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Saberes de adolescentes quilombolas incorporados aos saberes cientícos na
construção de roteiro educativo sobre gravidez
Knowledge of quilombola teenagers incorporated into scientic knowledge in the construction
of an educational script on pregnancy
Conocimiento de adolescentes quilombolas incorporado al conocimiento cientíco en la
construcción de un guión educativo sobre el embarazo
Adriana Nunes Moraes-Partelli*
Marta Pereira Coelho**
Resumo
Este estudo tem como objetivo ilustrar como os saberes de adolescentes de uma comunidade quilombola foram
incorporadas aos saberes cientícos na elaboração do roteiro de duas histórias em quadrinhos em um material
educativo sobre gravidez não planejada no contexto de suas vivências e experiências, utilizando o banco de
dados de uma pesquisa participativa, que empregou o método criativo e sensível, pelas dinâmicas de criativi-
dade e sensibilidade, que forneceu imagens e narrativas que foram empregadas no desenvolvimento do en-
redo das histórias A misteriosa gravidez pelo beijo” e “Escola: espaço para diálogos e promoção da saúde”, as
quais compõem o almanaque intitulado: “Lendas e histórias de gravidez na adolescência em uma comunidade
quilombola. Além das histórias, o almanaque aborda demandas cientícas com curiosidades, passatempo e
“Você sabia. As histórias, produzidas de forma participativa, valorizaram experiências, signicados, divergências
e convergências entre os saberes populares e cientícos, traduzindo a realidade do cotidiano dos adolescentes
afro-brasileiros de forma útil, prazerosa, didática e esclarecedora, para ser utilizada no processo educativo.
Palavras-chave: gravidez na adolescência; comportamento e mecanismos comportamentais; grupo com ances-
trais do continente africano; educação para a saúde comunitária.
* Graduada em Enfermagem e Obstetrícia pela Universidade Federal do Espírito Santo. Especialista em Enfermagem
Neonatal. Mestre em Ciências Fisiológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo. Doutora em Enfermagem
pela Escola de Enfermagem Anna Nery – UFRJ. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-9978-2994. E-mail: adrianamo-
raes@hotmail.com
** Doutora em Enfermagem. Professora adjunta da Universidade Federal do Espírito Santo, Centro Universitário Norte
do Espírito Santo, Departamento de Ciências da Saúde, São Mateus, Espírito Santo. Orcid: https://orcid.org/0000-
0002-2046-6954. E-mail: martapereiracoelho@hotmail.com
Recebido em: 26/10/2020 – Aprovado em 09/08/2021
http://dx.doi.org/10.5335/rep.v28i2.11772
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Abstract
This study aims to illustrate how the knowledge of adolescents from the quilombola community was incorpo-
rated with scientic knowledge in the preparation of a script for two comic strips in an educational material
about unplanned pregnancy in the context of their experiences using the database of a participatory research,
which used the Creative and Sensitive Method, for the Dynamics of Creativity and Sensitivity, which provided
images and narratives that were used in the development of the storyline The mysterious pregnancy by kissing”
and the “School: space for dialogues and health promotion ”that makes up the almanac entitled:“ Legends and
stories of teenage pregnancy in a quilombola community ”. In addition to the stories, the almanac addresses
scientic demands with curiosities, a hobby and you knew it. The stories produced in a participatory way valued
experiences, meanings, divergences and convergences between popular and scientic knowledge, translating
the daily reality of Afro-Brazilian teenagers in a useful, pleasant, didactic and enlightening way, to be used in the
educational process.
Keywords: pregnancy in adolescence; behavior and behavior mechanisms; African continental ancestry group;
education, community health.
Resumen
Este estudio tiene como objetivo ilustrar cómo se incorporó el conocimiento de las adolescentes de la comuni-
dad quilombola con el conocimiento cientíco en la elaboración de un guión para dos historietas en un material
educativo sobre el embarazo no planeado en el contexto de sus vivencias utilizando la base de datos. de una
investigación participativa, que utilizó el Método Creativo y Sensible, para la Dinámica de la Creatividad y la
Sensibilidad, que brindó imágenes y narrativas que se utilizaron en el desarrollo del argumento “El embarazo
misterioso por besos” y la “Escuela: espacio para diálogos promoción de la salud” que conforma el almanaque ti-
tulado: “Leyendas e historias del embarazo adolescente en una comunidad quilombola. Además de las historias,
el almanaque aborda las demandas cientícas con curiosidades, un hobby y lo sabías. Los relatos producidos de
manera participativa, valoraron experiencias, signicados, divergencias y convergencias entre el conocimiento
popular y el cientíco, traduciendo la realidad cotidiana de los adolescentes afrobrasileños de manera útil, ame-
na, didáctica y esclarecedora, para ser utilizada en el proceso educativo.
Palabras clave: embarazo en adolescencia; conducta y mecanismos de conducta; grupo de ascendencia conti-
nental africana; educación para la salud comunitaria.
Introdução
Desde o final do século XX, estudos vêm suscitando o crescimento do uso de
tecnologias educativas em saúde, como instrumento mediador em prol do bem-
-estar no viver de pessoas, grupos e comunidades (TEIXEIRA, 2017). Entende-
-se como tecnologia, ferramentas, processos ou produtos que permitem ampliar
o envolvimento de profissionais de saúde e educação, na realização de práticas
promotoras do cuidado, possibilitando a educação e a promoção de saúde (SARAI-
VA; MEDEIROS; ARAUJO, 2018; SILVA et al., 2019), favorecendo a autonomia da
pessoa (SALBEGO et al., 2018).
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Na atualidade, tem-se vivenciado uma pandemia de coronavírus (SARS-
-CoV-2), agente causador da Covid-19, que culminou no fechamento de escolas e
no distanciamento social e instigou, principalmente, profissionais de saúde e de
educação a reinventarem novas formas que permitam dar continuidade aos proces-
sos educacionais de crianças e adolescentes. Dentro dos conteúdos curriculares de
ciências naturais, encontra-se o eixo sobre corpo humano e saúde (BRASIL, 1997),
que leva à discussão sobre perpetuação da espécie humana, sendo a gravidez não
planejada uma temática contemporânea que necessita ser abordada de forma sen-
sível, criativa e dialógica.
Gravidez não planejada é a gestação que não é programada pela mulher, po-
dendo ser denominada também como indesejada, tornando-se inoportuna, quando
acontece em um momento considerado desfavorável (EVANGELISTA; BARBIERI;
SILVA, 2015). Embora o Ministério da Saúde tenha registrado uma redução de 17%
na incidência de gravidez na adolescência no Brasil em 2017/1, ela é considerada
um problema de saúde pública, devido à alta ocorrência de morbimortalidade ma-
terna e infantil e por constituir um possível elemento desestruturador da vida das
adolescentes (SOUZA et al., 2017).
Em relação aos fatores que contribuem para o aumento da gravidez na adoles-
cência, destacam-se questões sociais, econômicas, familiares, de gênero, culturais
e de educação (ARAÚJO; NERY, 2018; AZEVEDO, 2018), além do início precoce
da vida sexual associado à ausência do uso de métodos contraceptivos e às difi-
culdades de acesso a programas de planejamento familiar (BORGES et al., 2016;
CAMPOS; SCHALL; NOGUEIRA, 2013).
A adolescência é um período complexo e dinâmico sob os pontos de vista físico
e emocional na vida do ser humano. É nesse período que ocorrem diversas mudan-
ças no corpo e é o início da inserção social, profissional e econômica na sociedade
adulta, marcada por descobertas e instabilidade emocional, momento em que a
personalidade é formada (FONSECA et al., 2013). Esse período de transição e de
vulnerabilidade requer, dos profissionais de saúde e educação, um olhar sensível
e direcionado às reais necessidades desses jovens para a promoção e a educação
em saúde. Para tanto, tem-se aumentado a utilização, por vários profissionais de
diversas áreas do saber, de materiais educacionais para alcançar esse público (BE-
RARDINELL et al., 2014).
Os materiais que veiculam temas sobre saúde, em geral, são produzidos por
técnicos de comunicação de agências de publicidade contratadas por órgãos de
governo, de modo que o leitor final tem pouca participação na construção de um
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material educativo (REBERTE; HOGA; GOMES, 2012). Dessa forma, a linguagem
adotada e as ilustrações de materiais educativos dialogam mais com os conteúdos
científicos do que com as experiências e vivências dos possíveis leitores. Soman-
do-se a isso, a literatura traz estudos sobre gravidez não planejada com jovens
residentes no meio urbano e de raça branca que possuem livre acesso ao serviço
de saúde e à informação, deixando de fora os residentes no meio rural e os negros,
que são maioria (54% é de pretos ou pardos), segundo o último senso do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (BRASIL, 2010).
Dentro dessa abordagem, adolescentes residentes em comunidades quilombo-
la ficam privados de informação que considere os componentes étnico-geográficos
que lhes permitam criar uma identidade de leitores com personagens, cenários e
histórias. Há necessidade de compreender o modo de vida e as particularidades
desse público para melhorar a assistência à saúde, a educação e as políticas públi-
cas direcionadas para as reais necessidades da população, por meio de tecnologias
educativas em saúde, o que pode ser utilizado por diversos profissionais para a
educação e a promoção da saúde nessa faixa etária.
Nesse sentido, uma educação participativa em saúde, que enfatiza uma cons-
trução horizontal do conhecimento, mais do que estratégias tradicionais de trans-
missão vertical do conhecimento, poderia ajudar os adolescentes a tomarem uma
decisão baseada na consciência crítica. É nesse sentido que entendemos que, para
realizar educação em saúde, não basta transferir conhecimentos e conteúdos pron-
tos, pois quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender,
além de aprender a conviver e a ser (DELORS, 2012).
Educação em saúde
Materiais educativos para adolescentes de comunidade quilombola, como re-
presentantes de grupo com ancestrais do continente africano, são escassos (CA-
BRAL; NEVES, 2016). Para muitas temáticas de interesse e para a promoção da
saúde do adolescente, registra-se um vazio de informação que considera os compo-
nentes étnico-geográficos que lhes permitem criar identidades de leitores com per-
sonagens, cenários e histórias. Esse grupo fica à margem do acesso de informações
sobre saúde, pois materiais educativos que refletem mais a visão ontológica do edu-
cador e do produtor da informação, ao invés de produzir saberes, constitui-se em
invasão cultural (FREIRE, 1983). Uma forma de contrapor a essa invasão é promo-
ver a união dos conhecimentos da cultura local com o conhecimento científico, em
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relação à gravidez em um material educativo e de divulgação científica, permitindo
que adolescentes reflitam sobre o mundo onde vivem, compartilhem suas experiên-
cias e vivências na construção desse material. O conhecimento local baseia-se no
senso comum e, segundo a antropologia interpretativa de Geertz (2008), significa
um corpo organizado de pensamento deliberado, resgatado diretamente da expe-
riência, transmitido intergeracionalmente por um determinado grupo social, ao
tempo em que marca a identidade cultural desse grupo.
Nesse sentido, os materiais educativos como as histórias em quadrinhos (HQ)
são gêneros de texto que podem se constituir em uma tecnologia potente na media-
ção de leituras na escola de ensino fundamental e médio e na educação em saúde,
com vistas à formação de cidadania e à promoção de saúde, também em tempos de
pandemia. É preciso levar em consideração saberes de educandos e saberes de edu-
cadores, numa perspectiva freiriana (FREIRE, 2002), para que possa ser elaborado
um material baseado na realidade experimentada e vivida pelo próprio adolescen-
te, ao mesmo tempo em que se constitui em instrumento informativo de conteúdo
científico presente na literatura com potencial para ser utilizado em espaços de
educação dialógica.
A educação dialógica freiriana (FREIRE, 2002), no contexto da saúde, enuncia
um paradigma próprio de pensar e educar, colocando a dimensão subjetiva dos
educandos como parte do processo de construção desse material educativo, centra-
do no diálogo, na decodificação dos temas, na compreensão dos significados para
a produção do roteiro (PARTELLI; CABRAL, 2017). Dessa forma, objetivou-se
ilustrar como os saberes de adolescentes de uma comunidade quilombola foram
incorporadas com os saberes científicos na elaboração de um roteiro de material
educativo sobre a gravidez não planejada no contexto de suas vivências e expe-
riências, utilizando o banco de dados de uma pesquisa participativa realizada no
primeiro semestre de 2019.
Metodologia
Para conhecer o universo cultural e vocabular em relação à gravidez não pla-
nejada em adolescentes residentes em comunidade quilombola, foi realizada uma
pesquisa participante (RAMOS et al., 2018), com abordagem qualitativa, que uti-
lizou o método criativo sensível (MCS) de pesquisa grupal baseada em arte (CA-
BRAL; NEVES, 2016). O MCS favorece a expressão da crítica reflexiva dos estágios
de transitividade da consciência e da dialogicidade própria do fenômeno humano
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investigado. É baseado no referencial teórico de Paulo Freire, que se caracteriza
pela valorização da singularidade de cada indivíduo e pela coletivização das expe-
riências. O método permite, ainda, que o participante, por meio da criatividade e
da sensibilidade, possa expressar seus pensamentos, suas ações e seus conceitos a
respeito do mundo e de si mesmo, utilizando dinâmicas de criatividade e sensibili-
dade (DCS). As DCS são compostas por cinco momentos do MCS: 1º) apresentação
individual e coletiva, disponibilizando o material para a atividade a ser realizada
no ambiente, lançar a questão geradora de debate (QGD) e explicar a atividade; 2º)
tempo para a produção da atividade sugerida/explicada; 3º) exposição das produ-
ções artísticas, quando se sentirem prontos; 4º) discussão grupal, a partir da QGD;
e 5º) momento em que o pesquisador resume o conjunto dos temas e subtemas,
enquanto o grupo o valida.
A pesquisa foi realizada na comunidade quilombola mais antiga de São Ma-
teus, fundada em 1822 (MACIEL, 2016), localizada na zona rural, às margens do
Rio Cricaré, na região conhecida como Sapê do Norte, a 44 quilômetros do municí-
pio de São Mateus, Espírito Santo.
Comunidades quilombolas são grupos étnicos, constituídos pela população
negra rural ou urbana, que se autodefinem a partir das relações com a terra, o pa-
rentesco, o território, a ancestralidade, as tradições e práticas culturais próprias.
Os quilombos eram aldeias formadas por escravos que fugiam das fazendas e casas
de família. Ficavam escondidas nas matas, em lugares preferencialmente inacessí-
veis, como o alto de montanhas e grutas, e era onde então os escravos se reuniam
e conseguiam levar uma vida livre. As pequenas aldeias eram também chamadas
mocambos, e tanto eles como os quilombos duraram todo o período da escravidão
no Brasil (NARDOTO; LIMA, 2001).
O tráfico de negros no Brasil surgiu por uma questão econômica e pela ne-
cessidade de mão de obra qualificada para trabalhar nos engenhos de açúcar da
colônia (ALBUQUERQUE; FRAGA FILHO, 2006). O tráfico de negros entre o Es-
pírito Santo e a África começou em fins de 1621 (OLIVEIRA, 2008). No Norte do
Espírito Santo, a resistência ao sistema escravista, com inúmeras fugas, consoli-
dou vários quilombos na região. Atualmente, a região denominada Sapê do Norte,
composta pelos municípios de São Mateus e Conceição da Barra, possui mais de
trinta comunidades quilombolas, compostas por descendentes diretos dos escravos
(NARDOTO; LIMA, 2001).
Segundo Silva e Carvalho (2008), o tráfico de africanos escravizados perdu-
rou por longo período de tempo no Porto de São Mateus, onde os escravos eram
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comercializados e encaminhados para as diversas fazendas da região. O porto de
São Mateus constituía-se como o centro dessa comercialização, abastecendo os la-
tifúndios de mandioca, cana de açúcar e, mais tarde, café, quando, em algumas fa-
zendas capixabas, chegava a haver 400 trabalhadores. Foi nesse porto que ocorreu
a apreensão do último carregamento clandestino na costa brasileira em 1856, com
350 africanos (NARDOTO; LIMA, 2001).
A comunidade quilombola onde o estudo foi realizado é composta por 64 fa-
mílias, totalizando 207 pessoas, segundo cadastramento da estratégia de saúde
da família. Essas famílias apresentam várias características em comum, como:
parentesco – são todos parentes, provavelmente de origem angolana (NARDOTO;
LIMA, 2001) –, costumes, cultura e vida social. Para a pesquisa, a liderança da
comunidade e a agente comunitária de saúde distribuíram convites às famílias de
adolescentes para uma reunião, a qual ocorreu no último domingo do mês de mar-
ço de 2019, quando foi exposta a proposta e realizado o convite para participação
na pesquisa. Na sequência foi lido e explicado o conteúdo dos termos da pesquisa
(consentimento livre e esclarecido, para os pais/responsáveis, e de assentimento,
para os adolescentes), seguido do recolhimento das assinaturas em concordância a
participação. Todos os preceitos éticos foram respeitados, sendo a pesquisa iniciada
após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (Certificado de Apresentação
de Apreciação Ética n. 99138718.1.0000.5063). Participaram nove adolescentes,
sendo três meninos e seis meninas, com idades entre 11 e 15 anos, todos residentes
na comunidade quilombola.
A geração de dados foi implementada com dois encontros. No primeiro, apli-
cou-se a dinâmica de sensibilização: “Encurtando distâncias”, com o emprego da
QGD “Eu sou... estou... quero...”. Essa dinâmica favoreceu a constituição da iden-
tidade grupal dos participantes para fins da pesquisa. Além disso, ajudou com a
integração e a construção do sentimento de pertencimento no grupo, envolvendo
os participantes, a pesquisadora e os auxiliares de pesquisa. No segundo encontro,
com a aplicação da dinâmica “Corpo saber”, com a QGD: “Qual sua percepção sobre
gravidez não planejada na fase da adolescência aqui na comunidade?”, trouxe a
memória latente da percepção do adolescente residente em comunidade quilombo-
la quanto à gravidez não planejada e às manifestações comportamentais do ado-
lescente a se imaginar na situação de uma gestação não planejada. Com o material
fornecido (cartolina, canetinhas e cola) e em torno de 118 palavras, o grupo elabo-
rou uma produção artística. A preocupação foi fornecer palavras que envolvessem a
questão da gravidez. Houve separação natural de meninos e meninas e cada grupo
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foi convidado a desenhar a silhueta de uma gestante na cartolina. A partir disso,
o grupo se debruçou para realizar a produção artística, colando as palavras-chave
oferecidas pela pesquisadora ou escrevendo novas na parte do corpo que julgaram
pertinentes, com a finalidade de responder à QGD, durante o tempo livre necessá-
rio. Durante a realização da atividade manual, o grupo discutiu e compartilhou o
material fornecido.
O corpus textual das DCS forneceu um banco de dados com imagens e nar-
rativas (MORAES-PARTELLI; COELHO; FREITAS, 2021), que foram utilizadas
no desenvolvimento de um roteiro de duas HQ contidas em um almanaque. Dessa
forma, as imagens foram utilizadas para compor cenário e cenas das HQ. Já as
narrativas revelaram três categorias temáticas: 1) repercussão da gravidez para os
adolescentes na comunidade quilombola; 2) direitos da gestante na comunidade; e
3) comportamento das famílias e dos adolescentes frente à gravidez na comunidade
quilombola; que foram utilizadas nos enredos das duas HQ.
Quanto à repercussão na vida dos adolescentes na gravidez não planejada, os
participantes mencionaram que isso traz mudanças na vida do adolescente, rela-
cionadas ao abandono dos estudos para trabalhar na propriedade da família ou em
outra propriedade rural para sustentar a criança que irá nascer. Outra repercus-
são é o aumento da responsabilidade, principalmente das meninas, que assumem
o cuidado integral da criança, enquanto o sustento do filho é de competência mas-
culina. Observou-se crítica ao comportamento de algumas meninas que ingerem
bebida alcoólica mesmo na gestação. Na comunidade quilombola, ficou evidente a
diferença de gênero, em que o adolescente assume o papel de “homem”, replicando
atitudes consideradas como comuns no meio social em que vivem. Em relação aos
direitos das gestantes, foi citado o direito ao acesso à saúde pública, o acolhimen-
to, a família, a alimentação saudável, etc. Sobre o comportamento das famílias e
dos adolescentes diante da gravidez, evidenciou-se que, na comunidade, não há o
hábito de se casar, mas, sim, de se “juntar”/”amasiar”, sem pensar em um futuro
próximo, e que geralmente a menina vai morar na casa do menino, sendo bem
acolhida pela sua família.
Dessa forma, a gravidez na adolescência na comunidade quilombola é um
período de grandes mudanças, principalmente pela interrupção dos estudos para
assumir o trabalho para o sustento da nova família. Porém, com o amparo da co-
munidade, da família e do parceiro e com todos os direitos/deveres sendo prestados/
exercidos, a gravidez se torna um momento menos árduo de ser vivenciado (LU-
CIO, 2019).
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Para dar continuidade ao processo educacional de adolescentes em tempos de
pandemia, este artigo ilustra como as imagens e as narrativas de adolescentes de
uma comunidade quilombola foram incorporadas aos saberes científicos na elabo-
ração de roteiro de HQ sobre a gravidez não planejada, utilizando o banco de dados
de uma pesquisa participativa baseada em arte.
Escolha do material educativo e metodologia de criação do roteiro
A história registra que, desde tempos remotos, o almanaque esteve presen-
te na vida das pessoas e é um dos principais instrumentos promotores de aces-
so e difusão de conhecimento na forma escrita nas classes populares (CALDAS;
BAALBAKI, 2018). Na história do uso dos almanaques, eles eram recursos para os
viajantes das cidades, que necessitavam de informações geográficas para se locali-
zar. Já os habitantes também saíam favorecidos, pois acabavam por localizar mais
facilmente produtos e serviços. Percebe-se que, por essa diversidade de conteú-
do, os almanaques tornaram-se inventários minuciosos acerca dos pormenores da
vida cotidiana de muitas cidades. Eles também continham conselhos relacionados
à moral e à virtude, chegando a regular todos os aspectos da vida humana. Eram
conselhos abrangendo modos de alimentação, o que comprar, como dormir, regras
de conduta social, etc. O almanaque demonstra a preocupação em como instruir a
população. O foco passa a não ser exclusivamente ligado ao caráter divinatório. Os
almanaques vão incorporar os saberes da ciência e da história, levando os leitores
a uma reflexão da sua realidade, pois partem da realidade do sujeito, mostram
sua história, seus saberes, suas práticas, tendo sua origem no conhecimento que é
popular (TRIZOTTI, 2008; PEREIRA, 2012).
Devido às suas características populares, o almanaque no formato de HQ foi
escolhido para a produção do material educativo. Assim, a organização e a forma-
tação de um roteiro tipo storyboard foram fundamentais e necessárias para faci-
litar o desenvolvimento da etapa de criação das HQ, que foram incorporadas em
um almanaque, enquanto forma de arte. Esse roteiro abrangeu a estruturação da
descrição das cenas e dos personagens, a inserção de diálogos dos personagens, a
narrativa entre as cenas, a ligação com textos explicativos, entretenimentos peda-
gógicos e comentários gerais.
A utilização de roteiros é uma etapa de pré-produção que apresenta imagens
do ambiente no qual a história se passa, dos personagens, das narrativas, apresen-
tadas em quadros de tal forma que organizem o material. Os roteiros são utilizados
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para escrita de cenas de filmes, peças teatrais, quadrinhos em rádios, HQ, etc.
(CAMPOS, 2007).
Como a literatura aponta vários formatos de roteiros (FIELD, 2001; CAM-
POS, 2007), adaptamos o formato descrito por Campos (2007) para elaborar dois
storyboards provisórios com os materiais empíricos fornecidos pelos participantes,
que se constituíram em fonte de inspiração para a construção de um material edu-
cativo dialógico, interativo e culturalmente centrado na vida.
Os contos, os acontecimentos e as lendas mantêm o existir de uma comunidade
cenário das histórias, além de definir um percurso, organizar e narrar as histórias
que retratam a gravidez não planejada, suas repercussões na vida individual e em
família dos adolescentes. São baseados em roteiros escritos, com textos previamen-
te elaborados que reproduzem a fala dos personagens dentro de um contexto socio-
-histórico (JARCEM, 2007). Podem ser fictícios ou baseados em acontecimentos do
cotidiano. Caracterizam-se pela narração de fatos com diálogos naturais, por meio
dos quais os personagens interagem com palavras, gestos e expressões faciais. O
discurso é direto, em balões, auxiliado por legendas e recursos linguísticos (pala-
vras onomatopeicas, sinais de pontuação), paralinguísticos (intensidade de sons,
velocidade de pronúncia e expressão de emoções) e visuais (figuração pictórica das
emoções dos personagens, nos balões e nas letras) (PRESSER; SCHLÖGL, 2013).
Após a definição de que o almanaque seria constituído de HQ, o próximo passo
foi construir as histórias com o vasto material disponível no banco de dados. Esse
material forneceu dados para a criação de cenas, cenários, personagens e enredo
das HQ.
Informações locais para a produção dos roteiros de HQ do almanaque
A primeira premissa adotada para a construção de um roteiro de almanaque
no formato de HQ foi a seleção de informações geográficas. Nesse sentido, foram
utilizadas informações geográficas contidas no almanaque “Álcool e ritos de adoles-
centes em uma comunidade quilombola” (PARTELLI; CABRAL, 2016), produzido
pela primeira autora deste manuscrito, e por também ser o locus da pesquisa atual.
Assim, foi elaborada uma descrição da comunidade fictícia, de forma a manter
imagens de um ambiente rural com plantações (café, pimenta do reino, etc.), casas,
escola, igreja, campo de futebol e botecos da comunidade quilombola.
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Descrição geográca do local em que as HQ ocorreram
Para fugir da escravidão, em 1822, foi criada a Comunidade Quilombola
Chiumbo (Figura 1), a mais antiga comunidade remanescente de quilombo do
município de São Mateus, no Norte do Espírito Santo, Brasil, localizada em zona
rural, às margens do Rio Cricaré, está a 44 quilômetros do município. O acesso à
comunidade é por estrada de chão, passando-se por uma grande plantação de coco,
mantida por uma empresa que emprega muitas pessoas. Na comunidade, há plan-
tações de café conilon, pimenta do reino e árvores frutíferas usadas no sustento
das famílias e na agricultura familiar. Atualmente, a comunidade tem uma Igreja
Católica, uma Igreja Evangélica, um campo de futebol, cinco bares/botecos e uma
escola municipal pluridocente.
Figura 1 – Cenário da Comunidade Quilombola Chiumbo onde as histórias acontecem, São Mateus, ES, 2019
Fonte: modificado do almanaque Álcool e ritos de adolescentes em uma comunidade quilombola, 2016.
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A escola municipal pluridocente1 da comunidade funciona em dois turnos,
ofertando o ensino fundamental com uma classe de alfabetização e uma classe de 4º
ao 6º ano, no turno matutino, e uma classe de 1º, 2º e 3º anos, no turno vespertino. A
conclusão do ensino fundamental ocorre na Escola Família Agrícola (EFA)2 do Km
41, que funciona em sistema de alternância. Os alunos frequentam integralmente
a escola durante uma semana e, na outra semana, desenvolvem atividades com a
família. A prefeitura disponibiliza ônibus para o trajeto diário dos estudantes. Para
continuar os estudos no ensino médio, geralmente, os jovens estudam na EFA de
Boa Esperança, para obtenção do diploma de técnico agrícola, ou procuram outras
escolas de São Mateus.
Em relação à assistência à saúde, as pessoas que residem na comunidade
contam com a atenção primária fornecida pela Unidade Básica de Saúde (UBS),
mantida pela Prefeitura Municipal de São Mateus. Essa UBS encontra-se a 12
quilômetros da comunidade. Há cobertura pelo Programa de Agente Comunitário
de Saúde, que está em atividade há 16 anos.
Hoje, apesar de algumas dificuldades, principalmente pela distância de al-
guns serviços como a saúde, é possível estudar até o 6º ano na comunidade. Mas,
nem sempre foi assim. É possível ouvir dos antigos moradores várias histórias,
contos e lendas que foram fatos reais que aconteceram há muito tempo e que hoje
fazem parte da vida social e cultural das pessoas que ali vivem.
Descrição biográca dos personagens
Prosseguindo na construção das HQ, passou-se à caracterização dos persona-
gens, para tanto, a descrição biográfica, os nomes e as caricaturas dos personagens
também são fictícios e inspirados na descrição de caracterização dos adolescentes
contidas no banco de dados. Dessa forma, os personagens apresentam identidades
socioculturais compatíveis com o modo de vida da população residente na Comuni-
dade Quilombola Chiumbo.
Kenyetta – adolescente do sexo feminino com 12 anos de idade. No ano de 2019,
cursava o 6º ano do ensino fundamental na Escola Pluridocente Municipal da Co-
munidade Quilombola, no turno da manhã. Era líder de turma. Seu pai é agricultor
e a família cultiva: café conilon e pimenta do reino, para venda; frutas, como coco,
jaca, banana, manga e abacate, para consumo próprio ou distribuição para outras
pessoas da comunidade. Sua mãe é do lar, trabalha na propriedade da família e,
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eventualmente, em outras propriedades da comunidade, na colheita da pimenta do
reino; sendo remunerada pelo dia trabalhado. Tem uma irmã (de 15 anos) e dois
irmãos (um de 9 anos e outro de 13 meses).
Eshe – adolescente do sexo feminino com 13 anos de idade. No ano de 2019, cursa-
va o 6º ano do ensino fundamental na Escola Pluridocente Municipal da Comunida-
de Quilombola, no turno da manhã. Sempre obteve sucesso escolar, sendo aprovada
anualmente. Faz parte de uma família de formação evangélica (Igreja Evangélica
Assembleia de Deus), composta de pai, mãe e irmão (17 anos). Sua família possui o
título de propriedade rural onde reside e planta em regime de agricultura familiar.
Sandra – tem 35 anos e é enfermeira da unidade de saúde que atende a Comuni-
dade Quilombola Chiumbo. Ela enfrenta grandes desafios na promoção de saúde
em seu território de responsabilidade, pois este é muito grande e de difícil acesso.
Malaika – tem 56 anos e é uma das professoras na Escola Pluridocente Municipal
da Comunidade Quilombola, em dois turnos, sendo que o turno matutino atende
duas turmas e o turno vespertino atende uma turma. Dedicada à sua profissão,
adora o que faz, leciona na comunidade há 30 anos, na qual é também moradora.
Informações históricas e culturais
A terceira premissa da elaboração das HQ de um almanaque, para atender ao
critério de temporalidade, é a informação histórica como transversal aos saberes
construídos localmente. Nos storyboards, as informações históricas retratam uma
festa tradicional religiosa celebrada na comunidade quilombola: a Folia de Reis,
que mobiliza toda a comunidade em sua preparação, além de representar grande
evento.
A Festa de Reis tem início no dia 06 de janeiro (Santos Reis) e se prolonga
até 03 de fevereiro (São Brás), homenageando os três reis magos (Gaspar, Bal-
tazar e Belchior) que visitaram e presentearam Jesus Cristo no seu nascimento.
Os grupos, trajando camisas de mangas compridas, faixa de fita cruzada sobre o
peito, chapéus e fitas multicoloridas, visitam as casas das pessoas cantando o “abre
portas”, anunciando que o Menino Jesus havia nascido. Os cânticos são produzidos
pelos próprios componentes do grupo com temas diversos. As pessoas festejam com
muita alegria e envolvimento da comunidade.
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Com o banco de dados produzido na pesquisa anterior, compreendeu-se que a
vida rural na comunidade quilombola apresenta aspectos próprios, a identidade de
um povo, que permeiam e orientam o cotidiano das famílias, sendo que a gravidez
não planejada na adolescência apresenta repercussões, porém não é encarada pelos
adolescentes participantes como um problema, e, sim, como uma fase de transição
da vida, marcada por abandono dos estudos, aquisição de emprego, união estável,
aquisição de responsabilidades, o que necessita do apoio das famílias. Nesse sen-
tido, o tema gravidez não planejada na adolescência requer uma forma criativa e
sensível de abordagem. A utilização e a reinvenção de instrumentos mediadores,
como os materiais educativos, para a educação em saúde, podem ser alternativas
interessantes para essa abordagem, principalmente em período de pandemia.
Para contrapor a invasão cultural, na perspectiva freiriana, buscou-se pro-
mover a união dos saberes de uma cultura local com o conhecimento científico,
em relação à gravidez não planejada, permitindo que adolescentes possam refletir
sobre o mundo em que vivem, compartilhando suas experiências e vivências na
construção desse material. Portanto, o processo de autonomia, tomada consciente
de decisão, escuta, diálogo, a relação eu-tu, a reflexão coletiva e a criticidade se
efetivaram com a participação de adolescentes fornecendo material empírico para
a construção das HQ desse almanaque, pois tomou-se como marco de referência
suas raízes histórico-sociais e culturais.
O ser humano é histórico, logo, está imerso em condições espaço-temporais,
isto é, o homem, estando nessa situação, quanto mais refletir de maneira crítica so-
bre a sua existência, mais poderá influenciar-se e será mais livre (FREIRE, 2013).
Enredo das histórias em quadrinhos
Os adolescentes, durante as DCS, forneceram um material rico de informa-
ções, bastando a pesquisadora dar um começo, definir um percurso, organizar e
narrar as HQ do almanaque, que foi intitulado “Lendas e histórias de gravidez na
adolescência em uma comunidade quilombola”. Portanto, as narrativas dos adoles-
centes foram utilizadas para construir os roteiros das HQ “A misteriosa gravidez
pelo beijo” e “Escola: espaço para diálogos e promoção da saúde”, como será apre-
sentado nos enredos a seguir.
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A misteriosa gravidez pelo beijo
Nessa história, a enfermeira Sandra conta uma lenda que ouviu dos antigos
moradores da comunidade Chiumbo. Há muitos e muitos anos, morava na comu-
nidade uma menina de 13 anos, muito bonita, ingênua e sonhadora, que queria ser
cantora. Certo dia, em noite de lua cheia, na festa de Reis, apareceu um rapaz todo
de branco que beijou a mão da menina e ela teve um sonho muito inusitado. Após
acordar, percebeu que tudo não passou de sonho e refletiu sobre as mudanças em
sua vida com uma gravidez não planejada.
Escola: espaço para diálogos e promoção da saúde
A história acontece com a conversa de duas meninas sobre uma lenda envol-
vendo a tataravó de uma delas. Essa conversa teve início após uma aula sobre
puberdade e adolescência, que a enfermeira ministrou na escola da comunidade.
As HQ constituem-se de enredos narrados, quadro a quadro, por meio de ima-
gens e textos, utilizando discursos diretos, característicos da língua falada (ARAÚ-
JO; MERCADO, 2007), podendo ser facilmente identificados em razão de suas
particularidades específicas: os balões e os quadros (MENDONÇA, 2002). Dessa
forma, o roteiro foi organizado e estruturado com quadros numerados na sequência
dos fatos, contendo textos narrados na porção superior, balões com diálogo dos per-
sonagens e imagens no centro do quadro. A descrição das cenas ocorreu após a fala
do narrador, pois, nas HQ, “o texto é lido como imagem e as imagens são comunica-
dores que, em situações, falam mais que os próprios textos” (EISNER, 1999, p. 10).
A Figura 2 ilustra parte do processo de produção do storyboard preliminar da
HQ 1 – “A misteriosa gravidez pelo beijo” e da HQ 2 – “Escola: espaço para diálogos
e promoção da saúde”.
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Figura 2 – Fragmentos do storyboard preliminar das HQ, contendo sequência de quadros com narrativas e
imagens, São Mateus, ES, 2019
HQ 1 A misteriosa gravidez pelo beijo
HQ 2 “Escola: espo para diálogos e promoção da saúde”
Fonte: modificado do almanaque Álcool e ritos de adolescentes em uma comunidade quilombola, 2016.
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As informações cientícas incorporadas ao material educativo
Outra premissa do almanaque é a escolha do formato do conteúdo científico
informativo a ser mediado. Nesse sentido, realizou-se busca na literatura para for-
necer aporte literário para obtenção do conhecimento, por meio da leitura de ma-
teriais científicos que envolvessem conteúdos referentes à gravidez. Nesse sentido,
elegeu-se o formato “Curiosidades” e “Você sabia”. Além disso, o passatempo foi
incorporado no almanaque pela sua interatividade e sua dialogicidade na composi-
ção de textos humorísticos ou recreativos, com informações variadas específicas de
vários campos do conhecimento.
As curiosidades no formato de informações científicas foram inseridas nas his-
tórias com texto curto e direto, logo após a exposição da situação-problema pelos
personagens. Dessa forma, as curiosidades sobre adolescência, gravidez e formas
de prevenção foram abordadas da seguinte forma nas HQ:
Curiosidade: A adolescência é um período do desenvolvimento social, psicológico e biológico, com vivências,
transformações corporais e fisiológicas e relações interpessoais mais complexas, inclusive por situações de
violência em contexto escolar.
Curiosidade: Puberdade é o período em que ocorrem mudanças corporais, como altura e forma, preparando
o corpo de meninos e meninas para a reprodução.
Curiosidade: A reprodução é fundamental para a perpetuação das espécies, uma vez que os seres vivos
surgem apenas a partir de outros seres vivos iguais a eles, por meio desse processo.
Curiosidade: Educação sexual é um termo utilizado para se referir ao processo que busca proporcionar co-
nhecimento e esclarecer dúvidas sobre temas relacionados à sexualidade.
Curiosidade: Métodos contraceptivos são diferentes formas de evitar uma gravidez. Os métodos contracepti-
vos impedem a fecundação (o encontro do óvulo com o espermatozoide) e a gravidez não planejada.
O formato “Você sabia” foi inserido no almanaque como conteúdo científico
complementar, não fazendo parte das HQ e mais amplo em relação às curiosidades
(Figura 3).
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Figura 3 Fragmento do “Você sabia contido no almanaque “Lendas e histórias de gravidez na adolescên-
cia em uma comunidade quilombola, São Mateus, ES, 2019
Fonte: modificado do almanaque Álcool e ritos de adolescentes em uma comunidade quilombola, 2016.
Os passatempos foram elaborados em quadros, conforme modelo apresentado
em dois jogos: palavras cruzadas e caça-palavras (Figura 4).
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Figura 4 Fragmento do passatempo do almanaque “Lendas e histórias de gravidez na adolescência em
uma comunidade quilombola, São Mateus, ES, 2019
Fonte: modificado do almanaque Álcool e ritos de adolescentes em uma comunidade quilombola, 2016.
Dessa forma, o adolescente (educando) participou, com suas narrativas, na
construção de uma tecnologia educacional inovadora, que é dialógica e que partiu
de informações que vêm do mundo social e da leitura social dele, e não do pesqui-
sador. O educando é lotado de criticidade. Esta se apresenta capilar na produção
das HQ do almanaque, que foi elaborado no espaço da pesquisa participante que
compôs o banco de dados de pesquisa. Assim, o almanaque produzido nessa pesqui-
sa configurou-se como uma tecnologia educacional em saúde, construído a partir
de elementos textuais e imagéticos cujas características se situaram nas fronteiras
entre as formas de sistematização científica, apropriadas pela concepção popular
de “informação útil”, e servindo, ao mesmo tempo, como espaço de expressão da
cultura popular naquilo que esta conserva, cria e recria do mundo da vida e da
ciência (MARTELETO; DAVID, 2014; LIMA, 2020).
A produção de materiais educativos vem ganhando um considerável espaço no
que se refere à educação em saúde da população. Esse fato se dá porque eles têm
sido utilizados como uma ferramenta facilitadora no que tange ao esclarecimento
de dúvidas relacionadas aos diversos temas da saúde. Por se tratar de um mate-
rial educativo baseado nas narrativas e na participação dos leitores finais, foram
consideradas as condições socioeconômicas, as experiências, a etnia e a cultura
do público-alvo, aproximando assim as HQ e as ilustrações à realidade social dos
leitores, com propósito de estimular novas verdades, modificar conceitos, práticas
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e comportamentos em busca de uma vida mais saudável (PINHEIRO; FREITAS;
PEREIRA, 2017).
Esse é um novo modelo de atuação de profissionais da educação e da saúde
que começa a superar a visão hegemônica e normatizadora de cuidar da vida da
população (GALHARDI; MATSUKURA, 2018). Nesse contexto, a educação popu-
lar oferece um instrumental teórico fundamental para o desenvolvimento dessas
novas relações, “através da ênfase ao diálogo, à valorização do saber popular e à
busca de inserção na dinâmica local” (CRUZ, 2018), tendo a identidade cultural
como base do processo educativo e compreendendo que o “respeito ao saber popular
implica necessariamente o respeito ao contexto cultural” (FREIRE, 1999, p. 86).
Considerações nais
O desenvolvimento do roteiro de HQ do almanaque educativo responde a uma
necessidade de produção de tecnologias educacionais para adolescentes no âmbito
da prevenção da gravidez não planejada. Para isso, foram utilizadas estratégias de
pesquisa participante baseada em arte, que valorizaram experiências, significa-
dos, divergências e convergências entre o saber popular e o científico, traduzindo
a realidade do cotidiano dos adolescentes afro-brasileiros de forma útil, prazerosa,
didática e esclarecedora.
O pensamento de Freire tem colaborado de forma significativa na construção
de uma educação reflexiva na saúde, incorporando uma educação crítica e pro-
blematizadora na mediação entre o profissional e a população, compreendendo o
que é e para que serve a educação, indo de encontro à proposta pedagógica ain-
da hegemônica do monólogo, batendo de frente com aqueles conteúdos prontos e
preestabelecidos.
Dessa forma, ao utilizar o diálogo para a produção de HQ sobre a gravidez, me-
diado pelos saberes de adolescentes e pelos saberes científicos, baseado nas ideias
de Freire, pretendemos contribuir para que a educação em saúde ocorra de forma
crítica, criativa e libertadora, preparando os adolescentes para compreender seu
mundo; assim, conscientemente, eles estarão mais abertos e aptos para vencerem
desafios, descobertas e possíveis soluções dos problemas e conflitos existentes, ou
seja, eles se tornarão abertos para a leitura de mundo.
Ao final, o almanaque intitulado “Lendas e histórias de gravidez na adoles-
cência em uma comunidade quilombola” foi composto por 28 páginas: capa, folha
de rosto com ficha técnica com os nomes dos elaboradores, folha de apresentação,
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dois roteiros das histórias, “Você sabia”, passatempos, referências e contracapa. O
próximo passo será contratar empresa para diagramar essa tecnologia e disponibi-
lizá-la via rede social.
Notas
1 A escola pluridocente é aquela que tem mais de um professor dando aula para várias séries numa mesma
sala de aula. É destinada à educação do campo.
2 EFA é uma associação de famílias, pessoas e instituições que buscam solucionar problemas relacionados
ao campo e ao desenvolvimento local, por meio de atividades de formação. Baseia-se em quatro pilares:
associativismo, pedagogia de alternância, formação integral e desenvolvimento local. A EFA do Km 41 é
filantrópica, contudo, equiparada à publica pela Lei Estadual n. 7.875, de 26 de novembro de 2004.
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