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Saúde, educão e a pós-verdade como estratégia de (des)educabilidade: notas sobre a pandemia e o bolsonarismo
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Saúde, educação e a pós-verdade como estratégia de (des)educabilidade:
notas sobre a pandemia e o bolsonarismo
Health, education and the post-truth as an (un)educability strategy:
notes on the pandemic and bolsonarism
Salud, educación y posverdad como estrategia de (in)educabilidad:
apuntes sobre la pandemia y el bolsonarismo
Mozart Linhares da Silva*
Camila Francisca da Rosa**
Resumo
O presente artigo objetiva analisar a perspectiva da pós-verdade como estratégica enquanto meio de educabili-
dade principalmente durante a pandemia de coronavírus e o governo Bolsonaro. Desde sua campanha eleitoral,
o atual presidente, Jair Bolsonaro, mandato 2019-2022, vem construindo uma política anti-intelectualista e de
deslegitimação do saber cientíco, com ataques sistemáticos à universidade e à educação em geral, espaços
que tradicionalmente são considerados legítimos para a produção e a difusão da “verdade. Acontece que, com
a pandemia, esses ataques e processos de deslegitimação também se acentuaram na área da saúde. Assim, para
tal análise, tomamos as ações e os discursos assumidos pelo governo Bolsonaro e seus apoiadores em relação à
educação, à ciência e à forma como foi conduzida a pandemia de coronavírus, através do ataque ao saber mé-
dico e a instituições como a Organização Mundial da Saúde. Dessa forma, dividimos o texto em dois momentos,
um para contextualizar a emergência da pós-verdade e os efeitos sobre o saber cientíco e, em seguida, a partir
da materialidade já citada, mostramos como essa deslegitimação da ciência apresentou desdobramentos no
enfrentamento da pandemia de coronavírus no Brasil. Apontamos que a deslegitimação do saber cientíco e
das instituições do dizer verdadeiro, calcada nas práticas discursivas da pós-verdade, vem contribuindo para a
divisão social, a proliferação de teorias de conspiração, violência e crise das instituições de saber.
Palavras-chave: educação; saúde; pós-verdade.
* Doutor em História pela PUCRS, com extensão na Universidade de Coimbra, com pós-doutorado em Educação pela
UFRGS. Professor do Programa de Pós-graduação em Educação (mestrado e doutorado) e do Departamento de Ciên-
cias, Humanidades e Educação da Universidade de Santa Cruz do Sul. Líder do Grupo de Pesquisa Identidade e Dife-
rença na Educação (CNPq). Orcid: https://orcid.org/0000-0001-9838-5436. E-mail: mozartt@terra.com.br
** Doutoranda (bolsista Capes – Modalidade 1) e mestra em Educação pela Universidade de Santa Cruz do Sul. Licen-
ciada em História. Membro do Grupo de Pesquisa Identidade e Diferença na Educação (CNPq). Orcid: https://orcid.
org/0000-0003-1418-4288. E-mail: camilafdarosa@gmail.com
Recebido em: 30/10/2020 – Aprovado em: 30/08/2021
http://dx.doi.org/10.5335/rep.v28i2.11800
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Abstract
This paper aims to analyze the post-truth perspective as strategic as a means of educability mainly during the
coronavirus pandemic and the Bolsonaro government. Since the election campaign, the current President Jair
Bolsonaro, term 2019-2022, has been developing an anti-intellectualist and delegitimizing policy of scientic
knowledge, with systematic attacks on the university and education in general, places that are traditionally con-
sidered legitimate for production and spreading the “truth”. It turns out that with the pandemic, these attacks
and delegitimization processes were also accentuated in the health area. So, for such an analysis, we take the
actions and speeches taken by the Bolsonaro government and its supporters in relation to education, science
and the way it led the coronavirus pandemic, through the attack on medical knowledge and institutions such as
the World Health Organization. Therefore, the study is divided into two parts, the rst aims to contextualize the
emergence of the post-truth and its eects on scientic knowledge, and the second part analyzes how science
denial has been aecting the way of coping with the coronavirus in Brazil. It is indicated that the underestima-
tion of scientic knowledge and the institutions of “truth”, based on post-truth discursive practices, has led to
social division, proliferation of conspiracy theories, violence, and crisis in Brazilian education.
Keywords: education; health; post-truth.
Resumen
Este artículo tiene como objetivo analizar la perspectiva de la posverdad como estrategia de educabilidad prin-
cipalmente durante la pandemia del coronavirus y el gobierno de Bolsonaro. Desde su campaña electoral, el
actual presidente Jair Bolsonaro, período 2019-2022, viene construyendo una política antiintelectualista y des-
legitimadora del conocimiento cientíco, con ataques sistemáticos a la universidad y la educación en general,
espacios que tradicionalmente se consideran legítimos para la producción y propagación de la “verdad”. Resulta
que con la pandemia estos ataques y procesos de deslegitimación también se acentuaron en el área de la salud.
Entonces, para tal análisis, elegimos las acciones y discursos del gobierno de Bolsonaro y sus partidarios en
relación con la educación, la ciencia y la forma en que lideró la pandemia de coronavirus. a través del ataque al
conocimiento e instituciones médicas como la Organización Mundial de la Salud. De esta forma, dividimos el
texto en dos momentos, uno para contextualizar el surgimiento de la posverdad y los efectos sobre el conoci-
miento cientíco, y luego, a partir de la materialidad ya mencionada, mostramos cómo se ha desarrollado esta
deslegitimación de la ciencia frente a la pandemia del coronavirus en Brasil. Señalamos que la deslegitimación
del conocimiento cientíco y las instituciones del “verdadero decir”, basadas en las prácticas discursivas de la
posverdad, ha contribuido a la división social, proliferación de teorías conspirativas, violencia y crisis en las ins-
tituciones del conocimiento.
Palabras clave: educación; salud; posverdad.
Introdução
Assistimos, no processo da campanha eleitoral de 2018, o emparelhamento do
Brasil a um movimento antidemocrático presente na eleição de alguns países eu-
ropeus e mesmo no plebiscito do Brexit, na Inglaterra, e, sobretudo, nos EUA, com
a eleição de Donald Trump. As eleições de 2018, no Brasil, foram marcadas pelo
acirramento da polarização política, pela amplificação do discurso de ódio e pelo
uso até então inédito das fake news, cujos desdobramentos resultaram na eleição
de Jair Bolsonaro para a Presidência da República, no mandato de 2019 a 2022.
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Fazendo intenso uso das redes sociais, das fake news e da manipulação mi-
diática, desde a campanha, o atual presidente orquestrou um ataque sistemático à
educação, considerada em seu discurso como espaço de doutrinação, nomeadamen-
te de esquerda – “um dos maiores males atuais”, como consta em seu Plano de Go-
verno (BRASIL, 2018, p. 46). No Plano de Governo do então candidato, registrado
junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), tanto a educação como a saúde eram
anunciadas como contendo gastos em demasia e resultados fracassados.
Na Educação, assim como na Saúde, os números levam à conclusão que as crianças e os
jovens brasileiros deveriam ter um desempenho escolar muito melhor, tendo em vista o
montante de recursos gastos. Os valores, tanto em termos relativos como em termos absolu-
tos, são incompatíveis com nosso péssimo desempenho educacional (BRASIL, 2018, p. 41).
Como proposta e possível solução, o Plano de Governo de Bolsonaro previa, no
campo da educação, a mudança curricular, com a troca de conteúdos e a aplicação
de nova metodologia de ensino, com prevalência às disciplinas de matemática e
português. Para as universidades, por ele muito criticadas, o plano propõe “fomen-
tar o empreendedorismo para que o jovem saísse da faculdade pensando em abrir
uma empresa” (BRASIL, 2018, p. 46) e frisa em letras garrafais, o objetivo de uma
educação “SEM DOUTRINAÇÃO E SEXUALIZAÇÃO PRECOCE” (BRASIL, 2018,
p. 41). Na área da saúde, também se previa o abandono de qualquer “questão ideo-
lógica” para gerir os gastos já elevados e com poucos resultados à população.
Os trechos retirados do Plano de Governo de Jair Bolsonaro proporcionavam
indícios de que, com a efetiva eleição, a educação seria alvo da pauta conservadora,
e profissionais da área, em especial professores, já começavam a vivenciar ataques
diretos em sala de aula, filmagens indevidas – encorajadas pelo próprio presidente,
acusações de doutrinação e partidarismo político, ou seja, iniciava-se um processo
de desestabilização, descrédito e desautorização de uma área cuja característica
fundamental é o saber e a disseminação do conhecimento, processo que já vinha
ganhando espaço com o Movimento Escola Sem Partido. O mesmo ocorreu com as
universidades, principalmente as de nível federal, acusadas de formar “esquer-
distas” e militantes. Durante a campanha eleitoral, a chapa de Bolsonaro colocou
em circulação as imagens de protestos de movimentos de cunho identitário, com
atenção aos feministas, para associar com um possível caráter ideológico das uni-
versidades brasileiras, sobretudo no que diz respeito à “ideologia de gênero”. Logo
que eleito, defendeu que professores universitários fossem filmados, que a polícia
pudesse entrar dentro dos campi universitários e chegou a chamar os espaços de
“ninhos de rato”.
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O que se segue à eleição de Jair Bolsonaro, para além do conservadorismo, foi
uma política deliberada de precarização do ensino, da ciência e da função professor/
pesquisador. As universidades, assim como pesquisadores e intelectuais, formam
o campo que historicamente está relacionado com a autoridade do conhecimento e
com a verdade. Para além da precariedade material imposta à educação, falamos
de uma precariedade social e moral, de uma desautorização do “falar verdadeiro”,
condição para que outras narrativas, como as relacionadas à pós-verdade, possam
emergir com êxito. O ataque à ciência e às instituições que tradicionalmente pos-
suem autoridade para o “falar verdadeiro” não iniciou nas eleições de Bolsonaro ou
mesmo no processo de impeachment de Dilma Rousseff, precisa ser entendido em
sua genealogia e entendido como se instituiu na emergência da pós-verdade, cujo
efeito evidente na política é seu desdobramento metodológico e midiático.
Com a pandemia, o campo da saúde, que, até então, detinha um status de
saber e poder, também foi reconfigurado no emaranhado de enunciados que desau-
torizam e deslegitimam dados e pesquisas ou mesmo profissionais, produzindo, por
meio da pós-verdade, outras estratégias de educabilidade para o enfrentamento
ao coronavírus. O que propomos problematizar neste texto é a pós-verdade como
método político de desconstrução das instituições de saber do dizer verdadeiro, o
que implica nas políticas nos campos educacional, de saúde e científico. Processo
esse acentuado com o bolsonarismo e durante a pandemia do coronavírus, que des-
tacamos como exemplos dos desdobramentos desse movimento anti-intelectualista
e anticiência.
Pós-verdade como método político
No vasto campo reflexivo sobre a pós-verdade, damos destaque, neste texto, à
forma como as instituições do “dizer verdadeiro” e seus representantes – intelec-
tuais, cientistas, professores(as) e jornalistas – são destituídos de autoridade. E
disso resulta, como efeito, a suspensão das certezas e dos jogos de consensos, o que
abre o caminho para as estratégias políticas personalistas e reacionárias que se
sustentam na desagregação social. A pós-verdade, nessa direção, é elevada à mé-
todo político que lança mão de posturas performáticas que manipulam a confian-
ça e suspendem a autoridade institucional do dizer verdadeiro. Como caracteriza
D’Ancona (2018, p. 20), “no cerne dessa tendência global está um desmoronamento
do valor da verdade, comparável ao colapso de uma moeda ou de uma ação”. Nesse
cenário, ainda conforme o autor, “os ‘especialistas’ são difamados como um cartel
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mal-intencionado, em vez de uma fonte de informações verificáveis” (2018, p. 20).
Na pós-verdade há uma substituição das estratégias, não são mais os argumentos
que precisam ser mobilizados no discurso político, mas uma “atitude estética, hu-
morada e flexível” (DUNKER, 2017a, p. 24), caricata em Donald Trump, para citar
um exemplo.
Muito rapidamente, é preciso apontar para o contexto de emergência da pós-
-verdade, para não cairmos na armadilha de personalizarmos o fenômeno, como se
ele tivesse surgido, por exemplo, a partir da era Trump ou Bolsonaro. Esses podem
ser considerados, inclusive, o ponto de chegada e não o de partida da pós-verdade.
Segundo Dunker (2017a, p. 40-41):
A pós-modernidade é a condição ideológica a partir da qual a pós-verdade pode emergir
como uma espécie de reação regressiva. Ela se aproveita de uma percepção social de que
há um excesso de indefinições contido em termos como: politicamente correto, relativismo,
multiculturalismo, igualitarismo, coletivismo, ecologismo e secularismo.
A performance política daí desdobrada é uma reação a essas indefinições e ins-
tabilidades, que convoca a sociedade a voltar a um “estado personalista da verdade,
resgatar suas raízes na família, retomando o tempo em que a verdade era definida
pela identidade do autor que a anuncia” (DUNKER, 2017a, p. 41). Essa perspecti-
va rasura as bases modernas da verdade, calcadas na ciência, no secularismo, na
universidade, na educação e na imprensa. São essas instituições que são colocadas
sob a égide da dúvida e desconfiança, e são elas que, de certa forma, garantiam a
formação da esfera pública, das bases epistêmicas, a partir das quais o debate e as
discussões políticas e culturais podiam se estabelecer, sem com isso desagregar a
sociedade em conflitos e discursos de ódios. Ao minar a separação entre as esferas
públicas e privadas, a pós-verdade personaliza o que antes era entendido como
discurso político, calcado na “ágora”. Não é sem sentido que o apelo a emoções e
ao carisma pessoal é mobilizado com melhor êxito do que argumentos calcados
na frieza de números ou fatos objetivos. Vivemos, portanto, um deslocamento da
confiança na verdade, conforme fora estabelecido na modernidade. De acordo com
Rodrigo Cracco (2018, p. 60):
O “provado cientificamente” foi se instituindo como sinônimo de verdade desde meados da
modernidade e atinge seu auge nos séculos XIX e XX, com o avanço tecnológico que pos-
sibilitou a verificação empírica de várias hipóteses construídas ao longo da modernidade.
O pensamento científico moderno, construído desde a Renascença, sobretudo
a partir da Revolução Copernicana, foi se constituindo como oposição à forma men-
tis medieval, calcada na religião, no comunitarismo, na autoridade da communis
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opinio doctorum do escolasticismo e na misticidade. O cientificismo oitocentista
em diante consagra a verdade à racionalidade científica, secular e universalista,
basilares na construção do próprio homem moderno.
É, pois, uma crise civilizatória que se anuncia. Uma crise da razão, do univer-
salismo e da cidade como espaço público. Segundo Dunker (2017a, p. 27), “a cidade
é a matriz da verdade como história compartilhada, da qual se pode dar testemu-
nho de convivência comum. A pós-verdade substitui essa experiência pelos condo-
mínios e compartimentalizações étnicas”. A fragmentação e a destituição do espaço
público da verdade implicam na destruição da confiança como cimento constitutivo
das sociedades. Como afirma D’Ancona (2018, p. 42), “esse colapso da confiança é
a base social da era da pós-verdade todo o resto flui dessa fonte única e deletéria”.
É preciso situar melhor como essa desconfiança em relação às instituições do
dizer verdadeiro atua. Fazemos uso, para tanto, da maneira como Michel Foucault
problematiza a ideia de verdade, ou o que ele denomina de uma “economia políti-
ca” da verdade, que, para o filósofo, possui cinco características. Historicamente:
1) “a ‘verdade’ é centrada na forma do discurso científico e nas instituições que
o produzem”; 2) “está submetida a uma constante incitação econômica e política
(necessidade de verdade tanto para a produção econômica, quanto para o poder
político)”; 3) “é objeto, de várias formas, de uma imensa difusão e de um imenso
consumo (circula nos aparelhos de educação ou de informação, cuja extensão no
corpo social é relativamente grande, não obstante algumas limitações rigorosas)”;
4) “é produzida e transmitida sob o controle, não exclusivo, mas dominante, de al-
guns grandes aparelhos políticos ou econômicos (universidade, exército, escritura,
meios de comunicação)”; e 5) “é objeto de debate político e de confronto social (as
lutas ideológicas)” (FOUCAULT, 2013, p. 52).
A verdade, nesse sentido, precisa ser pensada historicamente (CANDIOTTO,
2006) e entendida como suporte de determinados regimes de verdade que produ-
zem sentido e atuam na organização das sociedades em determinados contextos,
bem como atuam nos processos de subjetivação e constituição dos sujeitos. Não há,
vale dizer, um sujeito autônomo, universal e dotado de essência própria a dizer a
verdade. Ao contrário, não é no sujeito que devemos procurar a verdade, e sim no
discurso que o atravessa e o constitui. São as formas de controle do discurso, os
jogos de verdade, que estabelecem o que deve ser considerado e aceito como falso
ou verdadeiro, que produzem a legitimidade do dizer a verdade. As instâncias do
dizer verdadeiro, então, são desdobramentos dos “aparelhos políticos ou econômi-
cos”, cuja materialidade encontramos nas instituições científicas e educacionais e
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nos meios de comunicação. A vontade de verdade se manifesta, nessa direção, como
vontade de poder, pois, indissociável dos jogos de verdade. Quando falamos da ver-
dade em nosso tempo, estamos nos referindo, então, à sua legitimidade constituída
pelas regras de veridicção que aceitamos como confiáveis. Trata-se de uma contin-
gencialidade histórica e, por isso, entendida como acontecimento em sua raridade,
em que pese sua ambição à universalidade.
Essa perspectiva em relação à verdade não implica, como querem alguns, em
uma suspensão ou um relativismo radical da verdade, um vale tudo opinativo, ao
contrário, a verdade possui regramentos e critérios de veridicção que legitimam,
em determinado contexto histórico, as ferramentas cognitivas que os sujeitos lan-
çam mão. São os critérios de veridicção que legitimam a verdade socialmente, or-
ganizando os saberes e seus efeitos na constituição dos sujeitos ou, ainda, na forma
como os sujeitos são governados. E é na ciência, com seus critérios metodológicos,
que a verdade, na modernidade, é instituída. A promessa moderna foi justamente
organizar a sociedade a partir de uma razão redentora que lança mão da ciência
como modus operandi das instituições do dizer verdadeiro. Daí a importância das
universidades, da ciência e da imprensa como redutos legítimos que produzem e
fazem circular os discursos que funcionam como verdadeiros.
Muito dessa promessa moderna perdeu força a partir da primeira metade
do século XX, quando todo o manancial científico e tecnológico contribuiu siste-
maticamente para guerras, genocídios, dominações coloniais, etc. Inclusive, para
Signates (2012, p. 140), uma das crises da ciência acontece no aspecto social, pois
“não consegue atender a algumas das mais caras promessas da modernidade: a da
justiça social, a da construção ética e a da solidariedade, racionalmente fundamen-
tadas”. Pelo contrário, o próprio holocausto fora possível devido a sua estrutura
burocrática, sua racionalidade técnica e científica, não sendo um desvio em si da
razão moderna (BAUMAN, 1998). Como lembra Bauman (1998, p. 83), o racismo é
impensável sem o avanço da ciência moderna, da tecnologia moderna e das formas
modernas do poder estatal. Foucault (2002, p. 304), em sua análise do biopoder e
da biopolítica, chama a atenção justamente para a função do racismo na própria
organização e na fundação do Estado-nação moderno:
[...] o que inseriu o racismo nos mecanismos do Estado foi mesmo a emergência desse bio-
poder. Foi nesse momento que o racismo se inseriu como mecanismo fundamental do poder,
tal como se exerce nos Estados modernos, e que faz com que quase não haja funcionamento
moderno do Estado que, em certo momento, em certo limite e em certas condições, não
passe pelo racismo.
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O racismo e suas bases construídas cientificamente durante os séculos XVIII e
XIX são, portanto, um “mecanismo fundamental do Estado” (PELBART, 2011, p. 57-
59). Não é preciso citar muitos exemplos para pensarmos em como o discurso cien-
tífico ofereceu legitimidade às políticas eugenistas e de extermínios em nome de um
conhecimento tido como verdadeiro, desinteressado e pretensiosamente universal.
Não é sem sentido que as sociedades ocidentais, após a Segunda Guerra Mundial,
tenham dado vazão a contranarrativas que se opuseram, gradativamente, às ideias
de pureza racial, homogeneidade cultural/nacional e heteronormatividade patriar-
cal. O multiculturalismo, os movimentos migratórios, as mudanças revolucionárias
na pauta dos costumes, a fratura na fronteira entre cultura popular e alta cultura,
entre outros, pontuaram a crítica à tradição das verdades que até então deram
feição às sociedades modernas. A promessa redentora da modernidade, calcada na
legitimidade e no poder da ciência como narrativa organizadora das sociedades,
perde força e confiança, abrindo espaço para o que Hicks (2011) chamou de estilha-
çamento epistemológico. É interessante notar que esse estilhaçamento epistemo-
lógico correspondeu, no contexto pós-Segunda Guerra, a uma pauta das esquerdas
que visava atacar o cerne dos valores tradicionais, como é o caso do patriarcado, do
universalismo e do cientificismo, a exemplo do darwinismo social e da engenharia
social calcada na eugenia, entre outros. O que temos, agora, é uma outra narrativa
que opera uma inversão nesse relativismo, confrontando as esquerdas e o próprio
pensamento liberal. Como afirma Kakutani (2018, não paginado):
Na primeira rodada das guerras culturais, a Nova Esquerda rejeitou os ideais do Ilumi-
nismo como vestígios do antigo pensamento patriarcal e imperialista. Hoje, esses ideais de
razão e progresso são atacados pela direita por serem vistos como parte de uma conspiração
liberal para minar valores tradicionais.
Logo, cabe a questão: como a pós-verdade se institui como método político?
Mesmo longe de responder integralmente à pergunta, são necessárias algumas
considerações. A pós-verdade faz uso desse estilhaçamento epistemológico que ata-
ca as bases do pensamento moderno e, com isso, do próprio pensamento político.
É na corrosão da política e, sobretudo, de seus agentes, os políticos, que persona-
gens como Trump e Bolsonaro estaquearam suas bases discursivas calcadas, justa-
mente, na antipolítica e, para tanto, mobilizaram pautas morais, como corrupção,
sexualidade e liberdade. A política e a ideologia são associadas à corrupção e à
imoralidade. Entende-se, nesse caminho, como as ciências humanas foram pionei-
ramente atingidas por essa postura, nomeadamente aquelas áreas que assumiram
a política como recurso epistemológico de suas temáticas, como são os estudos rela-
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cionados a identidades, cultura e gênero. Conforme contextualiza Dunker (2017a,
p. 15), no início do século XXI,
[...] o ambiente acadêmico fervilhava em torno da herança das teorias feministas dos anos
70, agora revigorados em estudos de gênero (Gender Studies), estudos gays e lesbianos e
mais tarde pela teoria queer. Independente de seus temas e autores específicos, o movimen-
to incluía uma espécie de retomada da presença da política nas ciências humanas.
Na agenda da pós-verdade, também se encontra uma “guerra cultural” que
lança mão de um revisionismo histórico pernicioso, oferendo interpretações alterna-
tivas para o colonialismo, a escravidão, as ditaduras (como no caso latino-america-
no) e o racismo, para citar alguns. Vale lembrar a entrevista de Jair Bolsonaro no
programa Roda Viva, em 2018, quando afirmou, após ser questionado sobre a dívida
histórica referente à escravidão no Brasil: “eu nunca escravizei ninguém na minha
vida. Se for ver a história realmente, o português nem pisava na África. Os próprios
negros que entregavam os escravos. Que dívida é essa?” (RODA VIVA, 2018).
Esse contexto de suspensão da razão, com a possibilidade de narrativas alter-
nativas sem o menor critério científico ou filosófico, faz da pós-verdade um fenômeno
que abre o campo de viralização para as fake news. Bem entendido, a mentira não é
nenhuma novidade na política, mas, nesse contexto e com o auxílio enorme das redes
sociais, ela adquire uma potência sem precedentes. Kakutani (2018, não paginado)
lembra o alerta do empreendedor do Vale do Silício, Andrew Keen, para quem:
[...] a internet havia não apenas democratizado a informação de maneira inimaginável,
como também estava fazendo com que a ‘sabedoria das multidões’ tomasse o lugar do co-
nhecimento legítimo, nublando perigosamente os limites entre fato e opinião, entre argu-
mentação embasada e bravata.
O embaralhamento da opinião pública, a manipulação da memória, como no caso
da história, e o achatamento da confiança nos especialistas possibilitam o livre trânsi-
to de opiniões sustentadas na credibilidade pessoal, na performance de quem diz. Mi-
nar a confiança, mentir sistematicamente e confundir são métodos de desarticulação
da opinião pública, de generalização da dúvida. D’Ancona (2018, p. 42) aponta que,
“na década de 1990, Ted Goertzel, sociólogo da Universidade Rutgers, realizou uma
pesquisa de opinião por telefone que revelou que aqueles inclinados a desconfiar dos
outros também eram mais propensos a acreditar em teorias da conspiração”.
Fica evidente como a fragilização da verdade e das instituições do falar ver-
dadeiro nos coloca frente à construção de um “novo” ethos político, que desafia a
democracia e seus necessários acordos que permitem às sociedades certa previsibili-
dade e confiança contratual. Não é exagero apontar para um ethos do fascismo, não
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o fascismo histórico, mas rastros que vão se reconstruindo, por exemplo, no apelo
moral e na identificação do inimigo. O sistema moral é extremamente simplificado,
facilitando a comunicação e o alcance à opinião pública. Toda mensagem deve ser fa-
cilmente digerível e repercutida, como os estereótipos sociais e os rótulos ideológicos.
Já os inimigos são facilmente construídos, mobilizados e estereotipados (PAXTON,
2007; STANLEY, 2018). Quando consideramos as falas de Trump e Bolsonaro, por
exemplo, fica evidente como são recorrentes os discursos que lançam mão da conver-
são a valores relacionados à pátria, à heteronormatividade, à família tradicional, a
inimigos comuns, como comunistas, imigrantes ou refugiados, entre outros.
Os rastros de um discurso fascista contemporâneo, que emerge conjuntamente
com a pós-verdade e o abandono da razão, criam um mundo em que os chamados
“cidadãos de bem”, convertidos a esses valores, estão sempre frente a ameaças
externas (globalismo de esquerda) ou internas, como pobres, párias sociais, mino-
rias ressentidas etc. São esses “outros” que se precisa enfrentar cotidianamente,
e, ao menor sinal de ameaça, o ódio e a violência são mobilizados. Os inimigos
são muitos, mas facilmente enquadrados, pois, como observa Dunker (2017a, p.
35), “um fato importante na nova cultura da indiferença e do ódio é que nossas
respostas não são exatamente concentradas no que o outro diz, mas no ambiente,
no contexto, no que se ajusta bem à paisagem”. É fácil, assim, identificar inimigos
nos intelectuais, por exemplo, pois, independente do que se diz, o enquadramento
ideológico presumido deslegitima qualquer possibilidade discursiva. O ataque às
instituições como universidades e escolas e ao saber médico diante da pandemia,
nessa direção, mostra exemplarmente essas táticas de descredibilização e interdi-
ção da autoridade do “dizer verdadeiro”.
Desautorização da ciência e pandemia
No final do ano de 2019, o mundo começa a ter as primeiras notícias sobre a
ocorrência de um vírus altamente contagioso – o novo coronavírus, SARS-CoV-2.
Os primeiros casos aconteceram em Wuhan, na China, mas logo o vírus se espalhou
e agravou o contágio em outros países. A Organização Mundial da Saúde (OMS)
classifica o momento como uma pandemia e, em 2020, o Brasil passa a lidar com o
avanço do vírus.
Ainda sem vacina, uma das únicas formas de prevenção e enfrentamento da
pandemia, indicada pela OMS e por vários pesquisadores, é o isolamento social.
Medida que foi acatada pelo Ministério da Saúde brasileiro, por governadores de
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estados e muitos representantes políticos. Mas, frente aos problemas econômicos
oriundos dos desdobramentos da desaceleração da economia com o fechamento do
comércio, por exemplo, o governo federal inicia um confronto com a OMS, advogan-
do uma narrativa alternativa, próxima à adotada nos EUA, por Donald Trump.
A despeito das inúmeras pesquisas sobre a pandemia, o Planalto passa, então, a
defender um discurso de salvação de empregos, considerando que as mortes na epi-
demia são inevitáveis e que é preciso manter a economia funcionando. Bolsonaro,
seguindo essa direção, entra em rota de colisão, inclusive, com o então ministro da
saúde, o médico Luiz Henrique Mandetta.
A pandemia do coronavírus potencializou, no contexto brasileiro, a deslegiti-
mação da ciência, principalmente porque atingiu uma área de grande status como a
da saúde. Ainda segundo dados da pesquisa sobre a Percepção pública da ciência e
tecnologia no Brasil, os médicos apareciam, em 2019, em primeiro lugar como fonte
confiável de informação para os brasileiros, para só depois figurarem os cientistas
de universidade e instituições públicas de pesquisa (CGEE, 2019, p. 13). Como mui-
to pouco ou nada se sabia sobre o vírus antes de sua aparição, as pesquisas sobre o
coronavírus aconteciam conjuntamente com o avanço da pandemia e muitas infor-
mações foram sendo produzidas, ora recomendando e ora desencorajando determi-
nadas ações, o que colaborou para um descrédito da área e para o fortalecimento de
teorias paralelas, principalmente quando estas partiam do presidente da República.
Bolsonaro recrudesceu o negacionismo à pandemia e descreditou sua gravi-
dade ao nomeá-la como uma “gripezinha” (G1, 20/03/2020). Indo de encontro às
recomendações de afastamento social, chegou a convocar seus apoiadores para atos
(com aglomerações) “a favor dos empregos” (CARVALHO, 2020), disse que faria
uma “festinha” para comemorar seu aniversário (COLETTA, 2020) e foi frequen-
temente flagrado fazendo passeios e aparições públicas sem o uso recomendado de
máscara e outras medidas de higiene. Não raras vezes, apresentou-se em vídeos
abraçando e apertando a mão de apoiadores. Ou seja, um conjunto de performati-
vidades corporais que produziam, através de imagens, o descrédito às orientações
científicas e um encorajamento para o descumprimento das normas estabelecidas
pelos órgãos oficiais de saúde.
Além disso, é preciso destacar a forma como Bolsonaro se relacionou com o
Ministério da Saúde, sobretudo com o ministro Luiz Henrique Mandetta, defensor
das orientações da OMS. Em várias ocasiões, Bolsonaro desacreditou o ministro e
suas políticas atinentes à pandemia, como em relação ao isolamento e ao distan-
ciamento social, que Bolsonaro criticava, postulando a suficiência de um modelo de
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isolamento vertical, direcionado apenas para os grupos da população considerados
de risco. A gravidade e a preocupação com a pandemia e um possível colapso do
sistema de saúde também geraram impasses entre ambos – Bolsonaro chegou a
alegar que a pandemia foi alarmada e agravada pela mídia. Nas suas palavras,
“obviamente temos no momento uma crise, uma pequena crise. No meu entender,
muito mais fantasia, a questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande
mídia propala ou propaga pelo mundo todo” (G1, 10/03/2020).
Aliás, a crise econômica foi a principal sustentação das falas de Jair Bolsonaro
contrárias às formas de prevenção ao vírus. Enquanto estados e municípios inten-
sificavam campanhas de conscientização e prevenção, o governo federal preparava
o lançamento da campanha intitulada “O Brasil não pode parar”, que caracterizava
o momento como histeria e defendia a retomada das atividades econômicas e a
reabertura das escolas. Agravava-se o confronto com o ministro Mandetta, que, em
entrevistas e pronunciamentos diários, continuava defendendo as recomendações
da OMS, além de fazer uma inusitada defesa do Sistema Único de Saúde (SUS),
pois até então o ministro era um defensor da privatização do sistema.
Após as inúmeras divergências, Mandetta não resistiu e foi substituído por
Nelson Teich, que ficou à frente do ministério cerca de um mês apenas. Mesmo sen-
do a aposta de um diálogo mais afinado com a posição de Bolsonaro, Teich também
manteve o discurso alinhado à OMS e aos órgãos de pesquisa. Atualmente, está à
frente do ministério o militar de carreira Eduardo Pazuello, não formado em medi-
cina, vale dizer. O ministério cancelou as entrevistas coletivas diárias e, inclusive,
passou a postergar o horário da divulgação dos dados da pandemia, para que não
fossem divulgados pela imprensa, medida revogada pela justiça.
Para além da disputa discursiva com seus ministros, Bolsonaro mantém a pos-
tura de desacreditar instituições internacionais como a OMS, como já mencionamos,
apelando para o discurso do “viés ideológico” da instituição. Chegou a declarar que:
“ou a OMS realmente deixa de ser uma organização política, partidária, assim, va-
mos dizer, até partidária, ou nós estudamos sair de lá” (GARCIA, 05/06/2020). Ainda
na tentativa de diminuir a importância da pandemia, Bolsonaro minimizou as mor-
tes causadas pelo coronavírus, com frases como: “E daí? Lamento. Quer que eu faça
o quê?” (GARCIA, 28/04/2020), que afirmou quando questionado, em abril de 2020,
sobre o número de óbitos; ou mesmo: “Ô, cara, quem fala de... [morte] Eu não sou
coveiro, tá certo?” (G1, 20/04/2020), como declarou também em abril de 2020.
O discurso de Bolsonaro que visa atacar um inimigo ideológico, o viés partidá-
rio, as teorias conspiratórias, acaba ganhando adeptos que desmobilizam o isola-
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mento social, única estratégia comprovada para conter a pandemia, e saem às ruas
protestando pela retomada das atividades econômicas do país. O negacionismo do
governo é flagrante e tem mobilizado seus seguidores a apoiá-lo, inclusive com
atos violentos e antidemocráticos. Vale dizer, nesse sentido, que a atuação de Jair
Bolsonaro diante da pandemia foi denunciada junto ao Alto Comissariado da Orga-
nização das Nações Unidas (PORTAL UOL, 01/07/2020) como atentado aos direitos
humanos das populações mais vulneráveis.
O presidente, a Cloroquina e a bula anticientíca
Ainda no mês de março, durante os primeiros casos de coronavírus no Brasil,
o presidente, Jair Bolsonaro, apareceu em vídeo, vestindo a camisa de um time de
futebol, anunciando que um hospital particular iria iniciar testes com cloroquina
em pacientes acometidos pelo coronavírus e que o laboratório químico e farmacêu-
tico do exército daria início à produção em massa do medicamento. Não demorou
muito para que, mesmo sem comprovação científica e com a possibilidade de fortes
efeitos colaterais, os estoques dos medicamentos fossem esvaziados nas farmácias.
Entusiasta da cloroquina, assim como Donald Trump, Bolsonaro passou a pro-
por o uso do medicamento em diversas entrevistas. Fato determinante para a sua
conturbada relação com o até então ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta,
que recorria à ciência e não defendia o uso indiscriminado do medicamento. Segun-
do declarou o ministro: “só trabalho com critério técnico e critério científico, só tra-
balho com Academia, só trabalho com o que é ciência. Agora existem as pessoas que
trabalham com critérios políticos, que são importantes, deixem que eles trabalhem.
Não me ofende nada” (ISTOÉ, 01/04/2020). Nessas duas situações estão visíveis
as disputas entre uma estratégia que reformula a ciência pelo viés da pós-verdade
para fins políticos e outra que toma o saber científico da medicina – em que ambos
ocupam espaços de autoridade e, portanto, produzem informações que educam a
população diante da pandemia. Vale frisar que a OMS suspendeu as pesquisas
com cloroquina em função dos efeitos colaterais e da ineficácia no tratamento dos
acometidos pela Covid-19.
Entendemos que a pandemia pode ter proporcionado o exemplo mais claro do
descrédito científico quando Bolsonaro, para manter sua teoria de que a cloroquina
funcionava, chegou a propor a troca da bula do medicamento, orientando-o para
o tratamento de Covid-19. Em entrevista, Mandetta (GAÚCHAZH, 21/05/2020)
revelou:
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O presidente se assessorava ou se cercava de outros profissionais médicos. Eu me lembro
de quando, no final de um dia de reunião de conselho ministerial, me pediram para entrar
numa sala e estavam lá um médico anestesista e uma médica imunologista, que estavam
com a redação de um provável ou futuro, ou alguma coisa do gênero, um decreto presiden-
cial... E a ideia que eles tinham era de alterar a bula do medicamento na Anvisa, colocando
na bula indicação para covid-19.
Em julho de 2020, Bolsonaro declarou ter testado positivo para o coronavírus
e já ter iniciado o tratamento com a cloroquina. O presidente (VEJA, 07/07/2020),
centrando-se em sua figura performática, aparece em vídeo tomando o medicamento:
Sabemos que hoje em dia existem outros remédios que podem ajudar a combater o coro-
navírus, sabemos que nenhum tem a sua eficácia cientificamente comprovada, mas mais
uma pessoa que está dando certo, completou, fazendo uma referência a si próprio logo após
tomar um copo de água para engolir o medicamento. “Eu confio na hidroxicloroquina, e
você?”, perguntou.
A manobra discursiva de Bolsonaro é fazer dele mesmo o garoto propaganda de
suas crenças e continuar criando o mito do homem que é sempre atacado pelos ini-
migos “ideológicos”, mesmo quando é capaz de provar, ou formular, suas verdades.
A pandemia permitiu a construção de uma trama de descrédito à ciência calcada em
fake news e na proliferação de teorias atinentes à pós-verdade. As estratégias per-
formáticas de Bolsonaro continuam confrontando a ciência e advogando uma narra-
tiva alternativa próxima do ethos do fascismo, tentando interditar as divergências
ou crenças desalinhadas sobre o que pode ou não ser a verdade sobre a pandemia.
A vacina, saúde e processos de (des)educabilidade da população pela pós-verdade
Um dos episódios mais recentes que a relação do governo bolsonarista com a
pandemia proporcionou, ainda durante a escrita deste texto, diz respeito à com-
pra de vacinas capazes de produzir anticorpos contra o coronavírus e destinadas à
imunização da população brasileira. Ocorre que a oferta de vacinas partia da Chi-
na – um país “comunista” – e, portanto, um dos inimigos discursivos dos governos
conservadores. As vacinas que são desenvolvidas pelo mundo estão em períodos
de testagem, mas o Brasil, através do Ministério da Saúde, e o estado de São Pau-
lo haviam estabelecido um acordo com o laboratório chinês para a compra de 46
milhões de doses. A vacina chinesa é desenvolvida em parceria com o renomado
Instituto Butantan (SP) e já realiza testes com voluntários no país. Segundo Bol-
sonaro, o acordo estabelecido entre o Ministério da Saúde e o estado de São Paulo
destituiu sua autoridade: “já mandei cancelar, o presidente sou eu, não abro mão
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da minha autoridade [...]. Até porque estaria comprando uma vacina que ninguém
está interessado nela, a não ser nós” (PORTAL UOL, 21/10/2020). A posição do
presidente foi justificada por não haver aprovação por órgãos de controle para a
comercialização do medicamento – não reconhecendo o trabalho feito dentro do
próprio país junto ao Instituto Butantan.
Provocar e parar o processo de compra de vacinas é coerente com a postura
de um representante nacional que constantemente minimizou a pandemia como
problema de saúde. Bolsonaro e seus apoiadores utilizaram a postura negacionis-
ta como estratégia de atuação frente ao coronavírus e provocaram estratégias de
educabilidade à população diferentes das recomendadas pelas organizações oficiais
de saúde. Isso se dá por meio de performatividades corporais que vão às ruas, que
mantêm contato físico, sem máscara ou qualquer proteção. Ocorre pela construção
paralela de uma narrativa que minimiza a pandemia e produz soluções alternati-
vas, amparadas pela estratégia da pós-verdade, como isolamento vertical, contágio
em rebanho, cloroquina ou, até mesmo, a não necessidade de vacinas.
Considerações nais
Christian Dunker (2017b) frisa que a pós-verdade tem muitas implicações po-
líticas, morais e institucionais, mas é no campo da educação que a suspensão da
verdade prenuncia um conjunto de efeitos ainda incalculáveis. E foi esta a preo-
cupação deste texto quando tratou de analisar como o campo da educação, em es-
pecial o da ciência, passa a ser destituído de valor e reconhecimento institucional
do “dizer verdadeiro”. Logo, quando entendemos o ataque à ciência, nomeamos um
ataque às instituições que ela fomenta, como educação e saúde.
A deslegitimação do saber científico, o cerceamento financeiro à pesquisa, o
descrédito às universidades e aos pesquisadores, que passam constantemente a
serem atacados, são característicos dessas práticas políticas calcadas na pós-ver-
dade. Desautorizar instituições e profissionais que caracteristicamente são deten-
tores da verdade é parte estratégica do método político da pós-verdade. Vale ainda
frisar como este processo de deslegitimação passa a ser articulado através do ne-
gacionismo, na produção de fake news, na formulação de teorias alternativas ou
mesmo conspiratórias, que desestabilizam a opinião pública. A pós-verdade como
método político do governo Bolsonaro se apresenta na performatividade pessoal,
nos discursos conservadores calcados na pauta moral, na “valorização” da pátria,
da família e da religião, muito próximos aos rastros do fascismo, fazendo da ciên-
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cia, da educação e dos intelectuais, inimigos públicos. O exemplo mais flagrante
dessas práticas políticas encontramos na forma como o governo Bolsonaro lidou
com a pandemia do coronavírus. Ela nos oferece a materialidade dos efeitos trá-
gicos da pós-verdade como método político e que está nos desafiando a lidar com
novas perspectivas de processos de educabilidade.
Caberá às instituições como universidades, mídias e escolas tomar novamente
o controle do direito pelo dizer verdadeiro. Silva e Hillesheim (2021, p. 6) frisam
que os discursos de verdade necessitam e são regrados pelas instituições:
Precisam da legitimidade das instituições, dos diplomas, das chancelas e da autoridade do
dizer as coisas. As instituições são espaços fundamentais que possibilitam a ordem dos dis-
cursos e sua difusão no tecido social. É importante notar que as instituições oferecem os pa-
râmetros, os critérios e os procedimentos necessários para a legitimidade social da verdade.
Se vivemos historicamente um contexto de expansão da pós-verdade, também
existe a ampliação dos movimentos de resistência, diálogo, produção científica e
crítica ao desprezo pelo dizer verdadeiro. Há que se fortalecer as instituições que
sigam procedimentos científicos de produção da verdade.
Isso não significa uma cristalização da verdade, entendendo-a como universal e imutável,
mas, mediante a constatação de sua precariedade, um exercício cuidadoso no sentido de
problematizar as próprias formas pelas quais nós, enquanto sociedade, construímos deter-
minadas verdades, resultantes de determinados arranjos discursivos. Para isso, é preciso
retomar tanto a realidade da experiência, quanto os critérios do pensamento, elementos
que, como assinalado no início deste texto, estão fraturados em uma sociedade mergulhada
em um ethos fascista (SILVA; HILLESHEIM, 2021, p. 15-16).
Há que se produzir enfrentamentos ao ethos fascista que atravessa o campo da
educação. As estratégias de educabilidade, desta educação que está para além do
espaço da escola, mas que se faz na mídia, nos espaços públicos, nos movimentos
sociais, precisam perpassar pela verdade como mobilizadora discursiva.
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VEJA. Jair Bolsonaro toma hidroxicloroquina em vídeo e diz: ‘Está dando certo’. 07 jul. 2020.
Disponível em: https://veja.abril.com.br/politica/jair-bolsonaro-toma-hidroxicloroquina-em-vi-
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