
Marco Antonio Moreira, Cleci Teresinha Werner da Rosa
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v. 29, n. 2, Passo Fundo, p. 728-735, maio/ago. 2022 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
Essa é uma pergunta muito importante e o maior desafio que temos é acabar com
esse ensino para a testagem. Isso distorce e não é educação! Os alunos são treinados
para as provas e fazem duas ou três provas por semana pelo menos, mas o importante
é fazer prova, dar a resposta correta, depois o importante é passar no ENEM, por exem-
plo. Então um país inteiro, do nosso tamanho, com tanta diversidade, acaba por ser
submisso de uma prova nacional, o que não concordo. Isso é também socialmente in-
justo, pois os que passam são os das melhores escolas, que melhor treinam para as
provas, e os professores são obrigados a seguir esse modelo. Por mais que os professores
acreditem sobre a importância da participação dos alunos, da empatia, da Aprendiza-
gem Significativa, são cobrados para preparar os alunos para as provas, o que,
mundialmente, é conhecido pelo termo “teaching for testing”. Isso está distorcendo a
educação! Eu não concordo com nada disso e os professores são desvalorizados, sendo
obrigados a seguir esta lei, essa regra de preparar os alunos para as provas, particular-
mente para a prova do ENEM, do Pisa, outras provas nacionais e internacionais.
REP — Para finalizar, gostaríamos que o senhor falasse um pouco sobre a importân-
cia da formação continuada dos professores e como isso pode se tornar uma realidade
frente a um modelo que concilia a formação e a atuação profissional, como é o caso
dos programas profissionais.
Eu acho que a formação continuada é fundamental e ela tem que ser pratica-
mente permanente, porque é impossível um professor aprender tudo em um curso de
4 anos de curso. Algumas vezes esses cursos são frágeis, então temos alunos que saem
de algum curso de Física sem saber Física ou mesmo achando que as estratégias de
ensino são aulas teóricas e resolução de problemas. Esse professor quando vai para es-
cola e ouve falar sobre Aprendizagem Significativa, uso das TICs, pode se questionar e
querer aprender mais, fazer um mestrado, por exemplo. Então, ele pode se questionar:
“que mestrado vou fazer?”. Agora chegamos nessa possiblidade de oferecer um mes-
trado profissional, voltado para a profissão, para a sala de aula e um mestrado que
respeita o professor, pois é focado nele. Claro que acho os mestrados e doutorados
acadêmicos importantes, mas são focados na pesquisa básica, e ela é importante. Então
ao invés de ficar brigando, devíamos colaborar e ver como podemos transferir essa pes-
quisa básica para a sala de aula, porque nós temos 50 ou 60 anos de pesquisa e o impacto
na sala de aula é quase nenhum, e isso é mundial, não é só no Brasil.
Então vejo um grande potencial nos mestrados profissionais, mas é claro que têm
que dar atenção aos conteúdos também. Não tenho vergonha de dizer que sou “con-
teudista”, pois ensinar sem saber conteúdo é uma farsa. Nossos mestrados e doutorados