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ESPAÇO PEDAGÓGICO
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Pierre Dardot, Christian Laval
v. 28, n. 1, Passo Fundo, p. 412-419, jan./abr. 2021 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
escola se torna, então, não apenas um anexo do sistema econômico dominante, mas
uma verdadeira matriz do capitalismo generalizado.
5. Como é possível avançarmos política e educativamente diante da tensão entre
individualização e socialização marcada, no contexto atual, pelo neoliberalismo
“hiperautoritário”?
Os professores devem resistir a esta transformação com toda as suas forças e
defender os valores humanos mais fundamentais, que hoje são desvalorizados pelo
espírito do capitalismo escolar. Começando, talvez, pela recusa de falar a lingua-
gem do capitalismo escolar, ou seja, a linguagem da gestão: “objetivos”, “cultura
de resultados”, “rendimento”, “capital humano”, “empregabilidade”, “competên-
cias” etc. Ater-se ao vocabulário clássico e normal da educação humanista já seria
muito. Pois como disse Freud, se você cede à palavra, você cede à coisa. Diríamos,
então, que é unicamente “defensivo”. Sim, mas neste momento, os educadores es-
tão sofrendo ataques de todos os lados e devem se defender contra formas sutis
de invasão linguística e conceitual. Elas são sutis porque esta cultura capitalista
conseguiu usar muitas das contribuições dos movimentos pedagógicos, na Europa
e nos Estados Unidos, para utilizá-los em benefício próprio. Se existe uma atitude
mais construtiva a ser adotada, acredito que ela deve consistir em rever a tradição
progressista da educação e em considerar com um olhar mais crítico as formas
ideológicas que caracterizaram certas correntes ou certos autores considerados
como os fundamentos da pedagogia progressista. Com isto quero dizer que existe
uma heterogeneidade ideológica em muitas destas correntes que não foi suficien-
temente analisada, o que levou a muitas confusões que beneficiaram o capitalismo
escolar. Educadores progressistas, involuntariamente, tornaram-se portadores de
conteúdos individualistas, utilitários e psicológicos, em detrimento da sociologia
crítica e do espírito cooperativo. O trabalho, tanto teórico, quanto prático, é imenso,
ou seja, refundar uma educação democrática para além dos pressupostos neolibe-
rais das chamadas novas pedagogias. E nesta tarefa considerável, a dificuldade
consiste em manter estreitamente ligadas quatro dimensões: a) a criação de si-
tuações educativas genuinamente iguais; b) a construção de uma cultura escolar
comum, uma base sólida a ser construída antes de especializações posteriores; c) o
desenvolvimento de uma pedagogia cooperativa desde a mais tenra idade; c) e uma
organização democrática escolar em que todos, qualquer que seja seu lugar como
educador, aluno ou pai, possa participar conjuntamente das atividades.