
Educação ambiental e justiça social: reexões em tempos de solidão democrática
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v. 26, n. 3, Passo Fundo, p. 701-718, set./dez. 2019 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
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ESPAÇO PEDAGÓGICO
A EA traz as condições de possibilidade necessárias para que se promova esse
espaço, até porque a EA é também, na perspectiva proposta, uma educação popu-
lar, uma vez que ela “deve ser libertadora, incentivar o lado crítico e dialógico para
que todos tenham as mesmas oportunidades e acesso às informações” (PEREIRA;
ALVARENGA; MARQUES, 2003, p. 191). Assim, para que se possa compreender a
EA como esse espaço dialógico e crítico, é preciso também pensá-la na perspectiva
da dignidade e dos direitos fundamentais.
No entanto, no Brasil, parece que o debate político da EA ainda não atingiu
a expressão necessária, uma vez que se tem a impressão da ideia generalizada de
que a EA se preocupa em promover uma mudança de comportamento individualis-
ta, como é o caso da reciclagem ou do controle do uso de água domiciliar, que são
práticas não menos importantes, mas de reduzido poder emancipatório, uma vez
que não realizam a transformação no conhecimento e na atuação social.
Por essa razão, parte-se, neste artigo, da concepção de uma EA emancipatória,
como “instância formativa de sujeitos sociais, isto é, autores da própria história”
(CARVALHO, I., 2011, p. 156). É uma educação voltada para colaborar com o sujeito,
a fim de que reflita, criticamente, sobre as questões socioambientais e, assim, atue
sobre elas. Propõe-se, portanto, pensar a EA em uma perspectiva crítica, que é a “de
incluir uma dimensão social na questão ambiental que confere um posicionamento
político, frente aos dilemas que a humanidade sofre” (DIAS, 2015, p. 125). Trata-se,
assim, de um processo sociopolítico, cultural e pedagógico, voltado à cidadania.
Em outra perspectiva, pode-se dizer que o que se pretende é revigorar o sen-
tido do ser a partir de uma ontologia hermenêutica na EA, retomando outros sen-
tidos colonizados pela racionalidade instrumental (PEREIRA, 2016). Isso significa
que, para além de um espaço/processo permanente para compreender e interpretar
o mundo, a EA se apresenta também como um modo de ser. Assim, “a EA deve estar
relacionada não somente com a reconstrução social para aliviar a exploração dos
recursos naturais, mas também para evitar as injustiças sociais no processo dessa
reconstrução” (SATO, 1997, p. 30).
No entanto, entende-se, nesta perspectiva, que a cidadania é meio – e não
meta –, a ser construída a partir do processo de EA. Jacobi (2006, p. 431) comenta
que, quando se pensa a EA voltada ao exercício da cidadania, o que se pretende é a
consolidação de sujeitos cidadãos, isto é,
O desafio do fortalecimento da cidadania para a população como um todo, e não para um
grupo restrito, se concretiza a partir da possibilidade de cada pessoa ser portadora de direi-
tos e deveres e se converter em ator co-responsável na defesa da qualidade de vida.