Polifonia e acriticidade nos contos de fadas da coleção “Conta pra Mim”: um gesto político frustrado

Autores

  • Julio Cesar Machado Universidade Estadual de Minas Gerais
  • Karla Francine Freitas Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES

DOI:

https://doi.org/10.5335/rdes.v21i1.16581

Palavras-chave:

contos de fadas. Polifonia. Semântica. Conta pra mim. Literatura infantil

Resumo

este artigo objetiva analisar o Programa Conta pra Mim e seu guia de Literacia Familiar, por uma metodologia qualitativa, à luz de conceitos da Semântica Argumentativa, sobretudo polifonia (divididos em sujeito falante e locutor) e suas funções textuais (divididas em por em primeiro plano, por em segundo plano e excluir), ambos propostos por Ducrot e Carel. Nossa problematização debruça-se sobre o conceito não-científico de “literacia familiar” (oriundo de literacy) proposto nesse Programa, cujo intento foi o efeito de tentar suplantar ou silenciar estudos de respeito, como por exemplo, o apagamento do conceito de letramento (também oriundo de literacy). Nossas análises evidenciaram que o método da literacia familiar constitui-se, sobretudo, de explorar a leitura moralizante, iniciativa já abandonada há muito tempo pela comunidade de especialistas da área infanto-juvenil, literária e linguística. Nossos resultados revelam que o discurso que constitui o Programa Conta pra mim é um gesto político-linguístico autoritário e frustrado, qual seja, o de empobrecer a leitura dos contos de fadas ao tentar impor um conceito estranho, o de literacia familiar, longe do rigor de área, sem adesão da comunidade científica e alheio à tradição de investigação dos contos de fadas e da literatura infanto-juvenil. Sob a aparência cativante da “utópica célula familiar literária eficiente e afetiva”, o conceito de literacia familiar solapa saberes e métodos da área da Literatura, Linguística e Educação, dentre outros, anulando inclusive a função social escolar, e protagoniza uma espécie de método fônico vinculado à afetividade parental, cujo efeito de sentido mais notório é a promoção, via máquina pública, do empobrecimento do conceito de ler e do conceito de ler contos de fadas.

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Biografia do Autor

  • Julio Cesar Machado, Universidade Estadual de Minas Gerais

    Doutor em Estudos da Linguagem - Linguística - pela Universidade Federal de São Carlos - UFSCar, com estágio de Doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, França (bolsa internacional PDSE). Mestre em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos - UFSCar. Especialista em Linguística pela Universidade de Franca - UNIFRAN, Especialista em Gestão, Inspeção, Supervisão, Coordenação e Orientação pela Faculdade Calafiori, e Graduado em Letras pela Universidade de Franca. Professor efetivo da Universidade do Estado de Minas Gerais, no curso de Letras - Campus de Passos - UEMG. É Editor do site francês científico-linguístico Sémantique Argumentative (semanticar.hypotheses.org). Tem particular interesse nos trabalhos do Dr. Oswald Ducrot e Dra. Marion Carel, e pelo modo em que estes autores são trabalhados na França. Atua principalmente nos seguintes temas: linguagem, cultura Argumentação na Língua, enunciação, semântica, análise de discurso, ensino, letramento, técnicas de leitura, Contos de Fadas e Relações Internacionais.

  • Karla Francine Freitas, Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES

    Mestranda em Educação pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes/MG), com previsão de conclusão em 2025. Possui formação complementar em diversas áreas da Educação, incluindo: Educação Inclusiva com ênfase em Tecnologias Assistivas (2021-2022), Educação a Distância: Gestão e Tutoria (2018-2019), Alfabetização e Letramento (2016) e Orientação, Supervisão, Inspeção e Gestão em Administração Escolar (2016). É graduada em Pedagogia pelo Instituto Superior de Educação Ibituruna (2015). Entre 2017 e 2021, atuou como professora de Ensino Superior, ministrando disciplinas relacionadas à Didática, em cursos de Educação a Distância no Centro Universitário Leonardo da Vinci. Possui experiência na área de Educação, com ênfase em Métodos e Técnicas de Ensino, com atuação destacada em temas como: Orientação de TCC e Estágio, Educação de Jovens e Adultos, História e Leitura, Postura Pedagógica e Políticas Públicas Educacionais.É professora comprometida e apaixonada pela prática pedagógica, buscando sempre encorajar seus alunos a pensarem de maneira crítica, reflexiva e criativa.Atualmente, é membro do Grupo de Investigações Semânticas e Discursivas (GISD) da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), com linha de pesquisa voltada para Alfabetização, Leitura e Letramento, além de Estudos Linguísticos e Literários sobre os Contos de Fadas, com foco nos aspectos linguísticos, políticos e sociais desse gênero literário.Grupo disponível no CNPq: DGP - GISD UEMG.

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Publicado

2025-04-07

Como Citar

Polifonia e acriticidade nos contos de fadas da coleção “Conta pra Mim”: um gesto político frustrado . (2025). Revista Desenredo, 21(1). https://doi.org/10.5335/rdes.v21i1.16581