
A imagem no desenvolvimento de habilidades psíquicas na teoria de Lev Vygotsky...
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v. 29, n. 3, Passo Fundo, p. 855-875, set./dez. 2022 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
a criança que ainda não sabe falar, mas está com sede, ela gesticula indicando para a
geladeira, o copo ou o garrafão de água. Algumas crianças quando estão querendo ma-
mar e ainda não falam, indicam os seios da mamãe ou puxam a blusa para indicarem
que estão com fome. Portanto, em seu percurso investigatório em relação à formação
de conceitos, Vigotski, Luria e Leontiev (2014) enfatizam a importância do signo como
parte essencial do processo.
Para Vygotsky, muitas vezes é possível se utilizar os signos como forma auxiliar
do processo de memorização. Entretanto, isso não garante ao indivíduo que com essa
ação ele consiga lembrar de algo ou alguma situação ocorrida, em que ele esteja envol-
vido. Eles são usados para solucionar determinados problemas psicológicos, tais como:
lembrar, relatar, comparar, escolher. Essas ações são semelhantes ao uso de instrumen-
tos, apenas ocorrem no campo psicológico.
Entretanto, os instrumentos são mediadores da relação entre o sujeito e o meio,
servindo de elo entre esses dois elementos, tendo em vista que é no ambiente que está
o objeto desejado pelo sujeito. Tem-se como exemplo a seguinte situação hipotética:
João precisa comprar um livro na loja virtual ‘Minhas leituras’, logo para conseguir
efetivar sua compra, ele necessita de um meio que o ligue à loja. Neste caso, João pode
telefonar para loja, acessar site da mesma via notebook, PC, tablet ou smartphone. Logo,
os veículos de comunicação (telefone/smartphone, notebook, PC, tablet) são os possíveis
instrumentos que João poderá utilizar para alcançar seu objetivo que é comprar o livro.
Atenta-se ao fato de que os signos, são os sinais das coisas ou objetos, pois, repre-
sentam a sua presença no momento acionado. Estes elementos nos fazem retomar à
determinada situação ou objetos, por vezes utilizados como imagens. Ao se observar
uma fotografia, por exemplo, não se vê ou tem a pessoa, objeto ou lugar naquele mo-
mento, mas a partir deste elemento, recorda-se algo que foi visto ou vivenciado
anteriormente. Outras vezes, é a imagem mental de um objeto, um cheiro, uma música
que nos faz rememorar algo que foi de algum modo importante e, que está sendo lem-
brado naquele instante.
Vigotski (2007) se empenhou em entender o papel comportamental do signo, se
aprofundando nos estudos empíricos, de modo a saber como o uso de instrumentos e
signos estão ligados. Assim, ele usa “o termo função psicológica superior, ou compor-
tamento superior com referência à combinação entre o instrumento e o signo na
atividade psicológica” (VIGOTSKI, 2007, p. 55). Posteriormente, ele descreve as fases
operacionais que os indivíduos apresentam ao longo de seu desenvolvimento físico e
cognitivo.