
Fernando Augusto Treptow Brod, Valesca de Matos Duarte
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v. 29, n. 2, Passo Fundo, p. 633-658, maio/ago. 2022 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
não há contradição entre o individual e o social, porque são mutuamente gerativos”
(MATURANA; VARELA, 1997, p. 43).
Um trabalho interdisciplinar promove a integração de planejamentos e metodo-
logias que assegure a abertura do diálogo, diversas visões, problematizações e
articulações abrangentes de temáticas relevantes presentes no cotidiano escolar. Con-
tudo, reafirmamos, em grande parte das escolas, encontramos um currículo isolado e
compartimentado, docentes presos a uma listagem de conteúdos e por muitas vezes
acomodados à prática metodológica da transmissão do conhecimento. Esses fatores,
provavelmente, são os geradores da não efetivação da interdisciplinaridade, pois na prá-
tica não estamos acostumados a conceber o todo em uma visão coletiva, integrada e
contextualizada, voltada a uma reflexão e ação que realize conexões entre as partes e o
todo.
A visão limitada da maioria dos professores, relativa ao conhecimento como algo restrito ao seu
campo de domínio – ou, mesmo, a carência de saberes do que lhe é externo – tem acarretado
prejuízos ao processo de aprendizagem. Tal processo disciplinar, muitas vezes, traz consigo a ideia
de que cada fenômeno estudado acontece de forma isolada, despersonalizada, descontextualizada
e, não raras vezes, atemporal. Com isso, acaba-se esquecendo de que os problemas postos no
cotidiano são de natureza interdisciplinar e, logo, não podem remeter a uma única área de co-
nhecimento (ROSA, 2015, p. 57).
Por consequência, o trabalho interdisciplinar é, em especial, orientado a docentes
abertos à conversação, à reciprocidade, à aceitação do outro como legítimo outro, à
amorosidade, (MATURANA; VERDEN-ZÖLLER, 2004), a variadas metodologias, à
análise do todo, a diferentes saberes. Profissionais dispostos à troca de conhecimentos,
gerando a própria aprendizagem e dos discentes com os quais convive, oportunizando
os princípios da formação integral e do protagonismo. Segundo Cristiano Buss,
A formação do professor interdisciplinar procuraria dar ao docente a capacidade de atuar em uma
atitude pedagógica interdisciplinar, em conjunto com seus pares, numa prática que esteja estabe-
lecida na colaboração, na comunicação e na troca de saberes e experiências entre os professores e
entre professores e alunos. Uma vez que a interdisciplinaridade indica ação, o professor formado
com tal concepção assumiria a intencionalidade de ser investigativo, reflexivo e comunicativo em
sua atitude pedagógica. Iria trabalhar não na transmissão do conhecimento, mas na construção
desse conhecimento e nas suas possíveis inter-relações, sendo o professor o mediador e, ao mesmo
tempo, o sujeito da própria aprendizagem (BUSS, 2016, p. 75).
Em Fazenda (2007) percebemos que a construção da interdisciplinaridade está
imbricada a um docente que apresente uma postura inovadora em relação ao processo
de ensino e aprendizagem, deixando de lado a comodidade do trabalho disciplinar. No