
Claudionei Vicente Cassol
614
ESPAÇO PEDAGÓGICO
v. 26, n. 2, Passo Fundo, p. 612-615, maio/ago. 2019 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
Este artigo está licenciado com a licença: Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
mações, de alguma forma, tornando-as, seguidamente, absolutas/deterministas, o
que pode se constituir risco, porque inviabiliza alternativas que, inclusive, teriam
a potencialidade/viabilidade a partir do próprio indivíduo. Então, apresentam-se
contraditórias no conjunto das compreensões de Singly, inclusive porque é ele pró-
prio quem escreve: “A identidade fluida é necessariamente multidimensional”. O
modo como Singly compreende a individualidade, a subjetividade, denominando-
-a de “individualismo”, talvez aponte para uma radicalidade não condizente com
uma possibilidade paradigmática da atualidade/contemporaneidade, expressa pela
ambivalência/plurivalência, ou que tenha consciência das várias vias possíveis,
nunca únicas, de realização do “convívio”. Contudo, essas questões não invalidam
a hermenêutica, a filosofia social e a análise do indivíduo na relação com a socie-
dade/comunidade que eleva o debate desenvolvido na obra à condição de raridade,
especialmente porque, na contracorrente das tematizações/compreensões pós-mo-
dernas/contemporâneas, Singly visualiza a possibilidade de construção de laços so-
ciais e das suas manutenções, a partir do “individualismo”. É no viver as prerroga-
tivas/as demandas/as escolhas, com autonomia, e na busca pela satisfação de seus
desejos, realizando a sua vontade ontológica, que o indivíduo/o sujeito reconhece a
necessidade do outro. Por isso busca em Anthony Giddens o conceito de “segurança
ontológica”, para justificar que ainda paira, nos indivíduos individualizados, o de-
sejo de estar-com/de convívio.
Ao escrever que “o reconhecimento da alteridade é o horizonte da democracia
avançada, desde que não se perca de vista o reconhecimento da igualdade”, Singly
indica a necessidade de manutenção de alguma regulação, tanto no âmbito priva-
do/pessoal quanto na dimensão do coletivo/social, para assegurar proteção, aten-
ção personalizada, respeito mútuo e igualdade de oportunidades. Essas atitudes
formam, ou deveriam formar, o quadro da educação e da vida comum no seio de
uma sociedade democrática, porque preservam a dignidade humana. Se a educa-
ção opera no sentido da viabilização do respeito à diversidade, à individualidade
e à dignidade humana, lança, dessa ação/dessa práxis, as cepas da diversidade e
indica o diálogo como caminhos possíveis da solidariedade/dos laços sociais. A obra
indica que a “crise” do elo social é uma característica das sociedades modernas, não
um defeito do modelo; é constitutiva do modelo. Quanto ao indivíduo e à sociedade/
comunidade, Singly enfatiza: “[...] o indivíduo não se realiza apenas na discussão,
tem também necessidade de outra forma de relação com os outros para descobrir
a sua originalidade, a sua autenticidade, a sua interioridade”. Nesse sentido, “[...]