
Inclusão no ensino superior: narrativas de estudantes com deficiência no contexto amazônico
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v. 29, n. 1, Passo Fundo, p. 85-109, jan./abr. 2022 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
numa sala com outros alunos, então eu tive que pedir para ser tirada de lá. Aí, eles disseram que
não tinham sido comunicados disso e tal, mas no final acabaram me tirando. Em seguida, chegou
a hora da redação e não tinha máquina para eu escrever. Aí, eu tive que ligar para alguém aqui
em casa para levarem para mim.
[...] Tenho uma máquina de datilografia. Aí, nós tivemos que levar, aí eu aproveitei e pedi folhas
também para não ter que passar por outra dificuldade. Enquanto isso, o tempo ia passando,
mas... Então, foi uma prova cheia de dificuldades para mim, porque foram várias interrupções,
depois eles não sabiam que eu não assinava, aí não sabiam o que fazer, eu tive que explicar que
eu ia usar a minha digital, enfim. Depois dessas dificuldades eu não imaginava que eu fosse passar,
porque não tinha cota para deficiente e com uma série de dificuldades, eu não imaginava que eu
tinha feito uma prova boa o suficiente para passar. [...]
No ENEM eu fui muito bem auxiliada, eu cheguei lá já tinha outra sala, foi feito em outra
escola, eu cheguei lá já tinha uma sala, já tinha máquina para eu escrever, tinha as folhas, tinha
tudo. Aí, tinha alguém para marcar as questões objetivas para mim, tinha um ledor, por exem-
plo, quando eu cansava de ler... O braile a gente consegue ler até um determinado tempo, mas
aí a gente vai perdendo a sensibilidade e a sensibilidade a gente perde quando fica lendo muito.
Cansa, o dedo cansa. Aí, lá tinha um ledor para mim, eu dava uma parada e dizia “Cansei”, aí a
pessoa começava a ler para mim. Foi uma forma mais fácil de fazer a prova, apesar de ser bastante
demorado, porque o ENEM é cansativo, e eu, por ser deficiente visual, eu tive direito a uma hora
a mais do que os outros alunos. Então, é bem cansativo. Mas, é bem confortável para fazer.
Pesquisadora: E no SIS você teve esse acréscimo de hora para fazer a prova?
Eu tive que ter porque como eu já tinha perdido muito tempo com essas questões de faltar a
máquina, então eu já tinha passado por interrupções.... Se eu tinha direito, eu não sei, mas foi
necessário (RIO JAVARI, DV, TABATINGA, grifo nosso).
[...] Aí, quando foi em 2014, eu fiz, paguei a inscrição e graças a Deus eu fiz e passei em décimo
sétimo lugar na classificação geral para Pedagogia. Aí, isso já me deu mais um ânimo, mais uma
vontade de continuar e desse tempo para lá, para cá, eu me sinto, assim, uma outra pessoa, eu
me sinto até melhor na minha própria casa, com os meus filhos, como tratar eles, como entender
eles. [...] Depois de oito anos sem estudar, eu fiz o vestibular e eu ainda passei. Inclusive quando
saiu o resultado eu não estava nem aqui, eu estava em Santo Antônio de Sá. Aí, o meu irmão me
ligou “Vem para fazer a tua matrícula, porque você passou no vestibular”, “você leu direito meu
nome”. Aí, eu vim embora e realmente eu tinha passado. Eu mesmo não tinha acreditado, oito
anos parado, eu não estudei, mas as perguntas que estavam lá, eu respondi, na redação eu também
fiz bem.
[...] O primeiro vestibular não deu certo, mas o segundo deu certíssimo. Está sendo muito im-
portante para mim esse momento que eu estou aqui na UEA (RIO PURUS, DF, TABATINGA,
grifo nosso).
[...] fiz aqui mesmo na sala de recursos onde estamos e me mandaram a atendente que solici-
tamos, as provas vieram em braile, eu lia e ela colocava no cartão resposta o que eu dizia se era
o a, o b, o c... Eu lia, sabia qual era a resposta. Eu passei na segunda chamada da UEA (RIO
IÇA, DV, TABATINGA, grifo nosso).