos. Egineta, 15 anos, Maputo
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As crianças e os adolescentes participantes identificaram elementos indivi-
duais que são necessários para poder actuar de forma positiva na sociedade, isto é,
para participar:
requisitos biológicos: ter vida, saúde e necessidades básicas satisfeitas;
requisitos identitários: ter identidade, emoções e sonhos e ter possibilidade
de expressá-los;
capacidades e competências: ter acesso a conhecimentos, ter habilidades
para a vida e a capacidade de relacionar-se com os outros.
Para as crianças e os adolescentes dos diferentes contextos, a vida é o pressu-
posto básico para qualquer forma de participação e não é algo tido como garantido,
mas que deve ser reconhecido e valorizado a cada momento: “Eu tenho vida e todos
também devem ter vida” (Helton, 19 anos, Pebane). Muitos referem que “amam a
vida” e, em particular, os de Ribaué enfatizam que se sentem bem quando come-
ram, tomaram banho e não têm nenhuma doença.
Ainda, para os adolescentes, é importante expressar através das palavras quem
eles são realmente, a sua identidade, os seus sonhos e as suas emoções. Para os
mais novos, apesar de eles acharem positivo partilhar e não guardar as suas emo
-
ções, costuma ser mais difícil conversar sobre o que sentem e preferem expressar-se
através do canto, da dança e das brincadeiras. Os adolescentes mais velhos dos três
contextos mencionam também a música, tanto escutar assim como produzir músi
-
cas, como algo que ajuda a gerir e expressar as suas emoções. Entretanto, a música
é produzida de forma diferente de acordo com o texto onde os adolescentes se encon
-
tram inseridos: eles utilizam um aplicativo do telefone ou do computador no contexto
urbano, em Maputo, enquanto usam instrumentos musicais como os batuques nas
zonas mais rurais, em Pebane e Ribaué. Segundo André, 18 anos, de Maputo: “a
música é a fonte de consolo em todos momentos. Se a tal pessoa quer expressar uma
coisa, ela poderia recomendar uma música para expressar o que ela sente”.
Para os adolescentes de todos os contextos, os conhecimentos representam o
primeiro passo em direcção a uma participação activa na sociedade: conhecer os
seus direitos é importante para poder concretizá-los, estudar é o caminho para
conseguir o emprego desejado e saber alguma coisa e ensiná-la aos outros aumenta
também a autoconfiança: “eu já reparei uma coisa, os adolescentes gostam muito de
mostrar que sabem uma coisa, fazer uma coisa nova, pode ser uma coisa da igreja,
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“Participar não é só fazer activismo”: olhares de crianças e adolescentes moçambicanos
do basquete, da escola, só de eu saber que uma coisa que a outra não sabe, tipo me
sinto mais, mais!” (Egineta, 15 anos, Maputo).
Os adolescentes de Maputo (15 – 19 anos) mencionam também algumas habi-
lidades individuais que consideram importantes para alcançar a felicidade e rea-
lizar os seus sonhos: ser optimista e capaz de sorrir em qualquer ocasião; ter foco,
determinação e força de vontade para alcançar os seus objectivos; ter paixão e dedi-
cação nas actividades desempenhadas; ter capacidade de fazer as escolhas certas,
avaliando custos e benefícios; não ter medo de tentar. Para elesm estas atitudes
representam a chave do sucesso no presente e no futuro e podem ser cultivadas nas
situações quotidianas, por exemplo, decidindo usar o dinheiro para ir passear na
praia em vez de sentar na barraca a beber ou experimentando um novo passo de
dança, mesmo sabendo que não vai sair bem.
Todos os adolescentes, independentemente da idade e do contexto, mostram o
prazer de estarem juntos como outras pessoas e de poder ajudar quem precisa. Os
adolescentes mais velhos de Maputo enfatizam a capacidade de colaborar com os
outros para alcançar um objectivo. A capacidade de ouvir e respeitar a opinião dos
outros, sobretudo dos mais velhos, é valorizada em todos os contextos. Outras prá-
ticas mencionadas, mas ainda pouco implementadas, são a demostração de afecto
(sorrir, abraçar) e pedir ajuda em caso de necessidade: “devemos falar para os nos-
sos mais velhos, para dizer que se acontecer uma coisa devemos correr para falar
para eles resolver muito rápido” (Artur, 13 anos, Pebane). Finalmente, na relação
com os outros, os adolescentes mencionam também a capacidade de não sucumbir
a opinião dos outros, respeitando a si mesmos e aos seus gostos. Algumas meninas,
que costumam ser gozadas pelos colegas devido à sua magreza, explicam:
[...] eu gosto do meu corpo assim. Pessoas falam que eu sou modelo, eu mesmo eu ser ma-
grinha, não me importo. Meu corpo não é como vosso, quando nos dão corrida com cão e na
educação física, vos ganho, vocês com vossa gordura também choram com vossa gordura e
querem ser magras como eu (Meninas, 12 -13 anos, Pebane).
As barreiras que se colocam à livre expressão dos adolescentes são, em parte,
especulares aos requisitos mencionados. Em termos biológicos, os adolescentes de
Ribaué mencionam as doenças como algo que lhes impede de participar das activi-
dades com os outros. As limitações nos requisitos identitários e nas capacidades e
competências acabam se influenciando umas com as outras, sendo que os adoles-
centes de Maputo e Pebane mencionam a falta de autoestima e o medo como obs-
táculos para a sua participação: uma vez que “a maioria dos adultos pensa que as
crianças não sabem nada, às vezes elas próprias se limitam”, acreditando que são
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novas e, portanto, sem valor e capacidades para participar. Esta ideia faz-lhes ter
medo de aproximar a polícia ou outras autoridades competentes para apresentar
queixa, caso aconteça alguma violação, tendo um impacto negativo na implemen-
tação de todos os seus direitos (provisão, protecção e participação). Finalmente,
enquanto as condições económicas não tinham sido referidas pelos participantes
como um elemento necessário para a participação, a falta de meios financeiros é
apontada como um entrave, porque mina a sua autoeficácia (BANDURA, 1997),
isto é, as crenças individuais sobre a sua capacidade de alcançar objectivos e so-
nhos. Este aspecto é mais notável nos contextos de Pebane e Ribaué, onde efecti-
vamente os participantes viviam em condições materias desfavorecidas em relação
aos da cidade de Maputo.
“União de amigos” e destruidoras de amizade”: as relações de pares
Eu gosto de brincar com os meus amigos. Brincar me faz sentir bem.
Delmiro, 13 anos, Ribaué
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“Participar não é só fazer activismo”: olhares de crianças e adolescentes moçambicanos
Essa foto saquei porque me faz sentir bem, porque gosto de conviver
com as minhas amigas. Vanessa, 12 anos, Pebane
Os amigos representam um elemento central na vida de todos os participan-
tes. Para as participantes de Pebane, de 12-14 anos, a amizade é “uma união de
amigos, estamos unidos, ficamos unidos, falando sobre coisas boas”. Em geral, para
os mais novos, a amizade é baseada sobretudo nas brincadeiras, enquanto os mais
velhos enfatizam as conversas e os interesses comuns. As actividades entre amigos
também se diferenciam de acordo com o género. Enquanto as meninas mais novas
cantam, dançam e fazem jogos tradicionais e as mais velhas conversam, os rapazes
de todas as idades são mais virados para actividades físicas e desporto (sobretudo
futebol). Em muitos casos, sobretudo em Pebane e Ribaué, a amizade entre ho-
mens e mulheres é mais rara e não muito aceite socialmente. Para as crianças e
os adolescentes, a amizade representa um espaço de aprendizagem, troca de ideias
e partilha de conhecimentos. Enquanto os participantes mais novos, através dos
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amigos, “aprendem brincando”, os mais velhos gostam de partilhar os seus conhe-
cimentos para ficarem mais “famosos”:
Esse jogo é txemurama, em português, “comermos arroz”. Assim aí puseram um pau, estão aí
a comer pouco pouco se deixar cair o pau, vai correr até bambu a pessoa vão lhe bater. Esse
jogo nos ensina a sorrir. A brincar, a comer devagar, não comer depressa. Meninas, 12 – 14
anos, Pebane
Uma vez que ela vai ensinar uma pessoa e vai dizer eu é que lhe ensinei, acho que vai ser
bonito e engraçado. Acho que a pessoa gosta, porque vai dizer: hi! eu é que lhe ensinei, eu é
que ensinei Fátima eu é que ensinei, então os adolescentes gostam muito, ficam populares por
causa disso, a maioria gosta de ser populares, ou aumenta teu próprios conhecimentos porque,
quando você ensina outra pessoa acabas aprendendo coisas novas. Egineta, 15 anos, Maputo
Apesar de os amigos serem tão importantes, os participantes referem que não
é fácil conseguir amigos verdadeiros, capazes de escutar, aconselhar e partilhar to-
dos os momentos. Estes amigos se diferenciam dos conhecidos, com os quais podem
andar juntos, “bater papo” e partilhar vícios (beber, fumar), mas não existe uma
comunhão e uma expressão aberta da sua identidade e dos seus sentimentos. Ain-
da, os adolescentes de Maputo sugerem que é necessário ser proactivos na procura
de amigos, não sendo recomendável ficar em casa e lamentar que os amigos não
visitam, mas sim fazer o primeiro passo e ir ao encontro deles.
Entretanto, mesmo considerando a amizade uma experiência geralmente
positiva, é juntos dos amigos que os participantes vivenciam diferentes situações
de exclusão. Em particular, os adolescentes sentem-se mal quando: os pares ex-
cluem-nos das conversas e das brincadeiras; os pares “roubam-lhes” os amigos; os
pares gozam com eles; os pares querem mostrar-se superiores. As participantes de
Pebane, de 12 - 14 anos de idade assim descrevem o conceito de “destruidoras de
amizade”:
Quando encontra as outras a brincar, quando essa aproxima, outras proíbem essa de brincar.
Porque ela foi a última a chegar. Ou quando querem dançar, alguém prepara o passo dele para
dançar, então vem uma menina lhe proíbem, falam para procurar alguém para dançar com ele.
No dia seguinte, ela basta ver algo, ou comprar bolacha, ela proíbe, fala ‘vocês me proibiram
de brincar com vocês, também não vou-te dar minha bolacha’. Aqui em Pebane, amizade
também não dura porque tem destruidoras de amizade. Estão na escola essas pessoas. Vem
vê Fatu e Bia a brincar ali, ela chega, vai leva ela e vai com ela onde ela vai. Fala no ouvido e
nós que ficamos ali, ficamos tristes.
Em muitos casos, a pressão de pares e a ridicularização no grupo acabam im-
pedindo aos adolescentes de fazerem o que eles gostam, por vergonha. Finalmente,
outra barreira vivenciada na amizade, é a dificuldade de crianças e adolescentes de
abrir-se, contar as suas preocupações e pedir ajuda aos amigos:
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Há muitos rapazes ou meninas que gostam de se angustiar, serem por exemplo essa menina
aqui está nervosa, está triste, não quer contar para amiga dela o que está a sentir, ela foi viola-
da ou aconteceu alguma uma coisa e ela não quer contar para amiga dela, então por isso fica
sobre ela só, se aconteceu uma coisa, ela se contar para amiga podia-lhe ajudar a dizer essa
coisa que ela está a sentir. Rapazes, 12 -13 anos, Pebane
“Uma mãe ou pai dizer amo-te’ a informar a um lho é muito difícil”: a vida familiar
Outra coisa que torna o meu dia especial e alegre, é conversar
com a minha mamã. Érica, 16 anos, Maputo
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A família constitui um espaço muito importante de convivência e inclusão so-
cial, entretanto apresenta oportunidades e barreiras para a participação de crian-
ças e adolescentes, em diferentes âmbitos:
existência da família;
respeito pelos direitos das crianças;
relação pais – filhos;
apoio recíproco;
• liberdade.
Os adolescentes consideram que “a família é a base de tudo. Tudo o que você
pode ser, o que você pode conquistar também está na base da família e muitas vezes
não beneficia só você, beneficia também a família, então a família é uma coisa
muito importante” (Rapazes, 12 -13 anos, Pebane). Estar com a família e ver os fa-
miliares felizes é motivo de satisfação para os participantes da pesquisa. Em geral,
os adolescentes valorizam os pais, os irmãos, os tios e os avós, dependendo da sua
situação familiar e o nascimento de mais um membro da família é recebido com
grande alegria: “quando a tua mãe está grávida, já deu filho, você fica emocionado,
ter um irmão ou uma irmã” (Artur, 13 anos, Pebane).
Quando as meninas se tornam mães, uma realidade bastante comum em Mo-
çambique onde cerca metade das mulheres têm um filho antes dos 18 anos (UNI-
CEF, 2015), os outros familiares passam para o segundo plano e o bem-estar dos
seus próprios filhos é considerado como principal influenciador do seu próprio bem-
-estar:
A minha filha, eu gosto assim porque ela está bem, amanheceu bem. Ela é minha filha, e ela
está bem, e ela está a brincar. Eu não fico bem quando está doente. Assim se está aí deitada
melhor levar ao hospital, eu também vou ficar bem e ela também vai ficar bem. Mércia, 16 anos,
Ribaué
Nos contextos estudados, não ter família é, portanto, motivo de tristeza. Esta
situação é apresentada por um participante de Maputo, que nunca conheceu o pai
e sente falta de um guia masculino na sua vida, e também por um participante
de Ribaué que está preocupado com a ausência dos avós, uma vez que a tradição
local exige que sejam eles a assinar na cerimónia de casamento. A distância dos
familiares representa outro motivo de tristeza, amenizada pelas visitas ocasionais
que acontecem: “eu não gosto de ficar longe dos meus irmãos. Nos somos 9, depois
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“Participar não é só fazer activismo”: olhares de crianças e adolescentes moçambicanos
eles saíram, outro para África do Sul, outros foram viver nas outras casas, eu vou
la nas férias, às vezes eles vêm” (Isaura, 12 anos, Maputo).
O conhecimento e o respeito pelos direitos das crianças representariam uma
oportunidade de participação na vida familiar na perspetiva de crianças e adoles-
centes envolvidos no estudo: “os direitos, os nossos pais devem conhecer os nossos
direitos porque ser um pai assim uma criança fica lá muito feliz, o dia depois os
nossos pais nos dão amor, carinho, isso” (Rapazes, 12 -13 anos, Pebane). Entre-
tanto, em muitos casos, estes direitos não são conhecidos e implementados e a
vida dos participantes é marcada por experiências de diferentes tipos de violência
doméstica. A situação é particularmente crítica para os enteados, que costumam
ser discriminados e maltratados por madrastas e padrastos, como referido pelos
adolescentes de Pebane e Ribaué.
Alguns adolescentes, sobretudo os mais velhos de Maputo, referem ter uma
relação próxima e aberta com os seus pais e esta é uma experiência positiva para
eles. Para os outros, existem geralmente espaços limitados de conversa. Mesmo
sobre os comportamentos dos filhos, os adultos costumam conversar só entre eles,
enquanto os filhos gostariam de ser corrigidos abertamente pelos pais. No caso os
pais não tomem a iniciativa de falar com eles, alguns adolescentes sugerem que
eles mesmos deveriam aproximar-se dos pais para conversar, mas outros confes-
sam que têm medo de dar o primeiro passo, porque acham que os pais poderiam
zangar e levantar a voz, não considerando apropriado este tipo de interacção:
Num quintal, uma criança pode falar ‘pai, aqui podemos jantar assim’, o pai vai recusar, vai
dizer ‘você não tem idade de falar, eu é que sou mais velho que mando aqui‘, determinar a
criança, ‘você não nasceu a mim!’ Rapazes, 15 – 21 anos, Ribaué
Segundo os participantes, existem pais que não têm paciência de ensinar aos
filhos e ficam nervosos com facilidade quando estes erram. A expressão de afecto
através de gestos e palavras é outra barreira identificada na relação entre pais e
filhos. Na melhor das hipóteses, sobretudo em Pebane e Ribaué, o amor dos pais
é manifestado através do apoio material às necessidades dos filhos. Da mesma
forma, os filhos não estão acostumados a manifestar verbalmente o seu afecto para
os pais e a agradecer por aquilo que têm feito por eles. Finalmente, a sinceridade
entre pais e filhos é valorizada pelos participantes: eles não devem mentir para os
adultos para que estes possam continuar a confiar neles. Ao mesmo tempo, quando
um dos pais não é sincero com a família, ausentando-se de casa sem informar é
motivo de tristeza e preocupação para os filhos.
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Elena Colonna
As crianças e adolescentes consideram muito importante o apoio dos pais, em
termos emocionais mas sobretudo materiais, para satisfazer as suas necessidades
e alcançar os seus objectivos. A falta de apoio por parte dos pais promove mal-estar
nas crianças e nos adolescentes. Da mesma forma, os participantes reconhecem
que é seu dever apoiar os pais e contribuir para a vida familiar, cuidando dos ir-
mãos, realizando trabalho domésticos e colaborando nas actividades agrícolas e
nos negócios da família. Um dele refere que sente-se mal quando um familiar dis-
tante precisa de ajuda, por exemplo porque está doente, e ele não consegue apoiar.
Um jovem de Ribaué refere ter medo da morte porque deixaria os familiares sem
o seu apoio. Segundo os participantes, a inveja representa uma barreira para o
apoio no seio da família, levando alguns familiares a envolver-se na feitiçaria para
prejudicar os outros:
[...] tem inveja que a própria família vira uma coisa perigosa. Por exemplo quando você tem, o
outro não tem, então têm pessoas da família que se envolvem nas drogas tradicionais para te
prejudicar, porque você tem e eles não ficaram felizes (Helton, 19 anos, Pebane).
A liberdade experienciada no seio das famílias é um aspecto discutido pelos
participantes. Em particular, eles criticam o facto de os pais lhes proibirem de sair
para brincar (no caso dos mais novos) ou para ir as festas (no caso dos mais velhos).
O que eles acham apropriado é estabelecer limites, uma vez que a proibição total
prejudica a participação e o bem-estar de crianças e adolescentes e também os
motiva a infringir a regra estabelecida. Os adolescentes de Maputo referem que,
em relação à escolha do curso universitário, hoje os pais deixam maior liberdade
em relação ao passado. Pelo contrário, as adolescentes de Ribaué que terminaram
a 12ª estão à espera de os pais conseguirem uma oportunidade para elas continua-
rem os estudos.
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“Participar não é só fazer activismo”: olhares de crianças e adolescentes moçambicanos
Considerações nais
O que me faz sentir bem em primeiro lugar é a minha família, quando estou
com a minha família sinto-me muito a vontade e em segundo lugar sinto-me
a vontade quando estou com os meus amigos sem brigas e sem brincadeiras
de mau gosto. Isto me faz sentir bem a vontade. Artur, 13 anos, Pebane
Para as crianças e os adolescentes envolvidos no estudo, participar não é ape-
nas o envolvimento em actividades e contextos formalmente reconhecidos como
tendo um impacto na vida social, mas sim um exercício quotidiano, que começa
de si mesmos, da forma individual de expressar-se e apresentar-se ao mundo e,
passando pelas relações interpessoais com os amigos e os familiares, chega até a
escola, a comunidade e a sociedade em geral.
A inclusão social, na sua dimensão relacional, isto é, experimentar um senti-
mento de pertença e aceitação (BAILEY, 2005) é mencionada por todos os partici-
pantes como uma experiência positiva, seja com amigos, familiares e vizinhos, as-
sim como na igreja ou mesquita, nas equipas e nas associações locais. No contexto
da Convenção dos Direitos das Crianças, três principais direitos remetem para a
participação de crianças e adolescentes na sociedade:
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a liberdade de expressão, associação e religião;
o direito à informação;
o direito a dar opinião e esta ser considerada, em todos os assuntos que os
afectam.
Ao longo da pesquisa, nota-se que o primeiro direito, com algumas barreiras,
é vivenciado pelos adolescentes de todas as idades e de todos os contextos, sobre-
tudo ao nível dos amigos, da família e da comunidade. Os adolescentes participam
de diferentes formas na sociedade, através da brincadeira, da música, da dança,
do desporto e da religião, através da sua contribuição nas actividades domésticas
e produtivas na família e na comunidade. Entretanto, o acesso à informação e o
direito à opinião representam uma realidade ainda “incipiente” e reservada quase
exclusivamente aos adolescentes mais velhos e que vivem no contexto urbano de
Maputo.
As crianças e os adolescentes moçambicanos têm poder de decisão limitado
desde o nível familiar, em particular as meninas que são casadas com homens
mais velhos, até ao nível comunitário e ao nível nacional de discussão de políticas
(BIZA, 2007). Entretanto, a pesquisa mostrou que eles encontram espaço para pro-
mover novos conhecimentos, atitudes e práticas nas suas vidas, nas suas relações
de amizade e nas suas famílias. Enfrentar desafios e relações de poder desiguais
não significa ficar calados ou ser passivos e as situações difíceis podem inspirar os
mais novos a engendrar soluções criativas (HONWANA, 2014).
Nota
1
Os dados apresentados são resultado de uma pesquisa desenvolvida com financiamento do UNICEF Mo-
çambique no âmbito da Análise da Situação dos Adolescentes em Moçambique 2018. Entretanto, as opi-
niões expressas no artigo são da exclusiva responsabilidade da autora, não reflectindo a política ou a
posição da UNICEF.
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