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ESPAÇO PEDAGÓGICO
v. 27, n. 2, Passo Fundo, p. 596-600, maio/ago. 2020 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
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Imaginação e criação na infância
a família, a escola e a sociedade uma nova oportunidade de leitura sobre essa temá-
tica fantástica, considerando assim o modo singular e especial de Vigotski.
Os temas e conceitos abordados por esse livro dizem respeito aos vários anos
de investigação realizada por Vigotski a respeito da imaginação e da criação como
elementos essenciais para a construção do conhecimento científico, artístico e cul-
tural pelo sujeito. O pensador e psicólogo apresenta, de forma muito clara, uma
analogia sobre os conceitos de imaginação e de criação e fala sobre como esses
elementos se desenvolvem como resultado da recuperação e da reelaboração das
experiências de vida da criança.
No desenrolar da obra, encontra-se um conjunto de reflexões sobre o modo
pelo qual a criança experiencia as situações e os acontecimentos ao seu redor. Nela,
encontram-se oito capítulos que trazem argumentos teóricos do autor com relação
à imaginação criadoura, sendo esses capítulos compostos pelos seguintes temas:
a) criação e imaginação, b) imaginação e realidade, c) o mecanismo da imaginação
criativa, d) a imaginação da criança e do adolescente, e) os suplícios da criação, f)
a criação literária na idade escolar, g) a criação teatral na idade escolar, h) o dese-
nhar na infância.
No primeiro capítulo do livro, intitulado “criação e imaginação”, Vigotski
(2018, p. 13) conceitua a “atividade criadora do homem” como “aquela em que se
cria algo novo”. Para reforçar esse argumento, o autor explica que há dois tipos de
atividades realizadas pelo homem denominadas de reconstituidor ou reprodutivo e
que estão inteiramente ligadas à memória. Para o autor, isso significa compreender
que a memória refere-se à capacidade do sujeito de desenvolver atividades como,
por exemplo, assimilar, mudar ou adaptar, entre outras, frente a novas experiên-
cias cotidianas da vida do sujeito.
No segundo capítulo, “imaginação e realidade”, Vigotski esclarece que, para
compreender o mecanismo da imaginação e da atividade de criação, é importante
entender a relação entre a fantasia e a realidade no comportamento humano. Para
explicar tal relação, o autor apresenta quatro aspectos essenciais que podem aju-
dar nesse entendimento. O primeiro aspecto refere-se às construções fantasiosas,
como, por exemplo, os contos, as fábulas, as lendas e os mitos, sendo esses entendi-
dos como algo distante da realidade, porém, são frutos das experiências de vida hu-
mana e que, por algum motivo, sofrem uma reelaboração da imaginação, tomando
como combinações os traços fantasiosos. No segundo aspecto, Vigotski ressalta que
a própria experiência se apóia na imaginação para criar novas representações que
se desenvolvem na relação entre as ideias já formuladas e a experiência do outro.