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ESPAÇO PEDAGÓGICO
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Maurício Perondi
v. 28, n. 1, Passo Fundo, p. 237-257, jan./abr. 2021 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
e com as próprias culturas geracionais. Segundo Urteaga (2011, p. 19, grifo da
autora, tradução nossa):
Culturas juvenis foi uma noção vital para reintroduzir o sujeito jovem como ator e poder
fazer ouvir as vozes dos segmentos juvenis marginalizados da investigação social. Feixa,
Reguillo, Pere Islas, Valenzuela, Marcial, Urteaga (quem lhes escreve) e muitos outros
investigadores enfatizamos a importância de ler as representações e práticas juvenis como
metáforas da mudança social, rompendo com as interpretações lineares e “fazendo falar” o
conjunto de elementos com os quais os jovens interagem – desde diferentes âmbitos e loca-
lizando-se em múltiplas dimensões como classe, gênero, geração, etnia, território, espaço
urbano-rural – e com os quais constroem novas formas e concepções de política, de relações
sociais e afetivas, de cultura, etc..
Tal apontamento enfatiza o uso de noção das culturas juvenis na compreensão
das abordagens recentes sobre os jovens, em que são situados de uma maneira di-
ferenciada, com maior visibilidade e a partir do pressuposto de que produzem uma
cultura diferente de outras (hegemônica e parental).
Ao conceber os jovens como produtores de uma cultura própria, considera-se
que são sujeitos ativos, dotados de capacidade de ação. Suas ações podem ganhar
espaço nos mais diversos âmbitos, inclusive em coletivos de atuação social, como
é o caso dos grupos abordados neste estudo (PERONDI, 2013). Para o aprofunda-
mento temático das culturas juvenis, têm-se como referência as formulações de
Feixa (2006), autor com reconhecida produção na área.
A maneira plural como os jovens vivem suas vidas depende de diversos fa-
tores, como as condições sociais, as relações que estabelecem e as oportunidades
que lhes são oferecidas. Por mais que existam diferentes juventudes, os jovens não
vivem este momento de forma isolada, mas através de aproximações com seus coe-
tâneos, que buscam respostas semelhantes às suas, ocasionando o surgimento das
culturas juvenis. Para Feixa (2006, p. 105, tradução nossa), estas culturas podem
ser compreendidas em sentido amplo e em sentido restrito:
Em um sentido amplo, as culturas juvenis referem-se à forma como as experiências sociais
dos jovens se expressam coletivamente por meio da construção de estilos de vida distintos,
localizados principalmente no tempo livre, ou em espaços intersticiais da vida institucio-
nal. Num sentido mais restrito, definem o surgimento de “micro-sociedades juvenis”, com
expressivos graus de autonomia em relação às “instituições adultas”, dotadas de espaços
e tempos específicos, e que se configuram historicamente nos países ocidentais a partir
da Segunda Guerra Mundial, coincidindo com grandes processos de mudança social nos
campos econômico, educacional, trabalhista e ideológico.
O sentido amplo, apontado pelo autor, remete às experiências sociais que os
jovens expressam coletivamente a partir da construção de estilos de vida e ma-