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ESPAÇO PEDAGÓGICO
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Diálogo com educadores
v. 27, n. 3, Passo Fundo, p. 918-932, set./dez. 2020 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
no Brasil), assim como a teologia da libertação, é que nós partíamos de uma muito
próxima “concepção dialógica” da comunicação humana, do processo da história, da
ação política e da atuação pedagógica.
Os companheiros marxistas partiam de uma “concepção dialética”, entre di-
ferentes versões, de acordo com cada tendência (Tanto Althusser, quanto Antô-
nio Gramsci e Mao Tse-Tung eram muito lidos e citados, inclusive por militantes
cristãos). A própria ideia de “dialética”, que nos vem da Grécia, e que depois do
marxismo foi assumida, pensada e proposta por Paulo Freire, em direção a um
distante horizonte de algum modo comum com o marxismo, inclusive a partir de
uma proximidade no que tocava classes sociais e seus enfrentamentos no processo
da história. No entanto, política e pedagogicamente ele buscava chegar a este hori-
zonte por caminhos diferentes.
Creio que sem descer a profundidades pedagógicas, podemos pensar que mais
próximo a educadores e militantes cristãos-freireanos do que dos marxistas, suas
ideias poderiam resumir-se assim:
Cada pessoa é uma fonte original e única de uma forma própria de saber, e
qualquer que seja a qualidade deste saber ele possui um valor em-si, por represen-
tar uma experiência individual e irrepetível de uma vida e de sua partilha na vida
social. Este é o fundamento humanista e mesmo ontológico do diálogo.
Assim também cada cultura representa um modo de vida e uma forma origi-
nal e autêntica de ser, de viver, de sentir e de pensar, de uma ou de várias comuni-
dades sociais. Cada cultura só se explica desde o seu interior para fora, e os seus
componentes “vividos-e-pensados” devem ser o fundamento de qualquer programa
de educação ou de transformação social.
Ninguém educa ninguém, mas também ninguém se educa sozinho, embora
pessoas possam aprender e se instruir em algo por conta própria. As pessoas, como
seres humanos, educam-se umas as outras e mutuamente se ensinam-e-aprendem,
através de um diálogo mediatizado por mundos de vivência e de cultura entre seres
humanos, grupos e comunidades diferentes, mas nunca desiguais.
Assim, não existem educadores individuais ou coletivos (como “o Partido”). Do
mesmo modo como não é possível pensar ciências da natureza e da história pré-es-
tabelecidas e pedagogicamente passíveis de serem ortodoxamente tomadas como
ponto de partida exclusivo de qualquer docência.
Alfabetizar-se, educar-se (e nunca: “ser alfabetizado” ou “ser educado”) significa
algo mais do que apenas aprender a ler palavras e desenvolver certas habilidades ins
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trumentais. Significa aprender a ler, crítica e criativamente, “o seu próprio mundo”.