
494
ESPAÇO PEDAGÓGICO
v. 27, n. 2, Passo Fundo, p. 481-495, maio/ago. 2020 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
Este artigo está licenciado com a licença: Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Simone dos Santos Pereira, Iracema Santos do Nascimento
apropriou do centro de nossa aldeia”. O autor convoca-nos a “reconhecer a impor-
tância de nossas próprias matrizes de pensamento e alma para que seja possível
dialogar com esta parte da cultura ocidental no mesmo grau de validade epistemo-
lógica”
16
(FERREIRA-SANTOS, 2012, p. 3-4, tradução nossa a partir do espanhol).
Entre tantas outras narrativas, as que foram aqui apresentadas colaboram
para a reescrita e a releitura da história do Brasil, de sua cultura e de seu povo,
assim como de seus corpos. Tais histórias devem ser oferecidas às crianças peque-
nas como um ingresso mais justo (e cientificamente mais bem informado) na cul-
tura escolar, contribuindo para a adequada implementação das Leis 10.639/2003 e
11.645/2008.
Notas
1
Selecionado pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), em 2011, distribuído para aproximada-
mente 29 mil escolas públicas no Brasil. Recomendado pela Fundação Nacional do Livro em 2010.
2
Vencedor do prêmio Programa de Ação Cultural (ProAC) de Cultura Negra em 2012 em São Paulo. Em 2014
foi distribuído às unidades educacionais da cidade de São Paulo, pelo projeto Leituraço que consistia “[...]
na difusão, estímulo à leitura e estudo da produção literária africana e afro-brasileira” Disponível em: ht-
tps://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/direitos_humanos/igualdade_racial/noticias/?p=184138.
A escolha deste título para análise aqui é anterior à polêmica, em 2018, em torno de sua suspensão por uma
unidade educacional em município fluminense depois da reclamação de uma família, por motivos religiosos.
Após ganhar enorme visibilidade e críticas nas redes sociais, a escola voltou atrás na adoção do livro.
3
Agradecemos às professoras, crianças, funcionárias (os) e famílias da EMEI pelos tempos, espaços e inte-
rações compartilhados.
4
No início de cada ano letivo, no período de acolhimento, há uma atividade coletiva em que as crianças e
suas famílias ouvem uma história da Abayomi e confeccionam sua própria boneca de pano. Conforme texto
produzido coletivamente, por uma turma no ano de 2017, e publicado no jornal da escola: “As pessoas da
África foram pegas a força para vir para o nosso país que é o Brasil trabalhar. Elas viajavam de barco e as
crianças choravam porque não tinham brinquedos. Então as mães rasgavam as roupas e faziam bonecos
com nós de pano e eles acalmavam e brincavam. Essas bonecas se chamam Abayomi”.
5
Os livros que ficam à disposição das crianças são escolhidos coletivamente pelas professoras nas reuniões
da Jornada Especial Integral de Formação (JEIF).
6
A obra está disponível pelo programa Livros animados A cor da Cultura no Canal Futura. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=70THqWkRg9w&list=PLNM2T4DNzmq5aA3D0dOxNSrhsu9g7rxcS.
7
Seu nome, na língua Iorubá, significa Rainha da noite.
8
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=FQqRY4NUxTg. Acesso em: 20. jan. 2020.
9
Ori significa cabeça e Xá senhor(a), protetor(a).
10
Que engloba tanto a visão de mundo, quanto as religiões iorubás, assim como o Candomblé no Brasil e a
Santería na América Central.
11
Localizadas na África Ocidental, na atual República do Benim.
12
Compreendemos gênero como “[...] um dispositivo cultural, constituído historicamente, que classifica e po-
siciona o mundo a partir da relação entre o que se entende como feminino e masculino” (LINS, MACHADO,
ESCOURA, 2017, p. 10).
13
Sobre a generificação do mundo, ver Connell, Pearse Gênero: uma perspectiva global (2015). Sobre o fe-
minismo negro brasileiro, destacam-se a pioneira Lelia Gonzalez e a contemporânea Sueli Carneiro. De
Gonzalez, sobressaem-se artigos como As amefricanas do Brasil e sua militância, Por um feminismo afro-
latinoamericano, A importância da organização da mulher negra no processo de transformação social,
todos de 1988. De Carneiro, podemos mencionar Racismo, Sexismo e Desigualdade no Brasil (2011).