
720 ESPAÇO PEDAGÓGICO
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Patrícia Carlesso Marcelino, Franciele Silvestre Gallina, Alex Sander da Silva
v. 28, n. 2, Passo Fundo, p. 704-726, maio/ago. 2021 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
tivo ocorre na arte. Na década de 1920, recorreu à linguagem expressiva como forma
de tratamento e, para tanto, pedia aos clientes que fizessem desenhos livres, imagens
de sentimentos, de sonhos, de situações conflituosas ou outras, e, segundo ele:
Os pensamentos e ideias esquecidos não deixaram de existir. Apesar de não poderem se
reproduzir à vontade, estão presentes num estado subliminar – para além do limiar da
memória – de onde podem tornar a surgir espontaneamente a qualquer momento, algumas
vezes anos depois de um esquecimento aparentemente total. Refiro-me aqui a coisas que
vimos e ouvimos conscientemente e que em medida esquecemos. Mas todos nós vemos,
ouvimos, cheiramos e provamos muitas coisas sem notá-las na ocasião, ou porque a nossa
atenção se desviou ou porque, para os nossos sentidos, o estímulo foi demasiadamente fraco
para deixar uma impressão consciente. O inconsciente, no entanto, tomou nota de tudo,
e essas percepções sensoriais subliminares ocupam importante lugar no nosso cotidiano.
Sem percebermos, influenciam a maneira segundo a qual vamos reagir a pessoas e fatos
(JUNG, 2019, p. 37).
Jung priorizava, de acordo com a UBAAT (2020, p. 3), a expressão artística e
a verbal como componentes de cura, compreendendo-se essa terapêutica como um
modo de trabalhar, utilizando a linguagem artística como base da comunicação.
Sua essência é na criação estética e na elaboração artística em prol da saúde. Para
isso, utiliza as diferentes formas de linguagem, plástica, sonora, dramática, corpo-
ral e literária, envolvendo técnicas de desenho, pintura, modelagem, construções,
sonorização, musicalização, dança e poesia.
Zanin e Gallina (2017, p. 155) falam sobre a arte como terapêutica, destacando
que essa consiste, na atualidade, em uma importante ferramenta para auxiliar na
amenização de diversas problemáticas existentes em nossa sociedade e afirmam
que seu vasto leque de técnicas e instrumentais viabiliza a possibilidade e a con-
cretude de um trabalho diferenciado e, consequentemente, atrativo aos sujeitos,
superando uma carência sentida e vivenciada nos dias atuais.
Congruente com esse pensamento, Dittrich (2018, p. 8) afirma que, por meio
da criatividade na arte, o ser humano toma ciência de seu espírito e sua natureza,
expressa sua maneira de ser no mundo, o que lhe possibilita construir o sentido
existencial. Trata-se de viver o momento criativo, a experiência vivenciada, sem
focar num produto final que seja validado pela esfera do social.
Conforme a intensidade e o grau de percepção da experiência criativa, ela leva ao encontro
do sujeito consigo mesmo e com o outro, ao desenvolvimento da fantasia e do imaginário,
a viver momentos de ressignificação e de percepção mais intensa e apurada, momentos de
autoconhecimento e reconhecimento do outro. Enfim, são momentos criativos, intensos e
significativos, de vivência plena do aqui/agora, integrando intuição, ação, pensamento e
sentimento em processo de fruição, ou seja, o sentir/pensar/agir/criar de maneira integrada
e fluída (MORAES, 2019/2020, p. 84).