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Patrícia Carlesso Marcelino, Franciele Silvestre Gallina, Alex Sander da Silva
v. 28, n. 2, Passo Fundo, p. 704-726, maio/ago. 2021 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
Educação ético-estética em tempos de pandemia: conexões entre arteterapia e
bem-estar humano
Ethical-aesthetic education in times of pandemic: connections between art therapy and human
well-being
Educación ético-estética en tiempos de pandemia: conexiones entre arteterapia y bienestar
humano
Patrícia Carlesso Marcelino*
Franciele Silvestre Gallina**
Alex Sander da Silva***
Resumo
O artigo tem como objetivo reetir acerca da noção de bem-estar humano, que evolui para a promoção da
saúde e a adequação da vida social, o que necessariamente sugere uma mudança epistemológica. Propõe a
arteterapia, no âmbito da educação ético-estética e das práticas integrativas e complementares em saúde, como
possível referencial teórico e prático para a promoção do bem-estar das pessoas em tempos pandêmicos, o qual
expõe fraturas sociais marcadas pela desigualdade econômica, por práticas excludentes, racistas e preconcei-
tuosas no trato com a vida humana. Assim, em um primeiro momento, contempla-se a temática da educação
ético-estética em prol da saúde, para que se possa pensar o ser humano em sua integralidade. A seguir, com
o intuito de valorizar tais reexões, acrescenta-se ao tema um diálogo entre a arte e o cuidado humanizado,
apontando a arteterapia como recurso expressivo terapêutico no contexto das práticas integrativas e comple-
mentares em saúde.
Palavras-chave: educação ético-estética; saúde; arteterapia; práticas integrativas e complementares.
*
Doutora e mestra em Educação pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Graduada em Educação Física – Licen-
ciatura Plena (UPF). Especialista em Docência na Saúde (UFRGS) e especialista em Atividade Física e Qualidade de
Vida (UPF). Docente universitária desde 2007, atua nas áreas de Educação, Estética e Cosmética, Saúde e Educação
Física. Coordenou os cursos de graduação em Educação Física Licenciatura e Bacharelado na Universidade Luterana
do Brasil (Ulbra), Campus Carazinho, RS, de 2011 a 2019. É terapeuta oral e personal wellness com ênfase em prá-
ticas integrativas e complementares em saúde (PICs), bem-estar, aromaterapia, terapias andinas e no atendimento
especializado para pacientes oncológicos hospitalizados. Membro dos grupos de pesquisa GEPES, NEPEFE e Teoria e
Prática Pedagógica (UPF). Orcid: http://orcid.org/0000-0002-9084-1182. E-mail: patriciacarlessowellness@gmail.com
** Doutora e mestra em Educação pelo PPGEdu da Universidade de Passo Fundo (UPF). Licenciada em Educação Artís-
tica, Habilitação em Artes Plásticas e Docente do curso de especialização em Arteterapia (UPF). Pesquisadora sobre
Educação Ética-Estética em diversos espaços de sociabilidade. Orcid: http://orcid.org/0000-0002-2528-4674. E-mail:
franciele_82@yahoo.com.br
*** Pós-doutor pelo PNPD/Capes no PPGE/Unimep no núcleo de História e Filosoa da Educação. Doutor em Educação
pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande de Sul e mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa
Catarina. Graduado em Filosoa pela Universidade do Sul de Santa Catarina. Editor da Revista Criar Educação e pro-
fessor do Programa Pós-Graduação em Educação pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (PPGE/Unesc). Orcid:
https://orcid.org/0000-0002-0945-9075. E-mail: alexsanders@unesc.net
Recebido em: 06/04/2021 – Aprovado em: 31/08/2021
http://dx.doi.org/10.5335/rep.v28i2.12453
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Abstract
The article aims to reect about the notion of human welfare that evolves to the promotion of health and the
adequacy of social life, which necessarily suggests an epistemological change. It proposes art therapy, in the
scope of ethical-aesthetic education and integrative and complementary health practices, as a possible theore-
tical and practical reference for the promotion of peoples well-being in pandemic times, which exposes social
fractures marked by economic inequality, by exclusionary, racist and prejudiced practices in dealing with human
life. Thus, in a rst moment, the theme of ethical-ethical education in favor of health is contemplated, so that the
human being can be thought of in its entirety. Next, in order to enhance such reections, we add to the theme a
dialogue between art and humanized care, pointing to Art Therapy as an expressive therapeutic resource in the
context of Integrative and Complementary Health Practices.
Keywords: ethical-aesthetic education; health; art therapy; integrative and complementary practices.
Resumen
El artículo pretende reexionar sobre la noción de bienestar humano que evoluciona hacia la promoción de la
salud y la adecuación de la vida social, lo que sugiere necesariamente un cambio epistemológico. Propone la
arteterapia, dentro de la educación ético-estética y de las prácticas de salud integradoras y complementarias,
como una posible referencia teórica y práctica para la promoción del bienestar de las personas en tiempos de
pandemia, que expone las fracturas sociales marcadas por la desigualdad económica, por las prácticas exclu-
yentes, racistas y prejuiciosas en el tratamiento de la vida humana. Así, en un primer momento, se contempla
el tema de la educación ético-ética a favor de la salud, para poder pensar en el ser humano en su totalidad. A
continuación, para potenciar dichas reexiones, añadimos al tema un diálogo entre el arte y los cuidados huma-
nizados, apuntando a la arteterapia como recurso terapéutico expresivo en el contexto de las Prácticas de Salud
Integradoras y Complementarias.
Palabras clave: educación ético-estética; salud; arteterapia; prácticas integradoras y complementarias.
Palavras iniciais
Poucos acontecimentos históricos podem ser comparados à situação da pande-
mia do novo coronavírus (Covid-19)1, pelo menos na escala das últimas décadas, e
que não deixa de ser uma certa tragédia, que agora se afigura como um grandioso
teste para toda a humanidade. Para Butler (2020), o vírus por si só não discrimina,
mas nós, humanos, certamente o fazemos, moldados e movidos como somos pelos
poderes casados do nacionalismo, do racismo, da xenofobia e do capitalismo. Nesse
sentido, a autora afirma que parece provável que passaremos a ver, no próximo
ano, um cenário doloroso no qual algumas criaturas humanas afirmam seu direito
de viver ao custo de outras, reinscrevendo a distinção espúria entre vidas passíveis
e não passíveis de luto, isto é, entre aqueles que devem ser protegidos contra a mor-
te a qualquer custo, e aqueles cujas vidas são consideradas não valerem o bastante
para serem salvaguardadas contra a doença e a morte.
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Sobre esse contexto, Santos (2020, p. 32) aponta que as pandemias mostram,
de maneira cruel, como o capitalismo neoliberal incapacitou o Estado para respon-
der às emergências, no entanto, é necessário que se faça uma nova articulação,
uma espécie de viragem epistemológica, cultural e ideológica, capaz de sustentar
as soluções políticas, econômicas e sociais que garantam a continuidade da vida
humana digna no planeta. Essa mudança, segundo Santos (2020), tem múltiplas
implicações: a primeira consiste em criar um novo senso comum, a ideia simples
e evidente de que, sobretudo, nos últimos quarenta anos, vivemos em quarentena
política, cultural e ideológica de um capitalismo fechado sobre si próprio e a das
discriminações raciais e sexuais sem as quais ele não pode subsistir. O autor diz
que a quarentena provocada pela pandemia é, afinal, uma quarentena dentro de
outra quarentena, somente superaremos a quarentena do capitalismo, quando for-
mos capazes de imaginar o planeta como a nossa casa comum, e a Natureza como a
nossa mãe originária, a quem devemos amor e respeito. Ela não nos pertence. Nós
é que lhe pertencemos.
Com base nessas premissas, constituiu-se um estudo qualitativo, caracteri-
zado como bibliográfico, ancorado no método dedutivo-analítico, com o objetivo
de refletir acerca da noção de bem-estar humano, que evolui para a promoção da
saúde e a adequação da vida social, o que, necessariamente, sugere uma mudança
epistemológica. Para realizar tal feito, teceu-se um olhar para a humanização do
cuidado e para a concepção de corporeidade2 em seu sentido amplo. Fez-se, nas re-
flexões que se seguem, uma tentativa de rompimento com uma visão mecanicista,
instrumentalista, que, muitas vezes, concebe a pessoa de maneira fragmentada.
Assim, seu fio condutor considera o ser humano de maneira multidimensional,
aproximando as polaridades que o constituem, direcionando a atenção para a rela-
ção entre os processos artísticos, expressivos e terapêuticos e as práticas integra-
tivas e complementares (PICs). Sua proposição é unir o sensível-inteligível que o
pensamento técnico-instrumental separou, de modo a ser o sujeito capaz de agir
no mundo, por meio de um sistema de observação apto a contemplar a inteireza da
vida.
Nessa perspectiva de integralidade, trata-se a formação humana pelo viés de
uma ótica trinitária: educação ético-estética, saúde e arte, explorando referências
que possibilitem pensar a educação e o significado de formar gerações num contex-
to social, marcado por traços pós-metafísicos de pensamento, entrelaçados a aspec-
tos metafísicos da formação humana. Tal configuração parece instaurar uma crise
de sentido existencial, quando sujeitos, educados a partir de uma concepção pura-
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mente materialista, no sentido meramente instrumental do termo, olhem para a
saúde, somente quando essa estiver atingida em sua materialidade e configurada
como doença. O desafio se dá em romper com essa tradição e lógica, uma vez que
não fomos incentivados a prestar atenção nas mensagens que esse corpo emitiu por
meio da psique e do espírito.
Assim, da trama entre as leituras feitas, emergiram reflexões inquietantes,
que foram costuradas com fios tênues e que se apresentam em forma de discussão.
Nesse sentido, o presente ensaio busca refletir sobre esses aspectos com o intuito de
compreender as práticas integrativas e complementares em saúde, na intersecção
entre educação, saúde e arte. No que tange ao seu desenvolvimento, num primeiro
momento, apresentamos a temática da educação ético-estética em prol da saúde,
visando realizar a intersecção desses dois campos, para que se possa pensar o ser
humano em sua integralidade. Num segundo momento, com o intuito de valorizar
tais reflexões, propomos uma articulação e um diálogo entre a temática sinalizada,
a arte e o cuidado humanizado. Desse modo, aponta-se a arteterapia como recurso
expressivo terapêutico no contexto das PICs, especialmente para as futuras ações
pós-pandemia.
Educação ético-estética na saúde: o ser humano em sua integralidade
A complexidade da vida humana e das relações sociais exige que, cada vez
mais, os profissionais da educação e da saúde se apropriem de conhecimentos téc-
nicos e operacionais, mas não dissociados da ética, da estética e do cuidado. Nessa
direção, as políticas de formação em saúde no Brasil vêm passando por profun-
das transformações e, no bojo desse movimento, pode-se apontar uma mudança de
olhar para a constituição dos sujeitos em suas múltiplas dimensões.
Um destaque se pode fazer, de acordo com os estudos, as pesquisas e as ações
desenvolvidas através do Núcleo de Educação e Produção Pedagógica em Saúde
(EducaSaúde), coordenado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pelo
Sistema Único de Saúde (SUS). Esse núcleo está ancorado pelo projeto nacional
para a capacitação de profissionais especialistas na saúde, cujas mudanças são
resultado da reforma sanitária que se consolidou a partir das duas últimas décadas
do século XX, período no qual foram incluídos na Constituição nacional os princí-
pios e as diretrizes do SUS, bem como o rompimento com a racionalidade higienista
e medicalizadora do processo de formação dos trabalhadores dessa área, cunhado
pela via bio-reducionista e hipertecnificada. Nessa perspectiva, ainda hoje fazem
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parte nos modelos de assistência e de gestão setorial em saúde, inspirados apenas
nos domínios de saber das ciências biológicas. A partir do SUS, a organização do
setor sanitário passou a reger-se por universalidade do acesso, integralidade da
atenção, descentralização da gestão e participação da população com poder deci-
sório (UFRGS, 2015, p. 45). Embora legítima na descrição dos fatores fisiopatoló-
gicos, tal racionalidade mostra-se incapaz de elucidação dos fatores singulares do
adoecimento, da resposta terapêutica ou da adesão aos tratamentos.
Esses elementos, sem os recursos interpretativos das ciências sociais e huma-
nas, permaneceriam desconhecidos e sem possibilidade de abordagem restabelece-
dora da saúde individual ou coletiva. Ainda na concepção desses estudos, aponta-se
a contemplação de tais campos de saber como forma de atenção integral à saúde,
noção que continua em construção, ensejando conceitos sucedâneos como os de li-
nha de cuidado, apoio matricial, educação permanente, escuta pedagógica, projeto
terapêutico singular, rede de conversação, tecnologias leves, residência integrada
em saúde, entre outros.
De acordo com a UFRGS (2015, p. 25), a noção de educação que nos permite
desdobrar dessa maneira os processos educativos em saúde é, portanto, bem mais
ampla do que a de educação escolar e/ou educação profissional usualmente utiliza-
da. Essa tônica, segundo tais premissas, acontece numa via de mão dupla, em que
a cultura imprime no sujeito processos transformadores, ao mesmo tempo em que
os sujeitos fazem cultura. E, nessa seara, culturas profissionais e institucionais de
educação e saúde se inscrevem de diferentes maneiras no âmbito nacional. Nessa
perspectiva, a educação desdobra-se, então, em processos de ensino e aprendiza-
gem. Ambos os processos compõem nossa apreensão e nosso manejo das linguagens
e dos códigos constitutivos das culturas com as quais se dialoga.
Ensinar e aprender supõe, então, entrar em determinados domínios de significação, e isso
demanda tanto ensinar a ver, quanto (re/des)aprender a ver, com e a partir de determina-
dos sistemas de significação e colocando esses mesmos sistemas à prova – desnaturalizan-
do-os, entendendo-os como constelações de sentidos produzidos num determinado tempo e
num determinado espaço. Nessa direção, é possível dizer que tudo aquilo que ensinamos,
apre(e)ndemos e fazemos, nesse amplo campo da saúde, está ancorado em saberes e práti-
cas parciais e provisórias, que resultam de disputas travadas em diversos âmbitos do social
e da cultura (UFRGS, 2015, p. 27).
Compreender o exposto não é simples, pois exige uma mudança epistemológi-
ca direcionada a uma cosmovisão que integra educação e formação humana, como
auxílio pedagógico à saúde, adotando um movimento de aproximar polaridades,
relacionar parte e todo, enfatizando o processo de socialização e formação dos su-
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jeitos em vários setores da experiência e da atividade humana, e também, segundo
os estudos de Gallina (2017) implica refletir sobre o significado de formar gerações
num contexto social plural e complexo, visto se tratar da inteireza humana para
promoção da saúde individual ou social.
A discussão acerca da educação em contextos de pandemia, de acordo com
Reis (2020, p. 1), não pode ignorar esse cenário de desigualdades socioeconômicas
e raciais. Tampouco a cultura de privilégios – de raça, classe, território – que opera
em benefício de alguns grupos e impede que transformações estruturais, coletivas
e democráticas revertam a lógica de desumanização e de (des)vantagens em curso
no país, seja revestida pelos contornos da meritocracia, seja na desconsideração da
interseccionalidade como ferramenta imprescindível de análise das desigualdades
educacionais. Nesse sentido, o autor reforça que:
A infecção generalizada causada pelo vírus, apesar da gestão da epidemia em diferentes
escalas por parte dos países afetados e do monitoramento global, atingiu continentes e
territórios de modo diferenciado. O coronavírus aprofundou ainda mais as linhas abissais
entre grupos sociais, segmentos marginalizados e aqueles que têm o direito efetivamente
ao isolamento social com dignidade, resguardados em seus domicílios e sem se expor ao
risco alargado da contaminação. Mas não é só isso. A chance dilatada de adoecimento e
morte, os obstáculos interpostos no acesso aos sistemas de saúde – sobrecarregados – e a
intensificação dos riscos recaem, assimetricamente, aos segmentos mais vulnerabilizados
da sociedade brasileira, que têm cor e classe social bem definidas. Populações negras, pe-
riféricas, ribeirinhas, quilombolas, ameríndias, alvos diletos do racismo institucional bra-
sileiro, experimentam acentuada precarização das possibilidades de sobrevivência, devido
ao deliberado abandono a que são relegadas. Precariedades social, laboral e sanitária que,
imbricadas, expõem uma fratura social, exacerbada em territórios onde é latente a difi-
culdade de permanecer em isolamento social. Nesse sentido, a epidemia não tem nada de
democrática (REIS, 2020, p. 2).
Faz-se, então, necessário considerar uma ressignificação da educação, que
também construa saberes e práticas em saúde, a fim de que o sujeito possa se
expressar, perceber-se em sua subjetividade para uma tomada de consciência de
si. Ele também pode pensar e refletir, formulando os seus juízos e valores, porém,
para isso, precisa tomar como objetos tanto o seu corpo quanto a sua mente, tor-
nando-se sensível e inteligível.
Assim, objetiva-se, aqui, estabelecer um diálogo entre a ciência e outras for-
mas de apreensão da realidade na tentativa de superação do racionalismo redu-
cionista, destacando que essa superação não significa desconsiderar o paradigma
anterior, mas, sim, não ficar preso à pretensão de uma única verdade, indo além
dos pensamentos puramente lógicos.
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Numa sociedade em transformação como a nossa, que demonstra a necessida-
de de se investir na educação, para que o ser humano tenha consciência de si, de
seus direitos e deveres e das múltiplas possibilidades de sua participação cidadã,
destaca-se a importância de uma experiência formativa que contemple a pessoa
em sua singularidade, como também no aspecto social, pois se compreende que o
sujeito se constrói, também, na relação com o outro e com o mundo. Daí a importân-
cia da família, da sociedade, da natureza e da cultura na formação de um sujeito
multidimensional.
No momento em que uma criança recém-nascida é colocada nos braços dos
pais, em paralelo com a evolução física no decorrer dos dias, meses e anos seguin-
tes, existe o processo que, embora não tão visível nos tempos iniciais, é absoluta-
mente determinante: o trilho que a levará a tomar o seu lugar no mundo. É essa
procura que leva o bebê de meses a engatinhar, a criança de 3 anos a querer comer
e tomar banho sozinha, o estudante do primeiro ano a soletrar, o pré-adolescente
a formar um grupo de amigos, o adolescente a contestar tudo e todos, o adulto a
questionar-se sobre o sentido de sua existência e o idoso, sobre sua finitude.
O desejo de autonomia é uma das grandes características que nos torna hu-
manos, mas é uma via que se faz em dois sentidos: de nós em direção a quem nos
rodeia, e destes para o nosso interior. Segundo Gallina (2015), quando essa conver-
gência não acontece, pode-se apontar o fenômeno do empobrecimento da experiên-
cia formativa e humana pela redução da capacidade de refletir e de argumentar e,
especialmente, da incapacidade de viver a vida como um acontecimento minima-
mente feliz, o que parece de significativa importância para a educação que se quer
tornar crítica e produtora de uma condição humana mais significativa e saudável.
Essa configuração é apontada por Mühl (2017, p.132), quando diz que a experiência
formativa se torna fundamental para o desenvolvimento do sujeito emancipado,
“enquanto que a não consideração da experiência transforma a educação em um
instrumento de manipulação e de condicionamento que falsifica o próprio sentido
da formação humana”.
Os seres humanos se encontram em abismos de perdas, incapazes de conviver
no amor e na biofilia, segundo Strieder e Girardi (2019, p. 288), insistimos em
permanecer praticamente cegos em termos éticos e ambientais, por negarmos que
o mal-estar na contemporaneidade e os danos causados à antroposfera e à biosfera
são nossas criações. Porém, ainda conforme os autores, mesmo vivendo numa con-
figuração inconsciente de sentires relacionais, que negam a colaboração e o amar.
Somos seres humanos com possibilidades para cons truir reflexões e ações éticas
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conscientes e vivenciar a ternura como sendo nosso ser, vivenciar num conjunto
social dedicado a colocar limites na agressividade, para que esta não se transforme
em violência destruidora.
Sob a luz dos autores citados, somos instigados a dialogar sobre uma formação
renovadora de educação para a saúde, que contemple a produção de subjetivida-
des e intersubjetividades, evidenciando a urgência de um movimento dialético que
possibilite pensar de maneira diferente, o que contemplaria a possibilidade de a
ciência ressignificar-se, acolhendo aspectos até então cunhados no reduto da tera-
pêutica e da espiritualidade. Contudo, não se tem a pretensão de afirmar que tal
situação é necessidade específica do contexto atual. Entende-se o ser humano como
espécie capaz de compreender a sua evolução e reconhecer o poder do pensamento
vinculado à sensibilidade, e isso não é privilégio da contemporaneidade.
No decorrer da história, ciência e religião foram vistas como contraditórias,
porém, como destaca Gallina (2015), a humanidade precisa, urgentemente, de re-
formas epistemológicas, sociais, ecológicas, econômicas, além de uma renovação
espiritual, de modo que a sabedoria milenar, constante nos livros sagrados das
religiões, e o conhecimento da ciência caminhem para um futuro sustentável, no
qual o ser possa compreender o sentido e o significado da vida neste planeta.
Compreende-se também que, inerente ao processo de pensar-se de maneira
diferente da qual se está acostumado, configura-se um cenário de expansão da
consciência, um alargamento até “territórios mentais” inéditos. Isso sinaliza ares
de tarefa difícil, levando em consideração a dualidade entre o universo material e
mental humano que se instaurou na modernidade e que sentimos seus respingos
ainda hoje. Para isso, os campos da educação e da saúde necessitam abrir espaço
para a ampliação da consciência, fazendo interagir áreas do conhecimento hoje
fragmentadas, com métodos capazes de estabelecer uma relação, parte e todo, ca-
pazes de promover autonomia ao sujeito, possibilitando a esse se reconhecer e se
sentir parte do todo e o todo ao mesmo tempo. Nessa direção, Leloup (2019, p.56)
comunica que estarmos em estado saudável “é sinônimo de salvação” e que os cui-
dados do corpo não excluem os cuidados da alma e do espírito humano:
O corpo não pode ser visto somente como um objeto, uma coisa ou uma máquina funcio-
nando com defeito que seria mister “consertar”. Não; o corpo é um corpo “animado”. Não é
um corpo sem alma; um corpo sem alma, não sendo mais “animado”, não merece o nome de
corpo, mas de cadáver. Cuidar do corpo de alguém é prestar atenção ao sopro que o anima.
O terapeuta pode cuidar desse sopro que informa o corpo, uma vez que curar
alguém é fazê-lo respirar, observar suas tensões que impedem a livre-circulação
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do ar (sopro), ou seja, a plena expansão da alma num corpo. De acordo com Leloup
(2019), caberá ao terapeuta a função de “desatar” esses nós da alma, esses obstácu-
los à vida e à inteligência criadora no corpo animado do ser humano. Nessa mesma
direção, Marcelino (2019) aponta a necessidade de educar esse corpo e aprender a
perceber seus sinais de maneira mais consciente; para que isso aconteça, é neces-
sário desenvolver a sensibilidade, o agir e o pensar para a humanização do cuidado,
de maneira mais terna e cuidadosa com corpo. Por isso, precisa-se repensar nossa
forma de ser e de estar no mundo, considerando, para isso, o corpo para além de
seus aspectos puramente materiais.
O corpo é a condição de nossa existência e representa para o ser humano um
meio de comunicação; pelas diversas formas de estratégia textual, em especial nes-
se contexto – o gesto, a arte –, pode-se expressar a subjetividade, as emoções e até a
espiritualidade. Por meio dessa matéria viva que chamamos de “corpo”, é possível,
conforme Gallina (2015), estabelecer uma relação com a sensibilidade, capaz de
revelar ao sujeito sua posição dentro do mundo e de si mesmo. A autora chama
atenção também para a importância em prestar atenção na respiração, no rela-
xamento desse corpo e num direcionamento do sujeito em direção à reflexão sobre
ser e estar no mundo. A atenção ao corpo físico é de suma importância, pois é ele,
também, veículo que tornará possível o acesso para o mais profundo de nosso ser.
Cada passo nesse percurso tem que ser ajustado às necessidades singulares,
porém muitas pessoas chegam à vida adulta sem conhecer algumas informações
básicas a respeito de seu corpo e de sua mente. Sabendo que nosso corpo físico é
dirigido por um complexo de sistemas que se inter-relacionam entre as camadas
mais densas até as mais sutis, precisa-se mantê-lo sadio. Nesse sentido, é muito
importante que se pratiquem atividades em que o corpo e a mente trabalhem jun-
tos, intensificando a comunicação entre o cérebro e o resto do corpo. O autoconheci-
mento começa, também, na percepção e no cuidado com a nossa porção física.
Nesse processo, é preciso reconhecer também que o extermínio do meio am-
biente e a decadência da cultura humana caminham de mãos dadas. Destaca-se,
nesse sentido, a urgência de perceber que nós, seres humanos, somos a nature-
za e que, enquanto não houver esse despertar, hoje desconhecido ou reprimido,
pouco se terá a fazer para conservar o planeta Terra. É evidente que temos um
progresso técnico e científico, porém, sem um progresso ético-estético e ambiental
equivalentes. Ciência, consciência e natureza precisam de um encontro que aponte
esperanças para o ser humano, abrangendo desde a proteção dos mais humildes
organismos até o reconhecimento sublime do espírito humano.
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Uma possibilidade para pensar essa intersecção de ciência, consciência e na-
tureza seria pensá-la na perspectiva de uma educação ético-estética. A educação
ético-estética, se trabalhada em conjunto no processo de uma constituição de vida
saudável, é uma alternativa, pois possibilita que o sujeito busque sua liberdade por
meio da tomada de consciência. Nessa esteira, aponta-se a importância da arte e
sua relação com as práticas integrativas e complementares, que vêm a contribuir
numa mudança de paradigma na área da saúde.
Pensando a relação educação ético-estética em saúde pelo viés da arteterapia
A arteterapia é o uso da arte como base de um processo terapêutico e, de acor-
do com a União Brasileira das Associações de Arteterapia (UBAAT) (2020, p. 2),
propicia resultados em um breve espaço de tempo; visa estimular o crescimento
interior, abrir novos horizontes e ampliar a consciência do indivíduo sobre si e
sobre sua existência; utiliza a expressão simbólica, de forma espontânea, sem se
preocupar com a estética, através de modalidades expressivas como: pintura, mo-
delagem, colagem, desenho, tecelagem, expressão corporal, sons, músicas, criação
de personagens, dentre outras, mas utiliza fundamentalmente as artes visuais.
A palavra “terapeuta” vem do grego “theraphéa”, que significa servir, cuidar e
ajudar. Finimundi (2008, p. 44) cita que o “arteterapeuta” tem o comprometimento
com a arte de ajudar, deve ter conhecimentos básicos sobre arte, psicologia, educação
e estar preparado com o uso das técnicas com as quais pretende trabalhar. O vínculo
de confiança e empatia é fundamental para que o indivíduo se sinta seguro e capaz
de comunicar, mediante imagens, as suas tristezas, dúvidas e ansiedades, muitas
vezes silenciadas pelos limites verbais e pela repressão de seus pensamentos.
O papel do arteterapeuta é auxiliar no entendimento das imagens criadas pelo
indivíduo em ação mental e, através dessa dinâmica, possibilitar a percepção para
que possa ocorrer mudança de comportamento. Segundo a UBAAT (2020, p. 3),
enquanto a arte-educação ensina técnicas de arte, a arteterapia possui a finalidade
de propiciar mudanças psíquicas, assim como a expansão da consciência, a reconci-
liação de conflitos emocionais, o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal. A
arteterapia tem também o objetivo de facilitar a resolução de conflitos interiores e
o desenvolvimento da personalidade.
Há necessidades básicas humanas que diferem de acordo com os padrões físi-
cos e psíquicos dos sujeitos e, também, com as mudanças socioambientais, de modo
que o nível dessas demandas acompanhará a evolução das condições humanas.
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Para tal, é preciso compreender o ser humano, mergulhando na matéria do corpo e
na essência da alma, perceber o ser em sua inteireza, isto é, quando o exterior tem
uma ligação simbiótica com o interior, conforme se viu até o momento. No entanto,
nenhuma discussão sobre essa questão estaria completa sem um olhar para os
conhecimentos teóricos e práticos refletidos de maneira concomitante.
Quanto ao sentido contemporâneo da palavra “terapia”, Paín e Jarreau (2001,
p. 10) destacam que podemos verificar que ele evita o sufixo “psico”, como se a
arte tivesse, por ela mesma, propriedades curativas. De nossa parte, considera-
mos que a dimensão “terapia” subentende, neste caso, aquela de “psico”, sem o
qual nenhuma modificação duradoura do comportamento é considerada. O incluir
implicitamente é também expandir o campo da prática, até então ocupado, quase
exclusivamente, pela ação psiquiátrica.
A dinâmica da sessão está marcada por consignas e pelas condições materiais.
A primeira corresponde ao livre-arbítrio e as outras às da necessidade. Paín (2021,
p. 69) ressalta que, mesmo que a consigna for “façam o que quiserem”, a dificuldade
em gozar dessa liberdade será rapidamente vivida como uma limitação e ainda
mais conflituosa, porque, no ateliê, não há obrigação em querer alguma coisa, nem
mesmo a cura. Os próprios materiais, ao impor suas leis e qualidades, não são
neutros. Cada uma de suas propriedades torna-se altamente significativa para o
sujeito, na medida em que este percebe que elas o ajudam ou o limitam às suas
tentativas de expressão.
O processo terapêutico consiste em identificar os obstáculos encontrados nas
diferentes etapas da criatividade e descobrir seu significado, admitindo que a forma
e o conteúdo são inseparáveis. O ateliê, conforme Paín (2021), pode integrar uma
instituição ou ser ele próprio uma instituição terapêutica. Geralmente, o seu fun-
cionamento é um grupo, o que favorece uma troca particular de olhares e palavras,
de limitações e diferenciações, bem como um exercício contínuo de compreensão do
outro. A presença do terapeuta polariza a afetividade de cada um dos participan-
tes, permitindo, assim, a comunicação e a circulação das emoções. Visto que hoje
em dia a arteterapia é mais uma atividade que uma disciplina institucionalizada,
convém definir quais são os conhecimentos e a cultura necessários para organizar
um ateliê com fins terapêuticos. Eles pertencem a três campos: o da técnica das ati-
vidades plásticas, o da psicologia da representação e da psicanálise e, por último, o
do domínio da arte, de sua significação e de sua história.
O ateliê arteterapêutico não se apresenta como um lugar de aprendizagem,
onde se transmite conhecimento. Seria um erro acreditar que a expressão e os
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meios utilizados para dar forma podem separar-se: a execução de uma obra é um
trabalho de pesquisa cuja ressonância subjetiva é marcada pelos recursos usados
para representá-la. De acordo com Paín (2021, p. 70), o estilo pessoal, que faz res-
saltar as diferenças, facilitando a identificação, é um processo que compreende
tanto a descoberta das possibilidades representativas como a sua prática através
de múltiplas experiências, a fim de que estejam disponíveis para o uso e para as
escolhas sucessivas. Para poder compreender o processo do paciente, para reconhe-
cer os obstáculos que o impedem de criar os efeitos de espaço e luz que imagina,
para definir o gesto ou a cor que falta ao equilíbrio de seu quadro, como um lapsus
linguae, um erro gramatical, é necessário que o coordenador domine as regras mais
gerais da representação figurativa. Essa capacidade, essencialmente técnica, só
pode ser adquirida por uma prática pessoal e orientada.
Vale a pena comparar o processo arteterapêutico com o psicoterapêutico, para
visualizar a importância do uso dos instrumentos artísticos na arteterapia. Para
Paín (2021, p. 71), a psicoterapia também ocorre a um instrumento codificado,
a língua, que ambos, analista e analisando, compartilham; se não houvesse esse
código comum, o psicoterapeuta se veria obrigado a construí-lo previamente com o
paciente e a determinar com ele suas regras de utilização. Nesse caso, o terapeuta
deveria possuir um mínimo de referências sobre a estruturação da linguagem em
geral, ou seja, ele deveria falar pelo menos uma língua. A prática artística não
deve ser direcionada a um “estilo definido”, à “atenção flutuante”, que permite ao
psicoterapeuta estar permeável a diferentes formas de expressão dos pacientes.
Deve ser traduzida pela disponibilidade constante de ver as produções dos sujeitos,
evitando impor soluções que respondam mais às próprias inquietudes artísticas
que àquelas claramente colocadas pela dinâmica criativa do paciente.
Nesse sentido, Paín e Jarreau (2001, p. 11) reforçam que o trabalho de arte-
terapia orienta-se de acordo com várias tendências. As mais próximas da clínica
psicoterápica consideram a atividade plástica como secundária, o efeito terapêutico
sobrevém somente das trocas verbais em torno do conteúdo da obra. A expressão
plástica é, então, utilizada como meio de ascender à comunicação verbal ou como
única maneira de estabelecer uma comunicação. Mesmo que a representação grá-
fica e a modelagem sejam atividades completamente justificáveis em um processo
psicoterápico, elas não nos parecem depender da arteterapia, porque os problemas
à representação simbólica são ignorados nela. O objetivo terapêutico da atividade
artística é, conforme as autoras, justamente tentar tirar o sujeito de seu delírio por
intermédio da lei da matéria. De outro modo, uma tendência privilegia a organi-
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zação do trabalho e o enquadramento que favorecem a estruturação consciente da
representação.
Toda representação artística supõe uma atitude estética e um conjunto de hi-
póteses sobre a função que a construção das imagens e a comunicação simbólica
desempenham na vida humana. Cada estilo compreende uma experiência plástica
que responde aos grandes problemas humanos, apresentados por cada sociedade
de forma distinta, os que permanecem ativos em relação aos indivíduos, e, como
bem destaca Paín (2021, p. 73), a formação do arteterapeuta deve incluir uma re-
flexão sobre as questões estéticas, tanto na história como na arte e no pensamento
atual. A autora também nos chama a atenção, reforçando que a arteterapia não é
uma psicoterapia. O seu paciente não está em busca de um si mesmo, correndo o
risco de ficar preso na superfície do espelho; a busca de sentido do artistant está
orientada para o mundo onde ele criará um objeto capaz de ser visto, de captar
a atenção do outro e de se tornar interessante. Assim como o artistant não é um
artista, posto que definido pela instituição, o arteterapeuta não é um espectador
comum, se pensarmos que ele é testemunha do que ocorre na sua presença, no
momento da criação da obra.
No ateliê, o contexto e o olhar são suficientes para realizar o trabalho tera-
pêutico, deixando o paciente encontrar-se, esquecer-se e surpreender-se no encanto
que só ele pode encontrar na ausência de uma expectativa ansiosa. Em suma, a
arteterapia é uma psicoterapia, segundo Paín (2021), porque analisa presencial-
mente os obstáculos que se interpõem à capacidade de tornar consciente aquilo que
está no nosso inconsciente de modo mais original e anônimo, aquilo que se encontra
distante dos hábitos e dos símbolos instituídos. Ela tenta harmonizar o sujeito com
o mundo, sem afastá-lo daquilo que as instituições lhe impõem.
Na arteterapia, trabalha-se a percepção, a coordenação e a estimulação, que
são meios seguros e propícios para o indivíduo atingir níveis de compreensão e cog-
nição, que resultarão gradativamente na sua independência psíquica e emocional,
auxiliando na estimulação da expressão, do desenvolvimento da criatividade, fa-
vorecendo o autoconhecimento, a percepção, o aumento da autoestima, a liberação
das emoções, o entendimento do problema e a transformação pessoal. O processo
de arteterapia, segundo Finimundi (2008), é, geralmente, dividido em três etapas:
relaxamento (sensibilização), criação (processo de construção) e reflexão (entendi-
mento da criação e simbolismo). O objetivo final da arteterapia nunca será o belo,
mas a sensibilidade, a percepção de si mesmo.
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Por essa via, as PICs trazem a oportunidade para que esses seres percebam
suas dificuldades, suas patologias, e para que descubram que podem expressar
seus medos e conhecer novas possibilidades em saúde por meio de intervenções não
medicamentosas. Destaca-se, nesse sentido, que saúde é temática para todas as
pessoas que queiram refletir sobre a vida e o bem-estar humano, não somente para
os profissionais da área. Assim, cabe destacar que ser-estar bem ou mal depende da
singularidade de cada sujeito. Barelli (2019, p. 89) esclarece essa definição:
Trata-se de um conceito subjetivo, que depende do que cada um considera “sentir-se bem”,
ou “sentir-se mal”, e varia de pessoa para pessoa, sofrendo interferência cultural, religiosa,
do meio em que cada um está inserido e da maneira como nos relacionamos com o mundo.
Além disso, destaca que saúde e doença não são conceitos definitivos, nem opostos. Ambos
se referem à sobrevivência, à qualidade de vida ou à própria produção da vida. Esse concei-
to singular de saúde é definido como “margem de segurança” que significa o poder de cada
pessoa em tolerar e compensar as agressões do meio.
Ao considerar o exposto, relacionado a uma mudança paradigmática na edu-
cação para a saúde, somos motivados a uma aproximação com a arte, levando em
consideração tanto os estudos e as pesquisas acadêmicas como nossas percepções
do cotidiano. Nessa tessitura, compreende-se ser possível potencializar o desenvol-
vimento de processos expressivos e terapêuticos em vários setores da experiência e
da atividade humana, tendo em vista o caráter de valorização da sensibilidade, da
sociabilidade e da formação dos sujeitos como visto até então. Essa interação pode
ser capaz de atar fios que, pouco a pouco, vão tecendo uma rede de inter-relações.
Para costurar essa rede, conta-se com as PICs, que são atividades práticas e sabe-
res relativos ao cuidado e ao processo de saúde-doença que vêm a complementar a
medicina convencional.
Segundo Lima (2019, p. 8), a Organização Mundial da Saúde (OMS), desde
1979, apresenta tal proposta, fazendo essa articulação entre os tratamentos da
medicina tradicional e da complementar, definindo-os como: “tratamentos basea-
dos em crenças ou cultura, que incluem (ou não) utilização de ervas, partes de ani-
mais ou minerais e práticas diversas (yoga, acupuntura, terapias espirituais) não
reconhecidas pela medicina convencional”.
A Política Nacional de Práticas Integra-
tivas e Complementares (PNPIC) no SUS é transversal em suas ações e está presente
em todos os níveis de atenção, prioritariamente na Atenção
Primária à Saúde (APS).
Dentre os seus objetivos, propõe-se a contribuir com o aumento da
resolubilidade do
sistema e a ampliação do acesso às
PICs, garantindo qualidade, eficácia, eficiência e
segurança no uso.
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A importância e a eficácia na realização das PICs vêm sendo confirmadas ao
longo dos anos através de pesquisas científicas reconhecidas nos âmbitos nacional
e internacional. Para Soares et al. (2019, p. 28), desde a publicação da primeira
portaria em 2006, que ofertou serviços e produtos da medicina tradicional chine-
sa/acupuntura, homeopatia, plantas medicinais e fitoterapia, termalismo social/
crenoterapia e medicina antroposófica, bem como em 2017 e 2018, quando foram
adicionadas portarias contemplando novas práticas, dentre elas, arteterapia, ayur-
veda, biodança, dança circular, meditação, musicoterapia, naturopatia, osteopatia,
quiropraxia, reflexoterapia, reiki, shantala, terapia comunitária integrativa, yoga,
aromaterapia, apiterapia, bioenergética, constelação familiar, cromoterapia, geote-
rapia, hipnoterapia, imposição de mãos, ozonioterapia, terapia de florais. Demons-
tra-se a potência que essas práticas envolvem através de tecnologias seguras e
eficazes, o que, para os autores, configura-se numa abordagem holística com ênfase
na escuta acolhedora e no cuidado que visam estimular, por meio de mecanismos
naturais, a promoção da saúde.
Cabe mencionar também, nesse cenário, a Política Nacional de Saúde Mental
do SUS atual, que, segundo Valladares-Torres (2016, p. 15), visa consolidar o aten-
dimento aberto e de base comunitária, estruturado em variados serviços e equipa-
mentos de cuidados em saúde. Na perspectiva da autora, a nova política em saúde
mental, funcionando em rede integrada, fortalecida pela ampliação da capacidade
resolutiva com base nos territórios, tem gerado melhoria na qualidade de vida dos
usuários do serviço e dos trabalhadores.
Segundo os dados obtidos através do relatório de monitoramento das práticas
integrativas e complementares em saúde nos sistemas de informação em saúde
(BRASIL, 2020b, p. 11), o resultado da ampliação das PICs na APS é fruto do gran-
de esforço de profissionais da rede de saúde, juntamente à gestão, para a disponi-
bilização e a estruturação da oferta. O fortalecimento das PICs institucionalizadas
pela PNPIC no SUS é essencial para sua consolidação. A possibilidade de registro
das PICs de forma discriminada é um fator diferencial para reconhecer as práticas
que têm sido ofertadas à população e estabelecer indicadores para mensurar seu
impacto sobre a saúde e a potência de seu caráter complementar em contribuição
para a resolutividade da APS, subsidiando assim a tomada de decisões para o pla-
nejamento em saúde.
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Dados do ano de 2018, sugere, que as PICs estiveram presentes em 16.007 serviços de
saúde do SUS, sendo 14.508 (90%) da Atenção Primária à Saúde (APS), distribuídos em
4.159 municípios (74%) - APS e média complexidade – e em todas as capitais (100%). Fo-
ram ofertados 989.704 atendimentos individuais, 85.518 atividades coletivas com 665.853
participantes e 357.155 procedimentos em PICs. Já parciais para o ano de 2019, as PICs
estiveram presentes em 17.335 serviços de saúde do SUS, sendo 15.603 (90%) da Atenção
Primária de à Saúde (APS), distribuídos em 4.296 municípios (77%) – APS e média e alta
complexidade – e em todas as capitais (100%). Foram ofertados 693.650 atendimentos in-
dividuais, 104.531 atividades coletivas com 942.970 participantes e 628.239 procedimentos
em PICs. De acordo com os dados parciais obtidos para o ano de 2019, as PICs foram ofer-
tadas
em 17.335 serviços da Rede de Atenção à Saúde (RAS) distribuídos em 4.297 municípios
(77%)
, e em todas as capitais (100%). Houve um aumento de 16% (2.860) no quantitativo
de serviços, comparando com 2017. Em 2019, as atividades coletivas somaram 104.531
registros com aumento de 314% comparado aos números de 2017 (BRASIL, 2020b,
p. 12).
Porém, chama-se a atenção para o fato de que, embora a procura e a oferta das
PICs tenham aumentado, isso não garantiu, segundo Silva et al. (2020, p. 20), que
elas conseguissem conquistar espaço em pautas prioritárias da política de saúde
brasileira. Nesse sentido, tornam-se importantes as ações governamentais capazes
de produzir impacto nas práticas sociais, como também, cada vez mais, reflexões
acerca dessas atividades.
Com o intuito de valorizar tais reflexões, articulando um diálogo entre a arte
e o cuidado humanizado, aponta-se a arteterapia como prática a ser explanada.
Segundo Gonçalves, Ormezzano e Tondo (2016, p. 11), a arteterapia permite tra-
balhar em diversas realidades e com diferentes pessoas, quando aplicada pelos en-
volvidos no processo de cuidar-se e cuidar do outro. Inscreve-se entre os processos
terapêuticos de abordagem holística, tendência cada vez mais presente em escolas,
centros de atenção psicossocial, empresas, presídios, hospitais e outras organiza-
ções. Nesse sentido, enfatiza-se que todo processo terapêutico é um processo que
envolve a arte de escutar afetivamente e com equanimidade.
Destaca-se, assim, que arte, dentre tantas definições e usando-se de simplis-
mo, pode se referir a processos criativos com finalidade de apreciação estética, ou
referir-se ao conjunto de obras de um país, povo ou época, resultante da habilidade,
da imaginação e da invenção do ser humano. Terapia, por sua vez, refere-se ao meio
ou ao método usado para tratar determinada doença ou estado patológico, ou seja,
indica um tratamento, uma terapêutica. Na congruência dos dois termos, enten-
de-se arteterapia como processo expressivo terapêutico que se utiliza de recursos
artísticos para o autoconhecimento e a promoção do bem-estar.
Dados da UBAAT (2020, p. 3) citam que Jung foi o primeiro a utilizar a expressão
artística em consultório. Para ele, a simbolização do inconsciente individual e do cole-
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tivo ocorre na arte. Na década de 1920, recorreu à linguagem expressiva como forma
de tratamento e, para tanto, pedia aos clientes que fizessem desenhos livres, imagens
de sentimentos, de sonhos, de situações conflituosas ou outras, e, segundo ele:
Os pensamentos e ideias esquecidos não deixaram de existir. Apesar de não poderem se
reproduzir à vontade, estão presentes num estado subliminar – para além do limiar da
memória – de onde podem tornar a surgir espontaneamente a qualquer momento, algumas
vezes anos depois de um esquecimento aparentemente total. Refiro-me aqui a coisas que
vimos e ouvimos conscientemente e que em medida esquecemos. Mas todos nós vemos,
ouvimos, cheiramos e provamos muitas coisas sem notá-las na ocasião, ou porque a nossa
atenção se desviou ou porque, para os nossos sentidos, o estímulo foi demasiadamente fraco
para deixar uma impressão consciente. O inconsciente, no entanto, tomou nota de tudo,
e essas percepções sensoriais subliminares ocupam importante lugar no nosso cotidiano.
Sem percebermos, influenciam a maneira segundo a qual vamos reagir a pessoas e fatos
(JUNG, 2019, p. 37).
Jung priorizava, de acordo com a UBAAT (2020, p. 3), a expressão artística e
a verbal como componentes de cura, compreendendo-se essa terapêutica como um
modo de trabalhar, utilizando a linguagem artística como base da comunicação.
Sua essência é na criação estética e na elaboração artística em prol da saúde. Para
isso, utiliza as diferentes formas de linguagem, plástica, sonora, dramática, corpo-
ral e literária, envolvendo técnicas de desenho, pintura, modelagem, construções,
sonorização, musicalização, dança e poesia.
Zanin e Gallina (2017, p. 155) falam sobre a arte como terapêutica, destacando
que essa consiste, na atualidade, em uma importante ferramenta para auxiliar na
amenização de diversas problemáticas existentes em nossa sociedade e afirmam
que seu vasto leque de técnicas e instrumentais viabiliza a possibilidade e a con-
cretude de um trabalho diferenciado e, consequentemente, atrativo aos sujeitos,
superando uma carência sentida e vivenciada nos dias atuais.
Congruente com esse pensamento, Dittrich (2018, p. 8) afirma que, por meio
da criatividade na arte, o ser humano toma ciência de seu espírito e sua natureza,
expressa sua maneira de ser no mundo, o que lhe possibilita construir o sentido
existencial. Trata-se de viver o momento criativo, a experiência vivenciada, sem
focar num produto final que seja validado pela esfera do social.
Conforme a intensidade e o grau de percepção da experiência criativa, ela leva ao encontro
do sujeito consigo mesmo e com o outro, ao desenvolvimento da fantasia e do imaginário,
a viver momentos de ressignificação e de percepção mais intensa e apurada, momentos de
autoconhecimento e reconhecimento do outro. Enfim, são momentos criativos, intensos e
significativos, de vivência plena do aqui/agora, integrando intuição, ação, pensamento e
sentimento em processo de fruição, ou seja, o sentir/pensar/agir/criar de maneira integrada
e fluída (MORAES, 2019/2020, p. 84).
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Possibilitar aos sujeitos uma ontologia e uma epistemologia que harmonizem
os contrários pode promover a compreensão do sentido de realidade dos sujeitos
em seu trajeto antropológico existencial2, a partir da possibilidade de conjunção
entre educação e estética, onde se abre tempo-espaço para a expressão daquilo que
é reprimido pela lógica instrumental.
Desse modo, Silva (2016, p. 39) destaca que podemos acessar as formas con-
temporâneas da pluralidade conceitual e da racionalidade das obras de arte e só
um modo de vida plural e complexo criaria a força expressiva, que se deslocaria
como força vivificadora da educação. Para isso, a educação precisa voltar-se para si
mesma, ao mesmo passo em que se abre na direção do “outro”.
A beleza ou o seu sentimento origina-se nos domínios do sensível, esse vasto
reino sobre o qual se assenta a existência de todos nós, humanos, reino, contudo,
desprezado e até negado pela forma reducionista de atuação da razão, segundo
os preceitos do conhecimento moderno. Para Duarte Jr. (2006, p. 54), o inteligí-
vel e o sensível vieram, pois, sendo progressivamente apartados de si mesmos,
considerados setores incomunicáveis da vida, com toda a ênfase recaindo sobre os
modos lógico-conceituais de se conceberem as significações. No entanto, em larga
medida, a nossa atuação cotidiana se dá com base nos saberes sensíveis dos quais
se dispõem, na maioria das vezes, sem nos darmos conta de sua importância e sua
utilidade. Movemo-nos, segundo o autor, entre as qualidades do mundo, constituí-
das por cores, odores, gostos e formas, interpretando-as e delas nos valendo para
as ações, ainda que não cheguemos a pensar sobre isso, mas que por meio da arte
podem ser expressos.
Nesse sentido, Moraes (2019/2020, p. 93) reforça que “a criatividade, como
vivência de um processo fenomenológico transdisciplinar é, portanto, fruto de uma
tessitura complexa, relacional, auto e coorganizadora, emergente e transcendente,
tecida nos interstícios das vivências de um ser sensível-cultural e espiritual, cons-
ciente-inconsciente”; nessas tramas dos saberes e na pluralidade de percepções e
significados emergentes, a partir de uma dinâmica complexa que acontece entre os
diferentes níveis de materialidade do objeto e os diferentes níveis de percepção do
sujeito, dá-se também a compreensão do existir.
Segundo essas premissas, não apenas os aspectos cognitivo-emocionais, mas
também os pensamentos simbólico, mítico, mágico, intuitivo, bem como a dimensão
espiritual, são importantes para o processo de ação e de atuação nas PICs, por isso
essa lógica de saber contempla tantas outras atividades promotoras de bem-estar,
geradoras de saúde. Nesse sentido, todas essas dimensões se manifestam no ato
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criativo e curativo e se revelam a partir de uma alquimia processada também na
zona do inconsciente coletivo, do arquetípico, do imaginário, dos insights que aflo-
ram e da consciência que se renova.
Um grande desafio que se apresenta, com base nessas reflexões, será propor
um novo olhar que contemple o cuidado humanizado, realizando atividades pla-
nejadas e organizadas de acordo com as pessoas que serão atendidas, respeitando
suas características singulares e a origem de seus contextos, bem como oferecer um
espaço físico harmonioso, arejado, limpo e adequado para os atendimentos, estando
os terapeutas abertos à escuta dos sujeitos e, principalmente, às significações que
eles próprios atribuem ao processo expressivo.
Marcelino (2019) reforça-nos os aspectos supracitados e acrescenta que, na ar-
ticulação arte e corpo, pode-se ter a oportunidade de propor e de usar ferramentas
como a humanização, a sensibilidade, a ética, a estética, dentre outras, que pode-
rão servir de dispositivos libertadores dos mecanismos de imposição e de controle
corporal, social, educacional e cultural. Acredita-se que uma vida mais sensível,
provida de ternura por si e pelo outro, ofereça melhor qualidade ao viver, sendo im-
prescindível, também, enfatizar a importância de sempre seguir pelo viés de uma
conduta ética e profissional em todos os contextos, somando-se a isso a necessidade
de fazer do processo de formação a contemplação e a atuação do viver saudável.
Assim sendo, os processos artístico-terapêuticos e suas interfaces com as PICs
podem auxiliar, sem a pretensão de substituir a medicina convencional, possibili-
tando o relaxamento, o alívio de dores e tensões, uma vez que as pessoas que pas-
sam por esse processo podem expressar suas angústias e ansiedades, contar suas
histórias de maneira simbólica e significativa, fortalecendo laços intersubjetivos e
sociais, reduzindo, assim, o uso de medicamentos e suas reações adversas, melho-
rando, por conseguinte, o bem-estar dos atendidos.
Considerações nais
As reflexões suscitadas e articuladas às teorias aqui propostas apontam na
direção de que o bem-estar e o bem-viver são veículos promotores de saúde e possi-
bilitadores de melhor adequação social. Porém, para que tal estado seja alcançado,
os seres humanos necessitam, dentre tantos outros aspectos subjetivos, que não
puderam ser contemplados nessa reflexão, conhecer-se e atingirem autonomia.
Nessa direção, afirma-se a necessidade de uma ruptura com um objetivismo e ra-
cionalismo que, ao longo dos tempos, sustentou a ideia de que o sujeito não é parte
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potencial no processo de aquisição de conhecimento, bem como com um subjetivis-
mo cunhado na perspectiva de que o meio não contribui para fecundar significados.
O advento da saúde, pensado a partir do cuidado humanizado e de um olhar
que contemple os sujeitos em sua multidimensionalidade, corpo físico-psíquico-es-
piritual-socioambiental, parece convergir com o contexto plural e complexo no qual
se vive atualmente. Assim, destaca-se a importância de se incentivar e reconhecer
ações com premissas contempladoras de uma razão-sensível, como é o caso das
PICs. Desse modo, o exercício prático não pode ser pensado e desvinculado da teo-
ria, ambos, dimensões articuladas que podem criar um movimento de aprendiza-
gem, autoconhecimento, transformação.
Da experiência dialógico-reflexiva, ressalta-se também a arte, recurso expres-
sivo-terapêutico, como instrumento de grande valor, para que os conteúdos do in-
consciente encontrem terreno fértil e acolhedor na congruência de uma tomada de
consciência capaz de conduzir o humano em sua trajetória existencial, destacando
que a eficácia dessas atividades depende em grande parte de uma ótima organiza-
ção dos fatores externos e de uma conduta ético-estética dos profissionais envolvi-
dos.
Por todos os apontamentos feitos, coloca-se a relação entre educação ético-
-estética e saúde como pauta a ser ainda mais explanada, tendo em vista que tais
reflexões serão sempre aproximações do real, nunca uma tentativa de reduzi-las a
uma sistematização conceitual, especialmente em meio a esse cenário pandêmico,
no qual teremos que enfrentar as suas consequências biopsicossociais, nos mais
diversos contextos.
A pandemia da Covid-19 é a expressão de uma crise global, sanitária, econô-
mica e social excepcional, e, segundo Dardot e Laval (2020), poucos acontecimentos
históricos podem ser comparados a ela, pelo menos na escala das últimas décadas.
Trata-se de uma provação no duplo sentido da palavra: dor, risco e perigo, por um
lado; teste, avaliação e julgamento, por outro. O que a pandemia está testando é
a capacidade das organizações políticas e econômicas de lidar com um problema
global vinculado à interdependência dos indivíduos, ou seja, algo que afeta de uma
forma básica a vida social de todos. Como uma distopia que se torna realidade, o
que estamos experimentando agora revela aquilo que, com as mudanças climáticas
em curso, aguarda a humanidade em poucas décadas, se a estrutura econômica e
política do mundo não mudar muito rápida e radicalmente.
Nesse sentido, as ações pós-pandemia poderão também servir para reforçar
a utilização das PICs e direcioná-las, quiçá, para um novo olhar, em que a vida
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possa ser sentida, percebida e vivida de maneira consciente, e não simplesmente
como um objeto de uso para o trabalho e para o consumo, e que essas experiências
possam ser significativas e provedoras de sentidos, somando-se à necessidade de
fazer da formação humana um processo de ativação de novos dispositivos, capazes
de promover novas formas de viver mais humanizadas e mais sensíveis.
Notas
1 Em 22 de janeiro de 2020, foi ativado o Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública para o novo
Coronavírus (COE-nCoV), estratégia prevista no Plano Nacional de Resposta às Emergências em Saúde
Pública do Ministério da Saúde. O novo coronavírus (2019-nCoV) é identificado como a causa de um surto
de doença respiratória detectado pela primeira vez em Wuhan, China (BRASIL, 2020a, p. 5).
2 Santin (2014, p. 157-158) conceitua corporeidade, numa definição ampla, como sendo uma ideia abstrata
de corpo, de ser corpóreo. No pensamento grego, tal conceito é expresso no sentido de soma ou somático.
Para os gregos, soma designa o que é material, em oposição a psyqué ou psíquico. As culturas latina e cristã
reforçaram essa significação ao entender a corporalitas como aquilo que é de natureza material ou, sim-
plesmente, materialidade, radicalmente oposta à espiritualidade. Nesse sentido, portanto, corporeidade
diz respeito a tudo o que é material, porque todo ser material se manifesta como corpo.
3 Essa afirmação está ancorada nos resultados obtidos com a pesquisa de doutoramento em Educação de
Franciele Silvestre Gallina (2017), pelo PPGEdu-UPF, em que desenvolveu oficinas educativas estéticas
com profissionais da educação e saúde pública da região norte do Rio Grande do Sul, bem como com profis-
sionais liberais, apoiando-se nas estruturas antropológicas do imaginário propostas por Gilbert Durand e
na antropologia essencial de Jean Yves Leloup.
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