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ESPAÇO PEDAGÓGICO
v. 27, n. 2, Passo Fundo, p. 420-436, maio/ago. 2020 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
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Daniele Vanessa Klosinski, Adriana Salete Loss
Cotidianamente, nas sociedades, vive-se um aligeiramento de ações, trans-
pondo-se em informações imediatistas, que têm por característica o saber no senti-
do de estar informado e não de sabedoria. Esse excesso de informação não é expe-
riência, como afirma Larrosa (2015), pois não deixa lugar para tal. Ao anular suas
possibilidades, potencializa sujeitos fadados a nutrirem-se de informes tais como
se apresentam, sem questionamento ou, até mesmo, aprofundamento de temáticas
ali encontradas, opinando sobre tudo, sem efetivamente saber.
Esse parece ser o retrato da atual conjuntura social desenvolvida com as
crianças, especialmente ao que tange ao processo educacional da infância. As insti-
tuições infantis, em seu cotidiano, estimulam as crianças a esse processo aligeirado
de informações, jogando-lhes um turbilhão de possibilidades, sem refletir sobre
esses processos e sua adequação às crianças.
Dessa forma, as vivências restringem-se, cada vez mais, à obediência exacer-
bada de ordens pelo controle de seus corpos e ações.
Consequentemente, olha-se para as crianças numa perspectiva verticalizada,
de cima para baixo, impondo-lhes aquilo que o adulto e a sociedade consideram
conveniente. De maneira pertinente, Dewey (1979) contribui para essa reflexão:
Finalmente, a teoria da preparação obriga-nos a recorrer em grande escala ao uso de mo-
tivos artificiais de prazer e de dor. Como o futuro não tem poder estimulante e orientador
quando separado das possibilidades do presente, algo deve ser descoberto para exercer
aquela função. Empregam-se então promessas de recompensa e ameaças de punição. Traba-
lho sadio, realizado por motivos atuais e inerente ao próprio processo de viver, é, por assim
dizer, automático e inconsciente. O estímulo se acha na situação que se depara atualmente
a alguém. Mas desde que se atende a esta situação, precisa-se dizer aos alunos que, se não
procederem do modo prescrito, sofrerão a imposição de pena; e, caso obedeçam, podem es-
perar daí a algum tempo, no futuro, recompensas a seus sacrifícios presentes. Todos sabem
quão fartamente se houve de recorrer aos sistemas de punições nos métodos educativos que
esquecem as possibilidades presentes, em proveito da preparação para o futuro. Para que,
depois, o desgosto pela rudeza e esterilidade desse método faça o pêndulo oscilar para o ex-
tremo oposto e já agora, não apenas, mas atrações artificiais, engodos, rebuçados de açúcar,
que farão com que os alunos aceitem as doses de informações por que não se interessam,
mas que lhes devem ser misturadas em virtudes das necessidades futuras (p. 47).
Por fim, nota-se que muitas experiências são nulas na infância. Isso porque os
grupos sociais estão desenvolvendo sujeitos para atenderem às suas especialidades
e às necessidades impostas por um sistema capitalista que os obriga, desde cedo, a
serem responsáveis por si.
No paradigma neoliberal, é crucial a preparação das crianças o mais cedo pos-
sível, negando-lhes o espaço de vivências da infância, como também a imaturidade
como potencial em desenvolvimento. Assim, potencializam-se sujeitos individua-