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ESPAÇO PEDAGÓGICO
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Ivo Dickmann, Ivanio Dickmann
v. 27, n. 3, Passo Fundo, p. 702-717, set./dez. 2020 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
sem iniciar um trabalho educativo já com as respostas prontas sobre um tema ou
conceito. O diálogo implica na não violência, na postura amorosa entre os sujeitos,
no respeito mútuo, na diversidade e na diferença, na tolerância, enfim, o diálogo
é abertura ao outro, e a educação torna-se diálogo de saberes. Nesse sentido, o
diálogo muda as relações de poder no processo pedagógico, sendo agora construí-
do na horizontalidade, na confiança no outro e na intercomunicação, partindo do
princípio que todos sabem algo, não há saber mais ou saber menos, mas saberes
diferentes, como uma exigência existencial dos seres humanos (FREIRE, 2011;
SANTOS, 2017).
Um segundo princípio é a politicidade do ato educativo, afirmando que não
há neutralidade nas práticas pedagógicas. Se educar é um ato de mudança – das
pessoas e dos contextos nos quais elas estão inseridas –, então, a educação é po-
lítica, não porque queria Freire, mas porque ela implica numa rede de relações
sociais e, portanto, interligadas ao todo da realidade. Há uma ligação política na
relação entre quem ensina e quem aprende, assim como há relação política entre
as pessoas nas demais esferas da vida pública. A negação da politicidade da edu-
cação já é um ato político-ideológico, em torno de uma visão de mundo – distinta
desta, obviamente. Por isso, afirma-se a educação como fator de transformação da
sociedade, como ato de mudar as pessoas e o mundo. Por ser política, a Educação
Libertadora gera participação, é democrática, ao contrário da educação bancária,
que é autoritária e gera apatia e silêncio submisso.
Por último, é preciso falar da educação a partir do contexto, ou de como cons-
truir conhecimento a partir da realidade dos educadores e educandos. O lugar dos
sujeitos como ponto de partida gnosiológico permite encharcar de sentido o proces-
so de produção do conhecimento, visto que uma das descobertas freirianas é que
quanto mais próximo do contexto estiver o conteúdo, melhor o educando aprende
(GADOTTI, 2001; FREIRE, 2011). O que importa neste princípio, em específico, é
que, ao conhecer a realidade do seu entorno de vida, os educandos podem projetar
ações transformadoras, já que a produção do conhecimento é uma ação em vista da
práxis e da mudança, não simplesmente para acumular saberes, mas para apro-
fundar a leitura do mundo (que precede a leitura da palavra) na perspectiva do
engajamento desses sujeitos no seu mundo mais imediato.
Esses princípios contribuem para a construção de uma Didática Freiriana,
que crê no ser humano, no diálogo rigorosamente amoroso, com foco nas perguntas
problematizadoras, em que educadores e educandos assumem papel de respeito
mútuo, mas também de agentes políticos nas relações e nos processos. As contribui-