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ESPAÇO PEDAGÓGICO
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Paulo Freire mais do que nunca: uma biograa losóca
v. 27, n. 3, Passo Fundo, p. 933-940, set./dez. 2020 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
A dialética freireana tem significância quando o ensino e a aprendizagem
ocorrem na medida em que todos são ouvidos e atendidos de igual para igual. Ao
ensinar, o educador aprende e, ao aprender, o educando ensina. A diferença é a
que alimenta a relação pedagógica assentada na igualdade, por isso, não deve ser
percebida como desigualdade. Esses aspectos tornam a relação pedagógica enri-
quecedora, contribuindo para transformação da vida e da sociedade.
O terceiro princípio é o amor, ou o entendimento de que educar é um ato
amoroso e de que o amor é também um ato político, de viver a vida para expandi-la
e nunca para reduzi-la. Para indicar o que é o amor, em Freire, o autor retoma
a vida de Sócrates, um mestre do amor. Segundo Kohan, Freire recria o enigma
(ou mistério) do Eros pedagógico apontado por Sócrates. Na obra Pedagogia do
Oprimido, por exemplo, o amor é um pilar, uma condição da verdade, por isso, ao
estabelecer essa forma de amor, demonstra que é diálogo enquanto expressão de
coragem e compromisso com os outros seres; é, também, um ato de compromisso
com a libertação dos oprimidos, pois buscar a libertação é entender que não é pos-
sível o amor quando há opressão e não liberdade. Assim, essa ideia do amor torna
o capitalismo inaceitável, principalmente porque, para Freire, o capitalismo torna
impossível amar de verdade.
A amorosidade é tão importante na pedagogia de Freire a ponto de ser mencio-
nada como uma condição essencial – e possível – para ser educador: se não houver
como amar, não há como educar, ensinar e aprender – eis o saber principal da edu-
cação. Quando se ama educar, se sabe encontrar, no tempo Chrónos, a suspensão do
tempo de escola como instituição, para habitar o tempo Skholé, espaço para tempo
livre. Por isso, o amor torna o tempo da escola tempo Kairós, o tempo da oportuni-
dade, o momento preciso em que a educação pode acontecer.
Nesse contexto, a amorosidade filosófica do educador não deve ser ingênua,
mas política, situada. É feita na luta, na resistência, no canto pelo direito de can-
tar, de amar e ser amado, de ensinar e de ser ensinado, de aprender e de ser apren-
dido. Exige luta, compromisso, ousadia. O amor precisa estar em defesa do direito
de amar e ensinar, na busca por um mundo mais amoroso. Precisa estar na defesa
do tempo Kairós, da Skholé.
Em sua forma de expressar seu amor pela educação freireana, Kohan pensa
na luta cotidiana do educador, nas péssimas condições de trabalho e salário, no des-
caso do poder público para com a educação pública, na repressão constante que os
educadores sofrem. Assim, sua forma de educar é amar questionando, dialogando,
pensando, aprendendo.