
436 ESPAÇO PEDAGÓGICO v. 28, n. 2, Passo Fundo, p. 435-443, maio/ago. 2021 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
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contribuições na composição deste dossiê. Há artigos resultantes de pesquisas teó-
ricas e empíricas que auxiliam na reflexão sobre educação e saúde, considerando
a importância da interdisciplinaridade na produção de conhecimentos que tratam
diretamente ou tangenciam esses campos. Pensar nas complexas relações entre
educação e saúde implica trazer para o debate aportes filosóficos, sociológicos, bio-
lógicos, antropológicos, políticos, ideológicos, dentre outros.
A título de exemplo, podemos tratar da relação entre educação e saúde na
perspectiva hermenêutica gadameriana. Hans-Georg Gadamer (1900-2002) foi um
filósofo alemão que apostou no trabalho hermenêutico como motor do resgate da
humanidade após os horrores da Segunda Guerra Mundial, bem como um meio
para fazer frente ao tecnicismo instrumental que solapou da condição humana di-
mensões como a cooperação, a solidariedade e a ética. Defendeu a linguagem como
modo de humanização, fundando no diálogo o alicerce para a sobrevivência da hu-
manidade como civilização. De modo mais específico, articulou a hermenêutica à
saúde, em um conjunto de ensaios publicados na obra que tem por título: O caráter
oculto da saúde (2006). Nesses ensaios, Gadamer (2006) reflete sobre a prática
médica a partir da hermenêutica filosófica, particularmente, da noção de diálogo
vivo, retomando a dimensão ética, fragilizada com o advento da medicina cientí-
fica. Para Gadamer (2006, p. 133), “o diálogo é troca recíproca entre pergunta e
resposta. Implica, portanto, o falar com alguém, o qual responde a seu interlocutor,
sendo este tipo de interação inseparável de seu significado”. Ainda de acordo com o
filósofo, “na área da medicina, o diálogo não é uma simples introdução e preparação
para o tratamento. Ele já é o tratamento e continua sendo muito importante no
tratamento que se segue, o qual deve conduzir a cura”.
O dossiê Educação e Saúde insere-se no contexto profundamente complexo e
desafiador que estamos vivendo. Necessitamos de tempos mais alongados para me-
lhor avaliar as implicações subjetivas, sociais, econômicas, políticas e educativas
decorrentes da pandemia. Diagnósticos mais profundos precisam ser feitos para
compreender melhor as transformações a que fomos submetidos de uma forma
brusca e inesperada, as sofridas experiências vivenciadas desde 2020, as milhares
de mortes de familiares, amigos, conhecidos, as dramáticas situações de sofrimento
provocadas pela falta de infraestrutura e pelos colapsos em sistemas de atendi-
mento, as limitações dos profissionais da saúde frente às excessivas demandas.
Neste momento, queremos nos somar a todos esses batalhadores que não mediram
esforços para resistir e enfrentar todas as adversidades que a pandemia gerou ou
agravou.