ESPAÇO
PEDAGÓGICO
RESENHA
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Metodologias ativas para uma educão inovadora: uma abordagem teórico-prática
v. 28, n. 2, Passo Fundo, p. 834-839, maio/ago. 2021 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
Metodologias ativas para uma educação inovadora:
uma abordagem teórico-prática
Adriana Aparecida de Lima Terçariol*
Romeu Afecto**
As práticas pedagógicas aplicadas por docentes por meio de novas metodolo-
gias de ensino e aprendizagem, consideradas como inovadoras e definidas como
“ativas”, compõem o tema central do livro Metodologias ativas para uma educação
inovadora: uma abordagem teórico-prática, organizado pela professora Dra. Lilian
Bacich e pelo professor Dr. José Moran. A obra é composta de uma coletânea de
textos escritos por diversos autores que descrevem abordagens metodológicas teó-
rico-práticas aplicadas em sala de aula e promovem reflexões sobre a formação de
professores.
A expansão das tecnologias da informação e comunicação (TICs), neste início
do século XXI, gerou mudanças na sociedade, que vêm criando uma dissolução en-
tre espaço virtual e espaço físico e são responsáveis pela criação de uma nova cultu-
ra, chamada cultura digital, e uma multiplicidade de letramento (ROJO; MOURA,
2012). Isso cria uma divisão na educação, tendo-se a educação formal e a informal.
A diferença principal é que a informal não conta com a participação do professor e
nem com certificado.
Segundo Moran, surge a necessidade da criação de uma nova escola, que
requer professores habilitados com abordagens pedagógicas para as quais não es-
tão sendo preparados. É preciso reinventar a educação, analisando os riscos e as
contribuições resultantes da interação com a cultura digital, justificando-se, desse
modo, a argumentação que incide sobre abordagens e experiências metodológicas
ativas.
* Doutora em Educação e Currículo pela PUC-SP. Mestre e Pedagoga pela Unesp, SP. Docente no Curso de Pedagogia,
no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) e no mestrado em Gestão e Práticas Educacionais (Progepe) na
Universidade Nove de Julho (Uninove), SP. Líder do Grupo de Pesquisa em Educação, Tecnologias e Cultura Digital
(GRUPETeC) – CNPq/Uninove. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-5824-2294. E-mail: atercariol@gmail.com
** Professor, licenciado em Pedagogia pelo Centro Estadual de Educação e Tecnologia Paula Souza (CEETEPS) e mestre
no Programa de Mestrado em Gestão e Práticas Educacionais (Progepe) da Universidade Nove de Julho (Uninove).
Orcid: https://orcid.org/0000-0001-8784-1192. E-mail: romeu.afecto@etec.sp.gov.br
Recebida em: 24/12/2018 – Aprovada em: 02/08/2021
http://dx.doi.org/10.5335/rep.v28i2.9002
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Metodologia ativa, de acordo com a autora do texto de apresentação da obra,
Maria Elizabeth Bianconcini, é caracterizada pela “inter-relação entre educação,
cultura, sociedade, política e escola, sendo desenvolvida por meios ativos e cria-
tivos” (2018, p. xi). Assim, com base nessa afirmação, identificamos muitos mé-
todos ativos abordados na obra: problematização, sala de aula invertida, sala de
aula compartilhada, aprendizagem por projetos, ensino híbrido e design thinking.
Portanto, entendemos que o pensamento da escola nova, explorado por Moran, é
condizente com as ideias de Freire (1996) sobre educação dialógica, participativa e
conscientizadora, em suas palavras: “[...] não apenas para nos adaptarmos à reali-
dade, mas, sobretudo, para transformar, para nela intervir, recriando-a [...]” (1996,
p. 28).
A obra é dividida em duas partes: a parte I compreende os capítulos 1 a 6, que
apresentam experiências realizadas em sala de aula; a parte II abarca os capítulos
7 a 10, os quais se baseiam na formação continuada de professores. Na primeira
parte, “Metodologias ativas para uma aprendizagem mais profunda”, Moran faz
uma breve introdução sobre aprendizagem ativa, passando pelo conceito de apren-
dizagem e pelos tipos de aprendizagem. O autor define que toda aprendizagem é
ativa em algum grau, porque exige, do aprendiz e do docente, formas diferentes
de movimentações interna e externa. A obra procura enfatizar que a participação
do professor deve ser a de um mediador ou orientador, e que o aluno constrói seu
próprio conhecimento pela sua iniciativa; portanto, ele é o responsável por esse
conhecimento.
Na introdução, Moran destaca que a obra discutirá: a flexibilidade do modelo
de aprendizagem híbrido, definido como mistura e compartilhamento de espaços,
tempo e atividades; a aprendizagem personalizada, definida como uma aprendi-
zagem voltada às necessidades do aluno; a aprendizagem personalizada a partir
do projeto de vida, definida por associar o interesse do aluno aos seus talentos; a
aprendizagem compartilhada, definida como encontro de pessoas com objetivos de
aprendizagem em comum; a aprendizagem por tutoria, em que o professor torna-se
gestor. O autor enfatiza que, “sozinhos, podemos aprender a avançar bastante,
compartilhando, podemos conseguir chegar mais longe e, se contarmos com tutoria
de pessoas mais experientes, podemos alcançar horizontes inimagináveis” (2018,
p. 08).
Moran relata as contribuições das tecnologias digitais para a aprendizagem
ativa, apoiado pelos conceitos de Almeida e Valente sobre tecnologia, e menciona
algumas técnicas para aprendizagem ativa: a sala de aula invertida, em que o
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aluno pesquisa e traz os resultados para discussão em sala; a aprendizagem ba-
seada em investigação e em problema, em que é proposto um problema e o aluno
pesquisa, organiza e administra recursos com a mediação do professor; a aprendi-
zagem baseada em projeto, em que o autor explica os tipos de projeto (construtivo,
investigativo e explicativo), as atividades do projeto (motivacional e contextual,
brainstorming, organização, registro e reflexão, de melhoria de ideias, produção e
apresentação ou publicação), os diferentes níveis de projeto (disciplinar, interdisci-
plinar e transdisciplinar), e termina falando da aprendizagem por jogos e histórias,
que é uma modalidade na qual o aluno aprende se divertindo.
No primeiro capítulo, “A sala de aula invertida e a possibilidade do ensino
personalizado: uma experiência com a graduação em midialogia”, José Armando
Valente faz um breve resgate sobre a importância das tecnologias digitais e das
novas abordagens pedagógicas, definindo as metodologias ativas como: práticas
pedagógicas alternativas ao ensino tradicional. No decorrer do texto, o leitor tem a
oportunidade de conhecer um pouco mais sobre sala de aula invertida e aprendiza-
gem personalizada e sobre como essas abordagens foram utilizadas em um estudo
de caso em um curso de comunicação social ministrado na Universidade Estadual
de Campinas (Unicamp).
No segundo capítulo, “O leitor como protagonista: reflexões sobre metodolo-
gias ativas nas aulas de literatura”, Marcelo Ganzela relata avanços pedagógicos
ocorridos no curso de licenciatura de Letras com o uso de tecnologias, faz questio-
namentos quanto ao currículo do curso, criticando que, em um primeiro momento,
a tecnologia utilizada se resumiu à apresentação de slides, mas que encontrou nas
reflexões de ensino híbrido contribuições para o processo de aprendizagem; em um
segundo momento, com o uso de ferramentas como Moodle e Skype, ocorreram
transformações e novas possibilidades, que resultaram em experiências positivas.
No terceiro capítulo, “Sala de aula compartilhada na licenciatura em Matemá-
tica: relato de prática”, Marta de Oliveira Gonçalves e Valdir Silva destacam o im-
pacto do avanço da tecnologia no mundo, em que o aluno não pode ser considerado
como alguém que não sabe nada, mas como alguém que, em qualquer momento e a
qualquer tempo, pode pesquisar o assunto que desejar, que o professor deve mudar
de detentor do conhecimento para mediador. Os autores demonstram como aplica-
ram a sala de aula compartilhada com alunos de três semestres compartilhando
o mesmo espaço, assistidos por dois professores de cursos diferentes, e também
trazem depoimentos dos professores e do coordenador, falando da importância das
plataformas digitais e da aula invertida no processo.
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No quarto capítulo, “Procedimentos metodológicos nas salas de aula do curso
de Pedagogia: experiências de ensino híbrido”, Ivaneide Dantas da Silva e Eli-
zabeth dos Reis Sanada afirmam que os professores não estão sendo preparados
para o novo cenário educacional. São feitas considerações sobre o ensino híbrido e
a sala de aula invertida em um curso de Pedagogia usando as ferramentas Moodle
e Google Docs.
No quinto capitulo, “Mediação e educação na atualidade: um diálogo com for-
madores de professores”, Jordana Thadei segue a mesma linha do capítulo ante-
rior. A autora defende que o papel do professor como transmissor de conhecimento,
no processo educacional, deu lugar para o professor mediador. A autora afirma que
o docente deve vivenciar a mediação por meio de práticas e relata a construção
desse processo junto aos alunos de um curso de Letras.
No sexto capítulo, “Construção de jogos e uso de realidade aumentada em
espaços de criação digital na educação básica”, Helena Andrade Mendonça faz uma
reflexão sobre o uso de tecnologias digitais na escola. A autora expõe ações feitas
com vários tipos de softwares para criação de jogos, explorando recursos digitais
nos cursos extracurriculares de uma escola de ensino fundamental, e demonstra,
por meio da narrativa dos alunos, experiências positivas de multiletramento, con-
ceito explicado no texto, e de práticas positivas inovadoras.
A parte II é composta de quatro capítulos. Na introdução, “Formação conti-
nuada de professores para o uso de metodologias ativas”, Lilian Bacich apresenta
uma reflexão sobre os professores que aderiram à tecnologia e continuam com as
mesmas práticas adaptadas aos novos recursos. Nas palavras da autora, a mu-
dança efetiva das práticas educativas só ocorre com um movimento gradativo em
etapas, até se alcançar a integração entre tecnologia e novas metodologias. Para a
autora, no processo educacional, o aluno deve ser o centro do aprendizado.
No sétimo capítulo, primeiro da segunda parte, “Design thinking na formação
de professores: novos olhares para os desafios da educação”, Julciane Rocha faz
uma breve introdução sobre a metodologia do design thinking, partindo do contexto
histórico, com o objetivo de explicar ao leitor todo o processo do design thinking no
contexto educacional e suas possíveis aplicações.
No oitavo capítulo, “O professor autor e experiências significativas na educa-
ção do século XXI: estratégias ativas baseadas na metodologia de contextualiza-
ção da aprendizagem”, Julia Pinheiro Andrade e Juliana Sartori, após uma breve
introdução sobre como as tecnologias digitais exercem uma influência nos jovens
e adultos nas grandes cidades e um questionamento em relação à formação de
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professores e à escola que ensina conhecimentos ou competências, abordam o con-
ceito de metodologia de contextualização da aprendizagem (MCA), que desenvolve
o engajamento e a formação de professores autores por meio da aprendizagem sig-
nificativa.
No nono capítulo, “Desenvolvimento do currículo STEAM no ensino médio:
a formação de professores em movimento”, Mariana Lorenzin, Cristiana Mattos
Assumpção e Alessandra Bizerra, seguindo a mesma linha do capítulo anterior, re-
fletem sobre a formação de professores, abordam a interdisciplinaridade, a apren-
dizagem baseada em projetos e a reorganização do currículo, citando como exemplo
o currículo STEAM como caminho para capacitação profissional e uma mudança
na prática docente.
No décimo capítulo, “Metodologias ativas de aprendizagem: elaboração de ro-
teiros de estudos em ‘salas sem paredes’”, Célia Maria Piva Cabral Senna, Sarah
Papa de Morais, Daniela Zaneratto Rosa e Amélia Arrabal Fernandez refletem
sobre a educação do passado e a educação atual, a globalização e o aprendizado
através da convivência, o processo de avaliação, a elaboração de roteiros de es-
tudos, as metodologias ativas e a quebra das paredes das salas de aula para um
ensino colaborativo. As autoras apresentam um relato de uma escola pública da
zona leste da cidade de São Paulo que utiliza essa metodologia.
O livro apresenta possibilidades para os leitores que desejam utilizar metodo-
logias ativas nos processos de ensino e aprendizagem e, para os que não conhecem
tais metodologias, são apresentados fundamentos importantes, mas o que mais
chama a atenção na obra são as ferramentas digitais utilizadas nos casos apresen-
tados nos capítulos, que servem como referência para futuras práticas docentes.
Nesse sentido, a obra cumpre seu objetivo, que é a construção de conhecimento
sobre metodologias ativas e suas possibilidades para inovar o processo educacional.
Referências
BACICH, Lilian; MORAN, José (org). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma
abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. 238 p.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 27. ed. São Pau-
lo: Paz e Terra, 1996.
ROJO, Roxane; MOURA, Eduardo (org.). Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola,
2012.