
1198 ESPAÇO PEDAGÓGICO
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Eldon Henrique Mühl
v. 28, n. 3, Passo Fundo, p. 1197-1199, maio/ago. 2021 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
Após seu retorno do exílio, que se deu entre 1964 e 1979, participou intensa-
mente no debate sobre a educação brasileira, mas, ao contrário do que seus críticos
dizem, nunca conseguiu implementar nem servir de referência a um projeto de
educação nacional sustentado em suas ideias pedagógicas e políticas. Algumas ini-
ciativas pontuais foram ou estão sendo realizadas por algumas escolas e por alguns
municípios, mas nunca chegaram a extrapolar fronteiras locais.
Em alguns meios, Paulo Freire é responsabilizado pelas limitações que a
educação brasileira apresenta. No entanto, tratam-se de reações decorrentes de
preconceitos e distorções teóricas, sustentadas em visões elitistas sobre educação
e teorias educacionais e que expressam uma visão obscurantista daqueles que pre-
tendem desqualificar toda a manifestação que se apresenta como problematizado-
ra das concepções autoritárias que possuem. Atacam sua obra e questionam seus
títulos e o reconhecimento que teve em muitos países e instituições, alimentando
o ódio e o desprezo à sua luta por liberdade, democracia e justiça social. Podemos
imaginar, diante desse quadro, que, se vivo fosse, ele estaria sofrendo intensamen-
te diante da sofisticação dos modernos meios de opressão e com a crescente malda-
de presente na crítica dos opressores. Entretanto, não ficaria calado e se ocuparia
de mobilizar os oprimidos na luta contra os opressores, buscando pela educação o
fortalecimento da resistência e da luta pela emancipação. O que menos o ocuparia
seria, certamente, a defesa dos seus títulos e de suas comendas.
Uma das preocupações mais importantes da pedagogia de Freire é a formação
de professores e de educadores populares. Tal formação implica na capacidade de
voltar-se para a especificidade cultural de cada indivíduo, de cada grupo e de cada
povo. A compreensão da realidade vivenciada e do universo em que cada educando
se encontra é imprescindível para a formação de novos educadores. Os professores
não são meros técnicos e administradores de um sistema ou de um conjunto de sa-
beres, mas mediadores entre a cultura de cada povo e a cultura humana universal.
Tal mediação não pode ser a imposição de uma cultura sobre outra, a dominação
dos saberes de uns sobre os saberes de outros, mas uma síntese cultural. Todos são
produtores de saberes que precisam ser valorizados no diálogo com os saberes de
outros povos, de outras culturas, de outros indivíduos.
A escola que Freire propõe é a de ser um círculo de cultura, um círculo de
investigação e de formação de indivíduos, de grupos, do povo em luta pela emanci-
pação. É uma escola de práticas concretas sobre o mundo real em que os indivíduos
vivem. A escola deve ser um espaço e tempo de pensar coletivo, de fazer participa-