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ESPAÇO
PEDAGÓGICO
EDITORIAL
A reflexão a respeito da relação saúde e educação é uma das mais instigantes
e desafiadoras tarefas, pois envolve não só especialistas dessas áreas, mas, tam-
bém, filósofos, sociólogos, antropólogos, psicólogos, psicanalistas, economistas, teó-
logos, entre outros. A recente pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2), agente
causador da Covid-19, instigou cientistas, gestores públicos e a população de um
modo geral a debruçarem-se sobre as formas de enfrentamento da doença, bem
como analisarem as consequências locais e globais. A revista Espaço Pedagógico
da Universidade de Passo Fundo (UPF) participa desses esforços, abrindo espaço
para acolher experiências e reflexões sobre os impactos provocados pela pandemia
na vida pessoal, social e nas instituições educativas. O dossiê Educação e Saúde
objetiva promover um diálogo interdisciplinar e crítico sobre a pandemia e suas
implicações subjetivas e sociais.
Um conjunto de questões coloca-se nesse contexto: que saberes interdiscipli-
nares se fazem necessários para relacionar educação e saúde? De que modo a saú-
de pode afetar processos educativos? Que elementos são levados em consideração
quando da tomada de decisões referentes à educação formal e informal em tempos
de pandemia, de aumento nos riscos de contágio, de disseminação incontrolável da
doença e de possibilidades reais de colapsos no sistema de saúde? De que concepção
de educação podemos falar em meio às demandas impostas pela pandemia? Que
relações podem ser estabelecidas entre processos educativos, sistema econômico e
sistema de saúde? Que racionalidade sustenta processos educativos em tempos de
crescente adoecimento coletivo? Que experiências educativas foram construídas
durante a pandemia e quais seus limites e suas possibilidades?
Essas são algumas interrogações que emergem dentro de um horizonte de diá-
logo interdisciplinar entre saúde e educação em tempo de pandemia. Esse debate
é incrementado com a colaboração de inúmeros investigadores que trazem suas
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contribuições na composição deste dossiê. Há artigos resultantes de pesquisas teó-
ricas e empíricas que auxiliam na reflexão sobre educação e saúde, considerando
a importância da interdisciplinaridade na produção de conhecimentos que tratam
diretamente ou tangenciam esses campos. Pensar nas complexas relações entre
educação e saúde implica trazer para o debate aportes filosóficos, sociológicos, bio-
lógicos, antropológicos, políticos, ideológicos, dentre outros.
A título de exemplo, podemos tratar da relação entre educação e saúde na
perspectiva hermenêutica gadameriana. Hans-Georg Gadamer (1900-2002) foi um
filósofo alemão que apostou no trabalho hermenêutico como motor do resgate da
humanidade após os horrores da Segunda Guerra Mundial, bem como um meio
para fazer frente ao tecnicismo instrumental que solapou da condição humana di-
mensões como a cooperação, a solidariedade e a ética. Defendeu a linguagem como
modo de humanização, fundando no diálogo o alicerce para a sobrevivência da hu-
manidade como civilização. De modo mais específico, articulou a hermenêutica à
saúde, em um conjunto de ensaios publicados na obra que tem por título: O caráter
oculto da saúde (2006). Nesses ensaios, Gadamer (2006) reflete sobre a prática
médica a partir da hermenêutica filosófica, particularmente, da noção de diálogo
vivo, retomando a dimensão ética, fragilizada com o advento da medicina cientí-
fica. Para Gadamer (2006, p. 133), “o diálogo é troca recíproca entre pergunta e
resposta. Implica, portanto, o falar com alguém, o qual responde a seu interlocutor,
sendo este tipo de interação inseparável de seu significado”. Ainda de acordo com o
filósofo, “na área da medicina, o diálogo não é uma simples introdução e preparação
para o tratamento. Ele já é o tratamento e continua sendo muito importante no
tratamento que se segue, o qual deve conduzir a cura”.
O dossiê Educação e Saúde insere-se no contexto profundamente complexo e
desafiador que estamos vivendo. Necessitamos de tempos mais alongados para me-
lhor avaliar as implicações subjetivas, sociais, econômicas, políticas e educativas
decorrentes da pandemia. Diagnósticos mais profundos precisam ser feitos para
compreender melhor as transformações a que fomos submetidos de uma forma
brusca e inesperada, as sofridas experiências vivenciadas desde 2020, as milhares
de mortes de familiares, amigos, conhecidos, as dramáticas situações de sofrimento
provocadas pela falta de infraestrutura e pelos colapsos em sistemas de atendi-
mento, as limitações dos profissionais da saúde frente às excessivas demandas.
Neste momento, queremos nos somar a todos esses batalhadores que não mediram
esforços para resistir e enfrentar todas as adversidades que a pandemia gerou ou
agravou.
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Ainda será necessário mais tempo para avaliar o que efetivamente aprendemos
com os processos de confinamento e isolamento a que fomos submetidos. Paradoxos
e contradições foram acirrados: disputas pelo controle das descobertas científicas;
controle e acumulação de vacinas por alguns países com maior poder econômico e
político e ausência para países excluídos das riquezas; negacionismos científicos e
políticos que agravaram o sofrimento e aumentaram exponencialmente a morte de
pessoas; esforços para criar novas relações de comunicação; construção de práticas
educativas em contextos profundamente desiguais, especialmente no Brasil; novas
relações pedagógicas decorrentes do ensino remoto. Essas e tantas outras questões
ganham sentido no contexto de pandemia e das suas consequências. O dossiê Edu-
cação e Saúde insere-se nesse contexto e é composto por dezenove artigos, mais
a seção de diálogo com educadores e uma resenha. As temáticas e as respectivas
abordagens são diversas, mas confluem para a relação entre educação e saúde.
O artigo de Ricardo Burg Ceccim e Rosimere da Rosa Correa, intitulado O
mundo em distanciamento: as escolas pararam, as necessidades educacionais não,
trata da relação educação e a saúde na perspectiva da educação especial. Analisa
os impactos educativos decorrentes das medidas adotadas por conta da pandemia,
no caso da educação especial, que, segundo os autores, não poderia ser postergado
em um agudo planejamento da intervenção pedagógica e psicossocial, ante o risco
de danos duradouros ou permanentes ao seu desenvolvimento, aos processos cogni-
tivos e afetivos e à inserção social, além de riscos à constituição de si e ao bem-estar
mental individual e familiar. A pandemia gerou mudanças nos ritmos existentes
anteriormente, mas, para alguns sujeitos, essas transformações foram profunda-
mente complexas, como no caso da educação especial.
A contribuição de Marcia Maria Ribera Lopes Spessoto e Raphael Ramos
Spessoto, A experiência de acadêmicos de enfermagem no ensino remoto durante a
pandemia por Covid-19 (Sars-cov2), objetiva fazer um levantamento com acadêmi-
cos de enfermagem da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul em relação
às condições em que estão desenvolvendo o ensino remoto emergencial (ERE) e às
suas percepções desse processo. Os autores fazem um estudo dos principais en-
caminhamentos adotados pelo Estado brasileiro na educação superior durante a
pandemia e, por consequência, da perspectiva institucional adotada pela referida
universidade. A pesquisa, realizada por meio de questionários, evidenciou que os
alunos usaram, predominantemente, celulares e outras ferramentas digitais para
o acesso aos conteúdos, concluindo que a pandemia trouxe rupturas e novas con-
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figurações para a área da educação, as quais necessitarão de reflexões, estudos e
amadurecimento por parte de docentes, discentes e familiares.
O artigo Mental resilience or mental fiasco? Covid-19 pandemic: ethnographic
reflections of international students in higher education from Czech Republic, de
Preeti Rajendran, apresenta, através de uma pesquisa quanti-qualitativa, o que
chama de resiliência mental em estudantes internacionais na República Tcheca.
Além de gráficos que analisam fatores sociais e mentais, o artigo baseia-se em sete
histórias etnográficas e autoetnográficas de estudantes. Essas histórias refletem
desde o período de alerta máximo até o fechamento das fronteiras de março de 2020
a novembro de 2020. A partir das histórias desses estudantes, conclui que o en-
frentamento à pandemia é variado, complexo e situacional, dependendo de vários
fatores individuais e contextuais, mas apontam para a existência de uma resiliên-
cia mental nos processos de enfrentamento às condições impostas pela pandemia.
Elita Betânia de Andrade Martins, Juliana Campos Schmitt e Alessandra
Maia Lima Alves participam do dossiê com o artigo Saúde docente: o possível im-
pacto das condições de trabalho no ensino remoto emergencial, abordando um tema
que ganhou destaque com a pandemia da Covid-19, que é o adoecimento de profes-
sores em decorrência das crescentes demandas provocadas pelas aulas remotas e
das pressões decorrentes de portarias e decretos, retirando a autonomia dos pro-
fessores em seus trabalhos, bem como do trabalho aumentado. Tudo isso agravou
as situações de adoecimento dos professores.
O artigo de Simone Burioli Ivashita, Francielle Nascimento Merett e Nathalia
Martins Beleze, intitulado O Plano de Estudos Dirigido como orientador do tra-
balho pedagógico durante a pandemia na rede municipal de Londrina, PR, trata
dos impactos da pandemia na educação e da necessidade de reorganizar o trabalho
pedagógico, condição para assegurar o direito à educação. O artigo analisa o Plano
de Estudos Dirigido organizado na rede do município de Londrina, PR, como forma
de assegurar aos alunos vínculos com a escola.
Arlete Ramos dos Santos e Antônio Domingos Moreira tratam das perspecti-
vas do ensino médio na Bahia no contexto da pandemia no artigo: Perspectivas no
futuro educacional da Bahia: breves relatos de educadores em tempos da Covid-19.
O artigo fundamenta-se numa pesquisa de campo com questionários aplicados a
educadores sobre as tecnologias na educação e os desafios para as políticas públi-
cas avançarem no ensino on-line, que, por sua vez, vai implicar condições de acesso
como computadores, internet e qualificação de todos os envolvidos na comunidade
escolar.
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O artigo de Patrícia Caldeira Tolentino Czech, Rodrigo Diego de Souza e Pa-
trícia Correia de Paula Marcoccia, O lugar do estágio curricular supervisionado
das licenciaturas no contexto de pandemia por Covid-19: as condições econômicas e
sociais e a morbimortalidade, aborda o estágio curricular supervisionado nas licen-
ciaturas no contexto da pandemia. Essa atividade ficou profundamente atingida
pela suspensão de atividades presenciais. A conclusão a que os autores chegam é
a de que a pandemia e as condições socioeconômicas acentuaram as desigualdades
sociais e educacionais brasileiras e implicaram diretamente no trabalho docente e
na formação inicial dos professores.
Mozart Linhares da Silva e Camila Francisca da Rosa, no artigo Saúde, edu-
cação e a pós-verdade como estratégia de (des)educabilidade: notas sobre a pande-
mia e o bolsonarismo, tratam de questões que ganharam centralidade nos últimos
anos no Brasil, especialmente a partir de 2019. O artigo baseia-se na análise das
ações e dos discursos assumidos pelo governo Bolsonaro e por seus apoiadores. O
conceito de pós-verdade é compreendido pelos autores como estratégica enquanto
meio de educabilidade, principalmente durante a pandemia do novo coronavírus.
Os autores identificam que, antes da eleição, já estava sendo gestada uma política
anti-intelectualista e de deslegitimação do saber científico, com ataques sistemá-
ticos à universidade e à educação em geral, espaços que tradicionalmente são con-
siderados legítimos para a produção e a difusão da verdade. Na pandemia, um dos
alvos dos ataques foi a ciência no âmbito da saúde.
Julieta Jerusalinsky é autora do artigo O que é educar um bebê? Os primórdios
da estruturação psíquica dentro da instituição escolar. A autora analisa o direito do
bebê ao acesso à educação infantil, as implicações da separação da criança em rela-
ção à mãe e os cuidados que clínicos e educadores precisam ter no aprofundamento
de como ocorrem as relações entre mãe e bebê em relação aos cuidados. Chama
atenção para o trabalho dos profissionais da educação infantil no cuidado para com
as crianças em relação a alimentação, higiene e embalo do sono. Conclui que pro-
fissionalizar a intervenção de educadores da primeira infância não implica cair em
técnicas rígidas, mas resgatar a complexidade da transmissão simbólica implicada
nos cuidados cotidianos, no brincar da criança pequena e nos jogos constituintes de
um bebê como sujeito do desejo em estruturação, sublinhados nas contribuições da
clínica da estimulação precoce permeada pela psicanálise.
Formação em saúde no âmbito da UFRN: aspectos fundamentais das apren-
dizagens em contextos interdisciplinares é a contribuição de Eliana Costa Guerra,
Antônio Medeiros Júnior e Nilma Dias Leao Costa. Como observam os autores,
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o artigo, de natureza bibliográfica, documental e de portfólios com experiências
produzidas nessa universidade, que resultaram na construção das disciplinas de
Saúde e Cidadania I e II, objetiva configurar a contribuição de experiências de
ensino desenvolvidas no âmbito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
nos processos de mudança na formação em nível de graduação dos cursos de saúde,
tendo por base atividades acadêmicas realizadas em estreita colaboração com os
serviços de saúde e tendo por horizonte a construção da interprofissionalidade. Os
autores concluem que ocorreram importantes mudanças nas práticas profissionais
em serviços da Atenção Básica à Saúde e na preparação de profissionais para atua-
rem, especialmente, nas redes do Sistema Único de Saúde.
O artigo de Mylene Cristina Santiago e Karla Aparecida Gabriel, Práticas
multidisciplinares de atenção à pessoa com transtorno do espectro autista (TEA),
analisa as práticas multidisciplinares de saúde e inclusão relacionadas ao TEA.
Os modelos diagnósticos de deficiência, o médico e o social, trazem repercussões
distintas em relação às possibilidades de inclusão da pessoa com TEA nos espaços
educacionais e sociais. As autoras concluem que o modelo social favorece a articu-
lação entre saúde e educação, gerando novas práticas que ampliam as oportunida-
des de participação e aprendizagem da pessoa com autismo e dos seus familiares,
propondo novos olhares e perspectivas, que se desdobram em possibilidades de
intervenção precoce, propostas de acessibilidade curricular, atendimento educacio-
nal especializado e mediação no processo de aprendizagem.
O artigo de Andreia Freitas Zompero, Tania Aparecida Silva Klein e Amân-
cio António Sousa Carvalho, Literacia em saúde: um estudo com alunos do ensino
médio de escolas brasileiras, trata de um estudo que visou identificar o nível de
literacia em saúde, prevenção de doença e promoção da saúde de estudantes do
ensino médio. Trata-se de um estudo observacional, descritivo-correlacional, de
abordagem quantitativa, envolvendo alunos do 2º e 3º anos do ensino médio, em
duas escolas públicas da cidade de Londrina, PR. Para desenvolver a pesquisa, foi
aplicado um questionário adaptado do European Health Literacy Survey. A pes-
quisa mostrou que a média dos alunos participantes apresenta literacia em saúde
inferior a países da Europa, em que os estudantes nessa mesma faixa etária apre-
sentaram nível satisfatório.
Alboni Marisa Dudeque Pianovski Vieira e Elza Fagundes da Silva abordam
um tema muito preocupante na contemporaneidade com o artigo Adoecimento do-
cente nas escolas públicas do estado do Paraná. Trata-se de uma discussão sobre os
fatores que contribuem para o adoecimento docente nas escolas de ensino básico na
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rede pública estadual do Paraná. O artigo resulta de uma pesquisa bibliográfica,
documental e de campo. Os dados mostram, em primeiro lugar, a correlação entre
afastamentos de função e licenças médicas decorrentes de fatores emocionais; em
segundo, estão problemas de desgaste físico.
Educação e saúde: um olhar diverso, reflexivo e relacional para o desenvolvi-
mento humano no século XXI é a contribuição de Yoisell Lopez Bestard, Juan Eligio
Lopez Garcia e Maria Caridad Bestard Gonzalez. A reflexão centra-se nos conceitos
de educação e saúde no século XXI, especialmente, no contexto da pandemia da
Covid-19. “É realizada a análise gramatical das palavras que compõem a frase
educação e saúde, direciona sua interpretação para a dimensão social de ambos os
processos de alta incidência no desenvolvimento humano”. O desafio, concluem, é
um trabalho interdisciplinar no campo da educação em diálogo com a saúde visan-
do “influenciar as novas gerações e, com elas, a garantia de continuidade da vida”.
Patricia Carlesso Marcelino, Franciele Silvestre Gallina e Alex Sander da
Silva contribuem com o artigo: Educação ético-estética em tempos de pandemia:
conexões entre Arteterapia e bem-estar humano. Os autores objetivam refletir sobre
a noção de bem-estar humano e a promoção da saúde. Isso implica numa mudança
epistemológica e na contribuição da arteterapia como possível referencial teórico
e prático para a promoção do bem-estar das pessoas em tempos pandêmicos. Essa
perspectiva ganha relevância numa sociedade marcada por desigualdades, exclu-
são, racismo e preconceitos. O artigo aprofunda uma perspectiva ético-estética de
educação e de saúde que conceba o ser humano em sua integralidade.
O artigo de Osdi Barbosa dos Santos Ribeiro e Alessandra Alexandre Freixo,
Crianças oncológicas e as experiências do adoecer e das práticas pedagógicas em
ambiente hospitalar, objetiva aprofundar a compreensão sobre o adoecimento e as
práticas pedagógicas por crianças em um Centro de Oncologia em Feira de Santa-
na, Bahia. Com o apoio de observações participantes, foram realizadas entrevistas
semiestruturadas com crianças. A pesquisa evidenciou que o hospital é, para as
crianças, um lugar de dor e de cura, destacando o papel pedagógico da brinque-
doteca e sua identificação com o ambiente escolar, especialmente a contação de
histórias. Dessa forma, a criança mantém vínculos sociais e educativos.
Adriana Nunes Moraes-Partelli e Marta Pereira Coelho contribuem com o
artigo: Saberes de adolescentes Quilombolas incorporados aos saberes científicos
na construção de roteiro educativo sobre gravidez. As autoras objetivam analisar
como saberes de adolescentes de comunidade Quilombola foram incorporados aos
saberes científicos na elaboração do roteiro de duas histórias em quadrinhos em
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um material educativo sobre gravidez não planejada. As autoras concluem que as
histórias, que foram produzidas de forma participativa, valorizaram experiências,
significados, divergências e convergências entre os saberes populares e científicos,
traduzindo a realidade do cotidiano dos adolescentes afro-brasileiros de forma útil,
prazerosa, didática e esclarecedora, para ser utilizada no processo educativo.
Julio Cesar Bresolin Marinho traz sua contribuição sobre o importante tema
que é a relação entre direção e bebida alcoólica. O autor faz um estudo comparativo
de percepções de adolescentes do Brasil e de Cabo Verde a respeito do tema. A
pesquisa que resultou no artigo chegou à conclusão de que, para que o sujeito não
se exponha e coloque sua vida em risco em um acidente de trânsito, é necessário
que ele se perceba como alguém de valor. Para isso, é preciso o desenvolvimento da
autoestima, da autoconfiança e do autorrespeito, bem como a construção de repre-
sentações de si com valor positivo.
Jamille Gabriela Cunha da Silva, Luciana Amaral Garcia e Maély Ferreira
Holanda Ramos contribuem com o artigo: Caracterização da autorregulação emo-
cional e estados afetivos em alunos da pós-graduação stricto sensu. As autoras ana-
lisam a percepção de alunos de pós-graduação sobre a autorregulação emocional
e seus estados afetivos no contexto acadêmico e sobre como aspectos emocionais e
afetivos influenciam a ação dos indivíduos, social e academicamente. A metodolo-
gia utilizada incluiu vários recursos, entre os quais, um questionário com 58 alu-
nos de pós-graduação – mestrado e doutorado – de dois programas da Universidade
Federal do Pará, que se dispuseram a participar. Os resultados evidenciaram que,
mesmo tendo muitas exigências e tarefas a cumprir na pós-graduação, os alunos
conseguem administrar suas emoções e sua variação de humor, sem perder a per-
cepção de determinação, animação e interesse no processo de formação em questão.
O Diálogo com educadores conta com as preciosas reflexões de Vanderléia
Leodete Pulga, educadora que tem uma longa trajetória de diálogo entre saúde e
cultura popular, trazendo para debate contribuições e desafios para a formação de
profissionais sensíveis e qualificados no atendimento à saúde, especialmente de
setores populares, com uma visão de mundo capaz de compreender os sujeitos em
suas práticas sociais e em suas manifestações de doença-saúde.
A resenha de Adriana Aparecida de Lima Terçariol e Romeu Afecto é sobre a
obra Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-
-prática, de Bacich e Moran (organizadores), com a contribuição de vários autores
que abordam práticas pedagógicas aplicadas por docentes por meio de novas me-
todologias de ensino e aprendizagem, consideradas como inovadoras e definidas
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como ativas. Os autores concluem que a obra traz importantes contribuições meto-
dológicas para pensar as práticas pedagógicas.
Desejamos que este conjunto de reflexões nos ajudem a compreender melhor
os impactos da pandemia, as relações fundamentais entre saúde e educação e a
construção de experiências alternativas. A vocês, desejamos uma boa leitura.
Altair Alberto Fávero – organizador
Renata Maraschin – organizadora
Telmo Marcon – editor-chefe
Referência
GADAMER, H. G. O caráter oculto da saúde. Trad. Antônio Luz Costa. Petrópolis: Vozes, 2006.