
A formação de professores no contexto da sociedade capitalista neoliberal brasileira
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v. 29, n. 1, Passo Fundo, p. 284-304, jan./abr. 2022 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
De um lado, a ideologia da globalização e, de outro, a perspectiva mistificadora da reestruturação
produtiva embasam, no campo educativo, a nova vulgata da pedagogia das competências e a
promessa de empregabilidade. Ao individualismo do credo neoliberal somam-se os argumentos
fundados no credo do pós-modernismo que realçam as diferenças (individuais) e a alteridade.
Neste particular a diferença e a diversidade, dimensões importantes da vida humana, mascaram
a violência social da desigualdade e afirmam o mais canibal individualismo (FRIGOTTO, 2005,
p. 71).
É reconhecendo o significado de suas ações, num processo de buscar explicações,
estabelecer relações e, simultaneamente, trabalhar e aprender; que acontece a formação
docente que se espera. Para isso, este aprender não é aquele pautado nas intenções da
classe dominante, do capital, mas aquele que “empodera”, que move e promove a mu-
dança.
Ao estudarmos, por outro lado, a prática do intelectual como inserido no con-
texto histórico mais amplo, novos elementos se apresentam. Entre estes, se destacam as
opções e as posições do intelectual frente à correlação de forças políticas. Nesse âmbito,
interessa a análise das concepções ideológicas inerentes às práticas dos intelectuais. Ide-
ológico, no sentido de visão de mundo, de sociedade e, sobretudo, do papel da ciência.
Aqui se exige um posicionamento político do professor. Esse posicionamento pode ser
tácito ou confesso. Nisso reside o aspecto ideológico, uma vez que estamos no campo
da persuasão. Para Gramsci (2011), as lutas sociais e políticas, nas sociedades atuais, se
dão menos contra o Estado do que no Estado. Este se apresenta como instância medi-
adora de interesses de classes, em vez de um mero representante da classe dominante.
Nele, portanto, os antagonismos se manifestam. O papel do intelectual orgânico é o de
organizar, conduzir e persuadir as massas, produzindo consensos. Ao ampliar o Estado,
ele amplia, também, o papel do intelectual.
No entanto, devemos lembrar que o embate hegemônico em Gramsci (1995b,
p. 270), supõe que a verdadeira práxis “não é o instrumento de governos ou de grupos
dominantes para obter o consentimento e exercer a hegemonia sobre as classes subal-
ternas”. Afirmamos, ao contrário, que a práxis é expressão das classes subalternas que
querem educar a si mesmas na arte do governo e que tem interesse em conhecer todas
as verdades – inclusive as desagradáveis – e evitar enganos. Com a hegemonia maciça
do liberalismo, esse enfoque pode parecer anacrônico.
Dessa forma, considerando a realidade posta, o exercício da formação docente
com vistas à promoção e à participação efetiva de sujeitos, ainda é o caminho para a
superação das desigualdades, capaz de enfrentar os desmandos autoritários e políticos
que vivenciamos no Brasil desde sempre, mais acentuadamente e de forma irracional,
a partir de 1º de janeiro de 2019, com a posse de Jair Bolsonaro. Prova disso é que,