
Hans Carrillo Guach, Andréa Vettorassi
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v. 29, n. 3, Passo Fundo, p. 921-943, set./dez. 2022 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
feito no âmbito presencial –, fazendo com que o conteúdo transmitido passasse a ter
mais importância nas cobranças acadêmicas, em detrimento das posturas, atitudes e
destrezas discursivas. Os métodos didáticos mais comuns para materializar as cobranças
foram as avaliações através de resenhas de textos e debates coletivos.
Levando em consideração que o campo acadêmico se caracteriza pela valorização
de habitus que dizem respeito à valorização de volumes significativos de capitais cultu-
rais incorporados (Bourdieu, 1989), aparentemente, a experiência do ERE, em
conjunto com os elementos anteriormente mencionados, influenciou a flexibilização
de exigências acadêmicas que derivam desta valorização. Os/as docentes – diferente-
mente do que era comumente feito no âmbito presencial –, sentiram-se mais
inclinados/as a que o conteúdo escolar passasse a ser transmitido priorizando maior
empatia com as limitações e dificuldades dos/as discentes (transversalizadas por seu ha-
bitus), diminuindo, assim, as preocupações por cobranças de posturas, atitudes e
destrezas discursivas, conforme críticas realizadas por Bourdieu (1998) sobre institui-
ções escolares e as relações de poder que as constituem.
Por outro lado, o cansaço psicológico resultante das situações anteriormente re-
latadas também repercutiu no desenvolvimento dos processos de ensino, no sentido de
limitar a produção de distinções hierárquicas entre discentes por parte de docentes.
Estes últimos se sentiram mais sensíveis diante dos grandes esforços que teriam que
fazer os estudantes para cumprir com as tarefas acadêmicas, porque para eles/as também
era desafiador lidar com as novas dinâmicas impostas pelo isolamento social e pelo
ERE. Desta forma, o habitus dominante que permeia a UFG enquanto instituição de
ensino superior não foi tão estritamente exigido. Um exemplo desses argumentos, que
demonstram alguns dos impactos que o ERE tem tido, por exemplo, na transmissão
de conhecimentos, são as seguintes expressões referentes ao compartilhamento de ex-
periências que tivemos com outros docentes da UFG:
Não tenho coragem para exigir de meus estudantes aquilo que nem para mim está sendo
fácil fazer, como: escrever um artigo como trabalho final, exigir uma resenha de texto toda
semana ou orientar leituras sistemáticas que sejam longas e densas. Se eu fizer isso, sinto
que estaria contribuindo para uma existência acadêmica mais tediosa dos discentes, com
possibilidades de maiores impactos negativos em grupos de estudantes vulneráveis do
ponto de vista socioeconômico e da saúde.
A forma como o cansaço psicológico influenciou os processos de ensino não se
sustenta somente através da figura dos/as docentes e suas atitudes de flexibilização nas
exigências. Os/as estudantes também se sentiram afetados/as, limitando suas disposi-
ções para lidar com os conteúdos ministrados em sala de aula, independentemente de