
822 ESPAÇO PEDAGÓGICO
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Vanderléia Leodete Pulga, Renata Maraschin, Altair Alberto Fávero
v. 28, n. 2, Passo Fundo, p. 816-833, maio/ago. 2021 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
de Gênero, iniciativa do Ministério do Desenvolvimento Agrário, por meio do Pro-
grama de Promoção da Igualdade de Gênero, Raça e Etnia e do Núcleo de Estudos
Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD), em parceria com a Associação Brasi-
leira (ABA), com a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) e com
a Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 2006.
Já a pesquisa que deu origem à tese de doutorado junto ao PPGEdu da
UFRGS, vinculada à Linha de Pesquisa “Trabalho, Movimentos Sociais e Edu-
cação”, sob orientação da Dra. Marlene Ribeiro, intitulada Mulheres camponesas
plantando saúde, semeando sonhos, tecendo redes de cuidado e de educação em
defesa da vida, foi realizada com o Movimento de Mulheres Camponesas Nacional.
Consistiu na identificação de contribuições político-pedagógicas dos movimentos
sociais populares nas experiências e práticas culturais, integrativas, tradicionais
de cuidado e de educação popular em saúde, especialmente do Movimento de Mu-
lheres Camponesas, para contribuir com os processos de formação de profissionais/
trabalhadores(as) da saúde para sua atuação no SUS em comunidades do campo,
da floresta e das águas. A pesquisa foi realizada junto ao Movimento de Mulheres
Camponesas através de análise de observações, registros, documentos, histórias de
vida, oficinas e círculos de cultura feitos com mulheres integrantes dessa organi-
zação, como também as redes de interação com a educação popular e permanente
em saúde. A pesquisa articulou essas experiências e seus saberes no contexto de
produção de vida, saúde e adoecimento das populações que vivem nesses territórios
e os desafios para o cuidado integral e a educação em saúde. Territórios marcados
pelos interesses do capital transnacional e seus impactos sobre os(as) campone-
ses(as), onde os determinantes sociais e as desigualdades compõem a complexidade
da situação de saúde dessas populações.
A tese refletiu sobre a ação das mulheres camponesas na produção de cuidado
da vida e da saúde na sua trajetória histórica, os eixos estruturantes articulados
às relações sociais de gênero, raça/etnia, classe e orientação sexual, ao feminismo e
ao projeto popular de agricultura camponesa. Reafirmou o que já havia sido iden-
tificado na pesquisa anterior, em que, diante da fragilidade de políticas públicas
para as populações do campo, florestas e águas, o MMC surgiu como espaço de luta
e valorização das mulheres camponesas; a conquista de direitos e a saúde emergem
como uma das lutas importantes do movimento. Nele, as mulheres se ressignifi-
cam, têm o cuidado com a vida e a saúde como base central do seu agir e fazem
experiências de libertação e emancipação, enquanto sentido profundo de sua práxis
portadora de uma dinâmica educativo-terapêutica e uma mística libertadora.