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ESPAÇO PEDAGÓGICO
v. 27, n. 2, Passo Fundo, p. 544-568, maio/ago. 2020 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
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A escrita do gênero textual poema no ensino fundamental I
Ou seja, percebeu-se que a escola “produzia” muitos analfabetos funcionais, indiví-
duos que dominavam as técnicas do ler e do escrever, todavia, eram incapazes de
usá-las em boa parte das atividades sociais que as envolviam. Assim sendo, com
tais mudanças de concepção de ensino e de adoção do letramento como prática
necessária para a inserção dos sujeitos na cultura escrita, reconheceu-se também a
urgência do ensino dos gêneros textuais, já que esses são entendidos como materia-
lização dos textos que ocorrem no cotidiano, ou seja, os gêneros textuais apresen-
tam-se como formas que concretizam toda e qualquer comunicação verbal, a qual
não ocorre senão por meio deles, o que torna obrigatório seu ensino.
Neste sentido, Bakhtin (2003) explica que os gêneros textuais são construções
que, para atender determinadas especificidades de um campo discursivo, assumem
conteúdo temático, estrutura de linguagem e construção composicional relativa-
mente estáveis. Ou seja, as diferentes atividades humanas, mediadas pelo uso das
diferentes linguagens, necessitam, muitas vezes, dos gêneros textuais (escritos ou
orais) para que ocorram, os quais apenas ocorrerão com êxito se respeitarem as
características próprias do campo discursivo no qual é utilizado.
Os estudos de Marcuschi (2002) e Schneuwly e Dolz (2004) seguem nessa mes-
ma direção. Marcuschi (2002) considera que toda comunicação verbal depende da
ocorrência de gêneros textuais; para o autor, é por meio deles que as ações socio-
discursivas “dizem” e “agem” sobre o mundo. Tais ações se dão de modo “relativa-
mente estáveis realizadas em textos situados em comunidades de práticas sociais
e em domínios discursivos específicos” (MARCUSCHI, 2002, p. 24). Isso significa
que, para funcionar em determinados espaços sociais, é preciso que haja certa;
padronização, isto se dá, como supracitado, em relação aos conteúdos e conheci-
mentos dizíveis, à estrutura comunicativa (o “esqueleto” composicional) e ao estilo
de linguagem empregados no texto, que, com tais características, se concretizam
em um gênero textual (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004).
Conclui-se, então, que todas as variantes envolvendo a escrita dos gêneros
textuais devem ser ensinadas nas escolas. Para Marcuschi (2002, p. 32-33), “to-
dos os textos se manifestam sempre num ou noutro gênero textual”, assim, “um
maior conhecimento do funcionamento dos gêneros textuais é importante tanto
para a produção como para a compreensão”. Analogamente, Val (2007), reconhe-
cendo que toda comunicação verbal se dá por meio dos gêneros textuais, ressalta
a necessidade do ensino dos gêneros textuais nas escolas, uma vez que, segundo a
autora, muitos estudantes chegam à escola com pleno domínio de gêneros menos
elaborados, principalmente os orais, contudo, é, por meio da escola, que aprendem