Polifonia e acriticidade nos contos de fadas da coleção “Conta pra Mim”: um gesto político frustrado
DOI:
https://doi.org/10.5335/rdes.v21i1.16581Palavras-chave:
contos de fadas. Polifonia. Semântica. Conta pra mim. Literatura infantilResumo
este artigo objetiva analisar o Programa Conta pra Mim e seu guia de Literacia Familiar, por uma metodologia qualitativa, à luz de conceitos da Semântica Argumentativa, sobretudo polifonia (divididos em sujeito falante e locutor) e suas funções textuais (divididas em por em primeiro plano, por em segundo plano e excluir), ambos propostos por Ducrot e Carel. Nossa problematização debruça-se sobre o conceito não-científico de “literacia familiar” (oriundo de literacy) proposto nesse Programa, cujo intento foi o efeito de tentar suplantar ou silenciar estudos de respeito, como por exemplo, o apagamento do conceito de letramento (também oriundo de literacy). Nossas análises evidenciaram que o método da literacia familiar constitui-se, sobretudo, de explorar a leitura moralizante, iniciativa já abandonada há muito tempo pela comunidade de especialistas da área infanto-juvenil, literária e linguística. Nossos resultados revelam que o discurso que constitui o Programa Conta pra mim é um gesto político-linguístico autoritário e frustrado, qual seja, o de empobrecer a leitura dos contos de fadas ao tentar impor um conceito estranho, o de literacia familiar, longe do rigor de área, sem adesão da comunidade científica e alheio à tradição de investigação dos contos de fadas e da literatura infanto-juvenil. Sob a aparência cativante da “utópica célula familiar literária eficiente e afetiva”, o conceito de literacia familiar solapa saberes e métodos da área da Literatura, Linguística e Educação, dentre outros, anulando inclusive a função social escolar, e protagoniza uma espécie de método fônico vinculado à afetividade parental, cujo efeito de sentido mais notório é a promoção, via máquina pública, do empobrecimento do conceito de ler e do conceito de ler contos de fadas.
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