
Telmo Marcon, Ivan Penteado Dourado, Luciane Spanhol Bordignon
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v. 29, n. 3, Passo Fundo, p. 793-816, set./dez. 2022 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
encontram para, em base de igualdade, reconhecer e respeitar as diferenças. É nesse ir e vir de
conhecimento comum, de aprendizado das regras do jogo, da consciência da igualdade e do
reconhecimento do outro como igual e diferente que se efetiva a ‘dignidade da pessoa humana’,
princípio de nossa Constituição.
Cury (2019) salienta, ainda, que a homeschooling, em que pese sua crítica a as-
pectos existentes na escola, essa crítica deve ser um alerta para os gestores empenharem-
se na solução de problemas e na defesa da liberdade civil, correndo o risco de, perigo-
samente, escorregar para um isolamento, um fechamento para o outro, dentro da
família, reduzindo o campo de compartilhamento convivial e de transmissores não li-
cenciados. A escola praticamente tornou-se o último bastião institucional de uma
convergência entre o “todos” e o “comum”. A escola, ainda segundo Cury (2019), tem
uma institucionalidade permanente, sistemática, sistêmica, ao exigir a presença do edu-
cando pelo menos cinco dias da semana. Além da presença do educando, há o docente,
o profissional preparado para articular o processo de ensino e aprendizagem.
Arendt (2016) define o papel do educador e, consequentemente, da escola
nessa tensa e aparente (apenas aparente) ambiguidade que compreende o que a autora
chama de “caráter conservador da Educação”: o educador está aqui em relação ao jovem
como representante de um mundo pelo qual deve assumir a responsabilidade. Essa res-
ponsabilidade não é imposta arbitrariamente aos educadores; ela está implícita no fato
de que os jovens são introduzidos por adultos em um mundo em contínua mudança.
A qualificação do professor consiste em “conhecer o mundo e ser capaz de ins-
truir os outros acerca deste, porém, sua autoridade assenta-se na responsabilidade que
ele assume por este mundo. Face à criança, é como se ele fosse um representante de
todos os habitantes adultos, apontando os detalhes e dizendo à criança: “isso é o nosso
mundo” (ARENDT, 2016, p. 239). A ambiguidade da dimensão conservadora da
Educação é apenas aparente porque o mundo que se quer preservar é o mundo en-
quanto espaço público e, portanto, marcado pelas inúmeras manifestações de
humanidade. Isso significa afirmar que, ao apresentar o mundo, não se apresenta ape-
nas uma perspectiva (ou a perspectiva hegemônica) do que é o mundo, mas seus
conflitos, seus projetos, suas utopias e seus problemas (SAVATER, 1998). Trata-se da
conservação do mundo, não das coisas como elas estão dispostas no mundo. Assim
sendo, do próprio mundo como um lugar dinâmico, como o lugar da pluralidade, ha-
bitado pelos homens e pelas mulheres no plural (ARENDT, 2016), e que, por isso,
precisa, constantemente, ser renovado e, mesmo, transformado, para oferecer aos que
estão por vir as condições favoráveis à natalidade, que, para Arendt, significa o ingresso
do novo.