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ESPAÇO PEDAGÓGICO
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O ensino como atividade mediadora no processo de apropriação de conceitos
v. 28, n. 3, Passo Fundo, p. 1149-1172, set./dez. 2021 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
[...] a formação de conceitos é um processo criativo, e não um processo mecânico e passivo;
que um conceito surge e se configura no curso de uma operação complexa, voltada para a
solução de algum problema; e que só a presença de condições externas favoráveis a uma
ligação mecânica entre a palavra e o objeto não é suficiente para a criação de um conceito.
[...], o fator decisivo para a formação de conceitos é a chamada tendência determinante
(VIGOTSKI, 2008, p. 67-68).
Esse processo, definido como criativo, acontece via educação escolar, promovi-
da pela atividade de ensino, a qual envolve relações entre sujeitos, mediadas por
instrumentos e signos, dentre os quais o conhecimento historicamente produzido.
Para Vygotsky (2010, p. 247):
A experiência pedagógica nos ensina que o ensino direto de conceitos sempre se mostra
impossível e pedagogicamente estéril. O professor que envereda por esse caminho costuma
não conseguir senão uma assimilação vazia de palavras, um verbalismo puro e simples que
estimula e imita a existência dos respectivos conceitos na criança, mas, na prática, esconde
o vazio. Em tais casos, a criança não assimila o conceito, mas a palavra, capta mais de
memória que de pensamento e sente-se impotente diante de qualquer tentativa de emprego
consciente do conhecimento assimilado.
Tais conclusões contrapõem o ensino conduzido pela predominante, senão ex-
clusiva, maneira de conduzir o ensino e o estudo, cuja aprendizagem se dá pelo viés
de ações de decorar palavras sem a devida estruturação de uma rede conceitual.
Nas ciências exatas, por exemplo, é possível verificar entendimentos com defini-
ções conceituais pela linguagem matemática como predominante e até mesmo sufi-
ciente, conforme Paty (1995, p. 234), ao descrever que a “Matemática era concebida
como um conhecimento que permitia uma leitura direta da natureza [...]”. Vigotski
(2008, p. 72-73), em seus estudos, dedicou significativo tempo e esforços em pes-
quisas acerca da formação dos conceitos, nos quais enaltece o quão complexa é essa
atividade, levando em conta que:
[...] o processo não pode ser reduzido à associação, à atenção, à formação de imagens, à in-
ferência ou às tendências dominantes. Todas são indispensáveis, porém insuficientes sem o
uso do signo, ou palavra, como o meio pelo qual conduzimos as nossas operações mentais,
controlamos o seu curso e as canalizamos em direção à solução do problema que enfrentamos.
Tais considerações colocam os processos de ensino e de aprendizagem no cen-
tro dos debates quando o assunto é a efetiva aprendizagem para as relações com o
mundo, ou seja, para além da reprodução de palavras e termos em momentos de
verificação do que foi aprendido ou, simplesmente, decorado. Entendemos que esse
é um processo que demanda tempo, reflexão, vivência e reelaboração. Duarte (2016,
p. 16) descreve que “as relações entre o ensino dos conteúdos escolares e a formação/
transformação da concepção de mundo são mediadas e complexas”. Desse modo,