
Ênio Freire de Paula
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v. 26, n. 3, Passo Fundo, p. 936-940, set./dez. 2019 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
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ESPAÇO PEDAGÓGICO
caráter acidental de algumas descobertas científicas – a serendipidade –, a realiza-
ção de experimentos públicos e a visão estereotipada do cientista são problematiza-
dos. Ao tratar especificamente da visão pública do cientista, destaca-se o machismo,
tão presente no decorrer da História da Ciência (colocando o homem como cientista
e a mulher como responsável pelo cuidado com os afazeres domésticos e a culinária),
e também a praticamente substituição da iconografia religiosa para a iconografia do
cientista, na qual o desinteresse pelos anseios e frivolidades humanos é visto como
uma prerrogativa para forjá-la: “É uma iconografia que enfatiza o caráter intelec
-
tual e desencarnado do homem de ciência, o seu distanciamento das necessidades
materiais e até mesmo da dimensão corpórea” (BUCCHI, 2015, p. 66).
Dentre as seções que integram o segundo capítulo e o seguinte, “Bebidas à par-
te – cerveja, vinho, café, chá, chocolate e... controvérsias à vontade”, aprofundam-
-se as discussões no sentido de evidenciar o (des)cuidado (da mídia, dos cientistas e
governantes) nas tentativas de elucidar/comunicar os avanços da Ciência. O autor
discute e problematiza a percepção pública de ciência, assunto intrinsicamente
associado à divulgação científica enquanto campo de investigação. No Brasil, a
esse respeito, podemos destacar os trabalhos de Vogt (2006), Massarani (2002)
Massarani, Moreira e Brito (2002), Werthein e Cunha (2009) e Munhoz, Hattge e
Zanotelli (2013). Em todos eles, o cerne das reflexões envolve analisar, discutir e
principalmente fomentar ações e processos que envolvam a divulgação da ciência
e da tecnologia ao grande público, em espaços formais e não formais. Como afirma
Sánchez Mora (2003, p. 9): “O problema da divulgação da ciência é de grande com-
plexidade. Enfrentá-lo é tão difícil quanto visar um alvo em movimento”. A própria
nomenclatura do termo (divulgação – popularização – alfabetização – comunicação
– científica) é alvo de discussão (SASSERON, CARVALHO, 2011).
Como se espera de uma boa refeição, após Entrada, seguida de primeiro prato
(primeiro capítulo), do Segundo prato (segundo capítulo) e das Bebidas à parte
(terceiro capítulo), temos a sobremesa como quarto capítulo: “Sobremesa sabor de
ciência (e de sociedade) – de Brillat-Savarin à gastronomia molecular, passando
pela culinária futurista”. Um histórico desde o tempo em que a Gastronomia se es-
forçava para reivindicar espaço enquanto área científica até sua íntima e presente
relação com a Química, na produção/desenvolvimento de novos produtos, pratos
e receitas, antes impensáveis, é o centro das discussões. A culinária futurista, da
qual a gastronomia molecular é uma representante, os experimentos e as receitas
secretas (de chocolate, por exemplo) destacam as peculiaridades que associam ciên-
cia e culinária.