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ESPAÇO PEDAGÓGICO
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Educação republicana e democrática: potencialidades e desaos para a formação inicial docente
v. 27, n. 3, Passo Fundo, p. 776-791, set./dez. 2020 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
Desse ponto de vista, evidencia-se a aposta na educação do sujeito ao assumir-
-se que a escola, como instituição laica, apresenta os temas e possibilita seu debate,
numa convicção de que o sujeito pode construir seus pontos de vista na medida
em que acessa informações plurais, mediadas por um professor capacitado a um
debate em que as divergências aflorem e sejam tensionadas às perspectivas uni-
versalizantes. Também podemos observar, em Benevides (2016, p. 29-30), a aposta
na educação autônoma dos sujeitos:
A política e o exercício do poder são necessários e indispensáveis. Mas trazem, em si, a pos-
sibilidade do abuso, da manipulação, e as consequências costumam ser catastróficas. Tenho
enorme admiração por todos aqueles que se envolvem diretamente com tarefas políticas e
o exercício do poder, tendo como principal compromisso a prática dos valores republicanos
e democráticos – ou seja, a prioridade ao bem comum, acima dos interesses particulares e
privados, o respeito à igualdade de todos em dignidade, a garantia a todos de acesso aos
bens e serviços sociais, à cidadania ativa, enfim.
Benevides (2019, p. 3) deixa uma provocação para pensarmos o assunto na
medida em que reafirma a escola como este locus privilegiado de formação:
Onde deve ser desenvolvida a educação do cidadão? A escola é o locus privilegiado, embora
sofra, atualmente, a concorrência de outras instituições – como os meios de comunicação
de massa. A escola continua sendo a única instituição cuja função oficial e exclusiva é a
educação. É evidente que existem outros espaços para a educação do cidadão, dos partidos
aos sindicatos, às associações profissionais, aos movimentos sociais, aos institutos legais
de democracia direta. Mas a escola não deve substituir a militância, pois forma cidadãos
ativos e livres, e não, como alertava Fernando de Azevedo, homens de partido, de facções
virtualmente intolerantes.
Nesta direção, tomamos a ideia de Masschelein e Simons (2015), que fazem
uma defesa da escola em seu aspecto de escolé, ou seja, recuperam a noção grega
de escola com um tempo livre, um lugar privilegiado no qual as crianças e os jo-
vens estariam livres da família, da religião, do trabalho e da política. Para estes
autores, “a escola cria igualdade precisamente na medida em que constrói o tempo
livre, isto é, na medida em que consegue, temporariamente, suspender ou adiar o
passado e o futuro, criando, assim, uma brecha no tempo linear” (MASSCHELEIN;
SIMONS, 2015, p. 36).
Nossa expectativa é de que a escola possa constituir-se em um tempo/espaço
de vivências em direção à alteridade. Que a mesma possibilite ao sujeito pensar
as questões de seu tempo, mediadas por professores sensíveis, que permitam ra-
dicalizar o princípio expresso nas DCNs de conduzir os alunos a uma formação
ética, estética e inclusiva, radicalizando o todos com o propósito da perfectibilidade,
que deve caracterizar uma sociedade republicana e democrática, uma vez que: “O