
462 ESPAÇO PEDAGÓGICO
Ricardo Burg Ceccim, Rosimere da Rosa Correa
v. 28, n. 2, Passo Fundo, p. 444-469, maio/ago. 2021 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
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No Brasil, conforme divulgado pela Reatech (2020), o setor de tecnologia assis-
tiva faturou R$ 5,5 bilhões em 2017. Considerando o número de cidadãos brasileiros
com deficiência e, também, com dislexia, daltonismo e idosos, a quantidade de usuá-
rios da internet que precisam de acessibilidade pode chegar a 30,2 milhões. Contudo,
considerando os estados e municípios brasileiros, estes não tiveram uma proposta es-
truturada e contundente pela falta de diretriz política oficial do Ministério da Educa-
ção. Em nenhum momento, vimos o ministro da Educação vir a público para abordar
o tema ou gerir junto aos estados e municípios esse processo. Pelo contrário, o que
vemos é um conjunto de iniciativas principalmente das escolas, cada uma fazendo do
jeito que dá, sem nenhuma política oficial, seja com um protocolo de segurança, seja
com um protocolo para garantir a acessibilidade ou o acesso digital de alunos.
Além disso , tem a cobrança da sociedade, da escola, das professoras que às vezes não se dão
conta, não por mal, mas por ignorância, às vezes de julgar aquela família, aquela criança, de
apontar as falhas e de achar que “se fosse de tal maneira” seria diferente. Mas a pessoa não faz
ideia da caminhada que aquela família teve. Acho muito arriscado uma pessoa de fora daquele
âmbito familiar ficar falando qualquer coisa que seja, muito menos que julgue porque a situação
já é difícil. Se não for para ajudar, melhor não dar opinião. Eu fiz um canal no YouTube e alguns
dos vídeos meu filho de 8 anos, que é autista, participa. E tem uma história legal por trás disto,
porque estava impossível trabalhar em casa. Inclusive falei para meu marido que eu não ia con-
seguir trabalhar em casa: o bebê precisa de mim, quer colo o tempo todo, e chora. (Excerto 2.c).
No momento em que vivenciamos uma era pandêmica, na qual há uma crise
na economia, na educação, sem falar nas crises de outras demandas, e em que a in-
ternet ainda não é um bem comum da população em geral, carecemos de iniciativas
do governo federal para garantir o acesso e a acessibilidade para todas as pessoas,
seja negociando com empresas de telefonia, seja distribuindo recursos para esse fim
a estados e municípios. Os impactos nas desigualdades sociais e educacionais se evi-
denciam maiores do que tínhamos dimensão. Com o distanciamento social e o ensino
remoto, mostra-se uma diferença nos suportes de apoio necessários à educação em
seus diferentes níveis, sobretudo nos anos iniciais e para a educação especial.
Agora, inclusive , ficou mais fácil de ajudar os professores porque temos mais tempo teori-
camente para conversar sobre os alunos e as atividades, mas sempre tem aqueles que não
fazem atividades adaptadas para estes alunos ou, ainda, aqueles professores que mandam a
mesma atividade para todos os alunos com deficiência do sexto ao nono anos, só mudando
o nome do aluno no título do arquivo. Logo no início da pandemia, só as primeiras atividades
para os alunos com deficiência passariam por mim, mas preferi receber assim, continuamente.
Porque estava indo cada atividade do tipo: atividade de desenho e pintura para um aluno que
não tinha preparação motora para pegar um lápis, por exemplo. O professor de matemática,
em outro exemplo, mandava toda semana histórias matemáticas, praticamente as mesmas, só
mudando os números. Então, tive que intervir mais frequentemente. (Excerto 1.d).