
587
ESPAÇO PEDAGÓGICO
v. 27, n. 3, Passo Fundo, p. 586-590, set./dez. 2020 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
Este artigo está licenciado com a licença: Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
e recebeu sua primeira publicação em inglês, nos Estados Unidos, em 1970 e em
espanhol no final do mesmo ano. No Brasil, a obra só foi publicada em 1974. Dadas
as circunstâncias impostas pelas ditaduras em diferentes países, no caso brasileiro
desde 1964, a obra foi escrita de forma artesanal, como revela o próprio autor,
durante o período do exílio no Chile num contexto ainda não ditatorial. Mesmo sen-
do escrita no Chile, a base empírica da sua construção está nas experiências que
realizou como educador popular em diferentes espaços no Brasil. A obra clássica,
objeto de homenagem, resultou de falas com educadores populares, com diferentes
tradições intelectuais e, especialmente, com os próprios “oprimidos”. A fonte prin-
cipal baseou-se nos pronunciamentos e nas ações daqueles com os quais atuava
cotidianamente, especialmente nos espaços coletivos e nos “círculos de cultura ou
de investigação”, que eram formados por educadores e educandos. Freire a consi-
derava uma obra singela, que tinha como objetivo apenas organizar de forma mais
sistemática os registros que fazia em papéis avulsos e em cadernetas que sempre
tinha à mão. À noite e em viagens, foi construindo o manuscrito que deu origem
ao livro. Nesse sentido, pode-se dizer que é uma obra construída coletivamente,
mesmo que Freire seja o grande narrador.
Da primeira edição, em língua inglesa, até os dias atuais, tornou-se uma das
obras mais publicadas e conhecidas no mundo, com tradução em dezenas de línguas
e circulação em praticamente todos os países do mundo. O dado do Google Scholar de
que essa é uma das obras mais reconhecidas internacionalmente, com 75 mil citações,
terceiro lugar dentre as mais citadas nas universidades na área das humanidades,
além de estar entre as 100 obras mais lidas nas universidades de língua inglesa e ser
a única de um autor brasileiro, evidencia o reconhecimento tanto da obra quanto do
autor. No Brasil, já são milhares de artigos, dissertações e teses abordando a produ
-
ção intelectual de Freire. Como educador, ele foi condecorado com inúmeros títulos
honoris causa, em universidades de diferentes países. Recebeu o prêmio Educação
pela Paz da UNESCO, em 1986, e foi declarado patrono da educação brasileira, em
2012. Esse título foi ameaçado de ser cassado pelo governo Bolsonaro.
Apesar de todo o reconhecimento, Paulo Freire vem sendo maldosamente cri-
ticado por setores reacionários e autoritários sob acusação de ser comunista e res-
ponsabilizado por mazelas da educação brasileira e de países do terceiro mundo,
pois, segundo tais críticas, sua proposta pedagógica é demagógica, apresenta forte
ranço ideológico e é inconsistente dos pontos de vista pedagógico e científico. Toda
perspectiva dialógica tem de estar aberta para críticas, postura que o próprio Freire
sempre assumiu. O problema é que muitas das reações na atualidade são decorren-